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O PRIMEIRO DOMINGO DE MINEIRÃO

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Meu primeiro jogo no Mineirão foi num domingo, como devia ser com todos. Era dia das mães, o que na minha casa representa a data exata ou véspera do aniversário das minhas duas mães. Naquela ocasião era véspera, mas minha ausência já era sabida e previamente acordada. Eu finalmente ia ver um jogo no Mineirão. E era logo uma final.

Minha relação com o futebol começou com a Copa de 94. Porque eu gostava de bandeiras, veja só. Acabei aos sete anos sendo capturado pelo futebol para nunca mais escapar – apesar de, hoje em dia, conseguir viver em condicional. Dos sete adiante a coisa foi evoluindo para algo mais sério, principalmente por causa do Cruzeiro. Gente pra me fazer ser cruzeirense na família não faltava, mas ninguém fez o serviço tão bem feito quanto o Dida e o Marcelo Ramos em 96. Dali pra frente não tinha mais volta.

Por falar em volta, aquele dia das mães de 2001 (do qual me referi no início) era um jogo de volta. Valia o título da Sul-Minas – uma daquelas sazonais competições regionais daquele período. Era um Cruzeiro x Atlético-PR (que nem sonhava em ser com h”) onde o empate era nosso e a despedida de um argentino. Sorín sairia ídolo da torcida e meu também, que estava de 6 naquele dia.

Nunca tive incentivo nenhum em minha casa para ir ao estádio. Nem pai, nem mãe, seja para levar ou simplesmente para dizer um “pode ir”. Aquele foi um dia especial.

Ao longo dos anos, meu tio e sua van levaram inúmeras vezes torcedores da paradisíaca Jaboticatubas para o estádio. Aquele dia levava mais um, que na sua primeira vez tinha certeza de ser adulto demais para seus 13 anos. Todo mundo de olho em mim e em mais um grupo de novatos, do qual eu era de longe o mais sensato. Sabia que devia ficar atento. Comigo e com o time, pois o Furacão era perigoso.

Eu me preocupei com várias coisas naquele domingo. Onde levar o dinheiro, como guardar o precioso ingresso, onde me colocar para ver o jogo e, claro, se daria sorte ou azar. Seria como na final da Libertadores de 97 ou como a semi da João Havelange de 2000? Será que eu era pé frio?

Me lembro como se fosse hoje do estacionamento do antigo Mineirão, das músicas da torcida, do formigueiro de gente das barracas de comida, do tropeiro… Aliás, comi o meu marmitex e o do meu primo mais novo, que não gostou (como?) do “tropeirão” com ovo que as novas gerações não fazem ideia do quanto era bom.

Já fui apresentado a arquibancada antiga e cheia de gente em pé para ver a partida. Não foi casa cheia, mas eram 80 mil… Quando vamos ver um jogo desses com 80 mil hoje em dia? Fui privilegiado por já ser alto, pois estava bem cheio no ponto onde fixamos lugar. Tomei um caixa de isopor na cabeça, quando o vendedor foi tirar uma cerveja para seu cliente. Quer dizer, para um torcedor! Jamais chamariam de cliente naquela época. Nem de freguês, pois poderia ter conotação clubista.

Sol na testa, menos na do camarada que estava cinco degraus abaixo, ostentando seu pujante sombreiro mexicano. Nem na de dois dos seus comparsas, que pegaram carona na sua aba. Foguetório e radinho de pilha. Narração de rádio e sem telão de led. No máximo um “ADEMG informa” no alto-falante. Aliás, como os donos de carro foram chamados a comparecer nas portarias…

Internet? Celular? Bom celular até tinha alguns, mas para ligar e se pegasse. Selfie? Registro só o da memória, que no meu caso foi bem generoso. Nunca esqueci daquele dia. A vitória ajudou muito. Aquele gol do Sorín com a cabeça enfaixada, que me fez parar um dez metros para o lado de onde eu estava, ajudaram a garantir um lugar para o Mineirão no meu coração.

Lá voltei inúmeras vezes. Sozinho ou em bando. Com a namorada que viraria esposa, com amigos que para mim são irmãos e conhecendo malucos que me fizeram rir muito ou com quem xinguei horrores, numa forte relação de 90 minutos. Voltei para trabalhar, fazer matérias, cobrir até futebol americano, fotografar…

Sou só mais um que construiu laços de afeto com aquele monte de concreto. Concreto cheio de histórias e perfeito para viver grandes emoções, como aquela que eu vivi no dia das mães de 2001.

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