GÊNIOS DO ESPORTE | CHARLOTTE COOPER, A PRIMEIRA MULHER DE OURO DAS OLIMPÍADAS
Charlotte Cooper é uma gigante do esporte. A primeira campeã olímpica, uma britânica nascida em 22 de setembro de 1870, teve um carreira impressionante, superou obstáculos físicos e conseguiu destaque numa época em que o esporte era majoritariamente masculino. Uma atleta pioneira.
“Chattie”, como era conhecida desde a infância, foi uma tenista “agressiva” para os padrões da época. Algo raro no tênis feminino na época, como subir à rede para atacar a bola, era um artificio corriqueiro dela, que além disso, foi uma das primeiras no esporte a utilizar o voleio. Cabe ressaltar que ela era uma das poucas que, naquela virada de século, sacava jogando a bola por cima da cabeça. Só por aí, já dá pra ver que assistir um jogo dela era uma atração à parte.
Carreira vitoriosa em Wimbledon
Ela foi uma das primeira donas da grama sagrada de Wimbledon, ainda na era amadora. Seus cinco títulos em simples foram conquistados em 1895, 1896, 1898, 1901 e 1908, o que a colocava com o mesmo número de conquistas da compatriota Lottie Dod e com um a menos que a também britânica Blanche Bingley Hillyard – que veio a ser a maior rival de Charlotte.
Sua lenda em Wimbledon ficou mais forte depois de dois fatos marcantes.
Na decisão do torneio de simples de 1902, contra Muriel Robb, perdeu uma partida totalmente surreal. O jogo foi interrompido quando estava 1×1 (6/4 e 11/13), por causa da chuva. No dia seguinte o jogo recomeçou, mas foi jogado de novo, sem considerar os placares do primeiro dia. Robb venceu por 2×0 (7/5 e 6/1). Um jogo que teve 53 games disputados (se consideramos os dois dias), algo que nunca se repetiu. Esse foi um de seus seis vice-campeonatos.
Além disso, ao conquistar seu quinto título, em 1908, ela se tornou a mais velha a fazê-lo na chave de simples, com 37 anos e 282 dias. Ela poderia ter quebrado seu próprio recorde, se tivesse vencido a final 1912. Charlotte tinha 41 anos quando foi derrotada por Ethel Thomson. Vale lembrar que ela seguiu competindo até os 50 anos.
Provavelmente ela teria mais títulos, se houvesse torneio de duplas em sua época de Wimbledon. Quando o torneio passou a ser disputado, em 1913, ela conseguiu um vice campeonato, já com 42 anos.
A surdez e as dificuldades do esporte feminino
Charlotte ficou surda durante sua carreira de atleta, mais precisamente em 1896, ano de seu segundo título de Grand Slam. Ela adaptou seu jogo para não depender de escutar o som da bola. Pelo sucesso, ficou claro que isso nunca foi um problema tão difícil de resolver para ela.
Outra coisa que atrapalhava muito, mas não dava para evitar era a vestimenta. Vestidos compridos, que cobriam o corpo todo era de praxe no esporte, ainda mais na conservadora Londres do início dos anos 1900. Para compor o visual “feminino”, elas tinha que jogar de sapatos, algo que era extremamente desconfortável.
O esporte feminino ainda era repleto de preconceitos, tanto que isso se refletia nas Olimpíadas, onde Charlotte foi para fazer história.
O primeiro ouro de uma mulher em Jogos Olímpicos
Nos Jogos Olímpicos de Paris, 1900, pela primeira vez foram disputadas competições femininas. Mas nada perto do que vemos hoje. As mulheres só participavam de competições que os homens julgavam “adequadas” para elas, por não exigirem esforço físico exagerado e serem mais “bonitos”. No caso de Paris, as competições femininas foram as de golfe, tênis, hipismo, vela e croqué. Bizarro né? Mas ainda tinha mais.
As atletas que disputaram os jogos eram tidas como “convidadas” e não recebiam o mesmo tratamento dos competidores homens. Além de serem apenas 2% do total de participantes, não recebiam a tradicional honraria dos vencedores, que na época era a coroa de oliveira. Se não fosse um certificado, não teriam nada além de suas memórias para comprovar sua participação.
Bom, a despeito de tanto descaso, Charlotte acabou sendo a primeira a desbravar o mundo olímpico, mesmo sem ter ideia de que estava fazendo isso. Aos 30 anos e no auge de sua carreira, disputou os torneios de simples e duplas mistas em Paris e venceu os dois, mesmo com o problema auditivo.
Na decisão de simples, superou a francesa Hélène Prévost por 2×0 (6/1 e 7/5) e na final das duplas mistas, levou o ouro ao lado de Reggie Doherty, vencendo na decisão a duplas formada por Prévost e o inglês Harold Mahony, também por 2×0 (6/2 e 6/4). Aqui devemos alertar para o fato de que, na época, o torneio foi tratado como um outro torneio de tênis qualquer, onde não era exigida a formação de duplas do mesmo país. Assim, o COI hoje considera a dupla vice-campeão como uma dupla que competiu sob a bandeira olímpica.
Assim, Charlotte Cooper escreveu seu nome na história olímpica, como a primeira campeã dos Jogos.
A vida pós-tênis
Na verdade nem se pode dizer que ele teve uma vida pós-tênis, pois ele nunca saiu da sua vida. Um ano após as vitórias olímpicas, “Chattie” casou-se com o advogado Alfred Sterry, chegando a usar seu sobrenome em várias competições até o fim de sua carreira. O curioso é que Sterry chegou a ser presidente da Federação Britânica de Tênis.
O tênis também capturou os dois filhos do casal. Rex (nascido em 1903), foi vice-presidente do All England Club, que organiza o torneio de Wimbledon, entre os anos 60 e 70. Gwen (nascida em 1905), tornou-se uma tenista.
Charlotte Cooper ainda teve a chance se ser homenageada em vida pelos seus feitos. Depois do sucesso e evolução das Olimpíadas, provavelmente ela já se deu conta do quanto foi importante para as mulheres no esporte olímpico. Faleceu no dia 10 de outubro de 1966, aos 96 anos, em Helensburgh, na Escócia. Posteriormente, em 2013, entrou para o hall da fama do tênis.
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