A Argentina ganhou a Copa América. Aqui no Brasil, muita gente deu de ombros para o acontecido. Motivos? Muitos. O brasileiro vive um relação de indiferença com sua seleção, a realização de uma competição em meio à pandemia esvaziou totalmente o interesse pelos jogos e por aí vai. Aliás, quantos jogos ruins! Mas a principal questão é que, para brasileiro, fica difícil entender o tamanho dessa conquista.

Um parâmetro bom para comparação é pensar na Copa América conquistada pelo Brasil, em 1989. Foi o fim de uma fila de 40 anos sem vencer a competição e de 19 anos sem nenhum tipo de conquista oficial. Para uma seleção do porte do Brasil, era um absurdo. Agora, pense no caso argentino, que pôs fim a sequência de 28 anos sem taças. De nenhuma natureza.

Eu nunca tinha visto a Argentina conquistar um título (exceto olímpico ou de categoria de base). Só me dei conta disso recentemente. De 94 para cá, quando meus olhos estão assiduamente no futebol, vi seleções marcantes do pais vizinho tombarem uma a uma… As vezes, para rivais melhores, mas em vários casos, de forma quase inexplicável. Um período que, não fossem as duas medalhas de ouro olímpicas, seria marcado por um sucessão de decepções. E agravadas pelo fator Messi.

A Albiceleste teve, em grande parte desse jejum, o melhor jogador do mundo. E isso lhe valeu muito pouco. Perdão, deixe-me corrigir. Lhe valeu muito, pois garantiu algumas finais, mas não foi capaz de fazer com que a barreira do último jogo fosse vencida. Foram três derrotas para o Brasil em decisões e uma para Alemanha, na Copa de 2014, que podia ter encerrado o jejum na casa do rival depois dele sofrer uma humilhação histórica. No fim das contas acabou que a fila teria fim aqui mesmo, em terras brasileiras.

Muito pouco vai sobrar desta Copa. Um torneio que teve uma primeira fase inútil e desinteressante e que, na sua fase eliminatória, viu jogos interessantes serem praticamente escanteados. Um desinteresse que poucas vezes vi antes. Mas do lado argentino, isso será diferente.

Vai ser uma Copa de pouco brilho e muito brio. De um craque que decidiu vários jogos e de um time de coadjuvantes que, finalmente, venceu o jogo que valia a taça. Não teve surpresa, decepção ou coisa do tipo. Por incrível que pareça, ao contrário das inúmeras eliminações para o Brasil neste período, dessa vez a Argentina passou longe de perder o jogo.

Um time que não parece acima da média, mas que é capaz de complicar jogos para equipes melhores tecnicamente e de brigar pela vitória, mesmo que ela não esteja pendendo para seu lado. Uma Argentina vencedora, como não se via a décadas, e bem diferente do que se esperava. Uma seleção que colocou nos eixos sua história de conquistas, como é certo. Pena que numa competição tão murcha.

No fim, podemos dizer que a Copa América não devia ter acontecido, assim como a Argentina também não devia ter ficado tanto tempo sem uma taça.