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O BRASILEIRÃO QUE CAIU NO COLO DO FLAMENGO

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Se em janeiro de 2020 a grande maioria das pessoas pensava que o bicampeonato brasileiro do Flamengo seria uma formalidade, jamais imaginaríamos que ele se confirmaria da forma como foi. Estranha, como o próprio ano e o campeonato foram.

O Flamengo é sem dúvida um campeão merecido, mas foi um título muito diferente do anterior. Bem mais esvaziado e com muito menos brilho. E um título que dependeu de muito mais do que o esforço do próprio rubro negro.

Um título de consolação?

Não acho que o bicampeonato brasileiro do Flamengo tenha sido um título de consolação para uma temporada que prometia tanto. Foi pior um pouquinho: teve mais cara de salvação da temporada mesmo. Num ano que o clube carioca errou demais, dentro e fora de campo, ganhar um título nacional foi jogar uma boia para uma temporada que ia se consolidar como um grande fracasso.

A Libertadores foi uma grande desilusão, de nada adiantando o grande elenco e o favoritismo. E tinha torcedor com a cabeça no Mundial… Falar sobre o bizarro Campeonato Carioca, eu me recuso. Cabe dizer aqui que, se você mede a temporada de um clube apenas pelas taças levantadas, vai achar um absurdo eu falar em fracasso num ano em que o time da Gávea venceu a Recopa e a Supercopa. Mas minha avaliação vai além disso.

O Flamengo de Jesus, que terminou 2019 encantando, elevou o nível de exigência do clube principalmente no que se referia ao futebol apresentado. Após a saída do português e as inúmeras reviravoltas da temporada, o Flamengo passou a ser um rascunho daquele time. Por vezes, até um garrancho.

A curta e tumultuada passagem de Torrent no Flamengo não deu certo.
A curta e tumultuada passagem de Torrent no Flamengo não deu certo. FOTO: Alexandre Vidal / Flamengo

As decepções do Flamengo estiveram diretamente ligadas às confusões do clube. Jesus se foi e parecia que ele tinha levado sua benção com ele, pois o mesmo time – aliás, com reforços – puxou o freio de mão. O Flamengo desandou e a transição com Domènec Torrent foi muito mal conduzida – pelas duas partes, é importante dizer. A tentativa de um novo técnico estrangeiro não funcionou, o time se desorganizou e o rendimento caiu junto. Em um determinado momento do ano, o Flamengo parecia à deriva.

A chegada de Rogério Ceni teve um papel importante para a retomada da estabilidade do time, mas esteve longe de ser a única causa. Com o mínimo de organização, o Flamengo era uma das melhores equipes – ou a melhor. Ceni errou pra caramba, na gestão do grupo e taticamente, comprometendo o time em vários momentos, como na Copa do Brasil. Mas a reta final regular salvou a temporada.

Rogério Ceni no Flamengo.
Rogério Ceni no Flamengo. FOTO: André Durão

Aliás, a temporada do Flamengo foi salva por circunstâncias diversas.

Ninguém quer ganhar o Brasileirão

Já falamos disso em outros textos, mas o futebol brasileiro está escancarado como uma colagem de fases diferentes dentro de uma mesma temporada. Essas micro-fases foram a tônica da temporada 2020. Antagonismo evidente ao ano de 2019 do Flamengo. Por isso, a frase “ninguém quer ganhar o Brasileirão” virou quase um slogan do torneio. Ficou muito com cara do campeonato de 2009 – que teve Flamengo e Inter nas duas primeiras posições, curiosamente.

Depois de uma grande fase, Diniz virou o grande vilão da derrocada do São Paulo.
Depois de uma grande fase, Diniz virou o grande vilão da derrocada do São Paulo. FOTO: Marcos Ribolli

As boas fases, cada vez mais curtas, foram potencializadas pela pandemia. Cada novo surto de casos prejudicava um aqui e outro ali, girando novamente a roda do campeonato. Um exemplo perfeito é o que aconteceu com Galo, que teve o time desfalcado por diversos casos de Covid, fazendo com que o rendimento caísse de forma evidente.

Tal característica permeou todas as competições do tumultuado ano de 2020, mas se focarmos só no Brasileirão, essas pequenas boas fases sempre foram muito comuns, mas na turma intermediária ou de baixo da tabela. Os times da ponta, geralmente eram mais constantes. Dessa vez isso foi jogado para o alto. Tivemos a fase do Galo, a do São Paulo, a do Inter, a do Flamengo. Até Santos, Palmeiras e Grêmio, em menor escala, tiveram suas fases mas optaram por se dedicar a outras competições. No fim das contas a coisas ficaram com quem foi mais “regular”.

 

Inter e Flamengo chegaram na reta final com chances. O Galo meio que abandonou o campeonato após a derrota para o São Paulo – o que lhe custou caro, quando terminou o campeonato apenas a uma vitória do título. O São Paulo, que parecia que ia, desandou completamente e não foi. O Inter… bom, foi uma história à parte.

O curioso caso do Inter

O Flamengo precisa agradecer o Inter. No fim, só foi campeão porque os colorados não conseguiram fazer um gol (que não estivesse impedido) no Corinthians. Um retrato melancólico do campeonato que ocorreu numa “vibe” ruim. Mas a história que o Internacional escreveu foi de se destacar.

O time de Coudet era cotado para títulos e liderava o campeonato quando o argentino se mandou para a Espanha – quase na mesma época do espanhol do Flamengo, como citamos no StartCast. Não diferente do Flamengo (mas num nível bem menor), a diretoria colorada também deu suas escorregadas. A saída de D’Alessandro também marcou uma falta de “timing” do clube para se despedir de um ídolo.

Quando a temporada parecia comprometida, trouxeram o Abel Braga para treinar a equipe – o que, julgando pelo histórico recente, confirmava essa impressão. O começo dele foi de resultados muitos ruins, com uma queda brusca no Brasileirão e eliminações na Copa do Brasil e Libertadores. Aliás, essa segunda marcou o início de uma guinada do time.

Atuação de gala do Inter contra o São Paulo.
Atuação de gala do Inter contra o São Paulo. FOTO: Ricardo Duarte

Sem aviso prévio ou sinais que indicassem mudança, o Colorado foi reinventado, deu espaço aos jovens e passou a ser mais eficiente. De repente, dez vitórias seguidas e a liderança. O que não parecia possível passou a ser quase certo, mas uma derrota inconcebível para o Sport em casa jogaou tudo no lixo. A queda de rendimento veio na hora errada e o time chegou em baixa pra pegar o Flamengo.

Teve o caso do Rodinei pra ficar no folclore, teve reclamações do VAR (com razão) e faltou futebol. A derrota para o Flamengo parecia definir o título dos cariocas, mas uma inesperada derrota do rubro negro para o São Paulo mudou tudo de novo.

Flamenguistas assistem o final do jogo do Inter.
Flamenguistas assistem o final do jogo do Inter. FOTO: Reprodução/TV Globo

O Inter precisava ganhar do Corinthians e faltavam alguns minutos e um gol para que 41 anos de fila acabassem. Não rolou. Foi uma forma traumática de perder o caneco. Ao Flamengo, restou agradecer.

Melhores momentos de Inter 0x0 Corinthians

Melhores momentos de São Paulo 2×1 Flamengo

Um Flamengo bicampeão

O Flamengo começou mal, melhorou, desandou de novo e foi levando o Campeonato Brasileiro até o momento em que não havia mais outras competições. Focado só no Brasileirão, o clube carioca foi fazendo sua parte até ser premiado, como falamos, pelas circunstâncias e falhas dos demais.

Uma festa merecida e grande, pois é raro ganhar um título com tamanha emoção. Entretanto, uma festa esvaziada como os estádios, por culpa da pandemia. Festa por um título que não foi conquistado com a mesma qualidade do anterior, mas que não possui mácula ou demérito.

Esse bicampeonato do Flamengo ficará marcado na história, por ter acontecido no campeonato mais fora da curva de todos. Ficará marcado para os flamenguistas e, por que não, para os colorados.

Jogadores do Flamengo com a taça do Brasileirão.
Jogadores do Flamengo com a taça do Brasileirão. FOTO: Alexandre Vidal/Flamengo
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