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NFL STRIKE 1982: A MAIOR GREVE DA HISTÓRIA DA NFL

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O ano de 1982 foi muito marcante para a NFL, pois a principal liga de futebol americano dos EUA parou por causa de uma greve. Um acontecimento que foi um divisor de águas nesse esporte e ficou conhecido como o “Strike” de 82. Um choque financeiro e principalmente ideológico para a liga, que até hoje é lembrado.

Falar de greve no esporte é algo não muito usual. No Brasil, infelizmente é raríssimo. Trazendo para o futebol, por exemplo, países como Argentina e Uruguai tem uma tradição maior nessa luta por direitos dos atletas, com exemplos de greves de jogadores ao longo das décadas. No esporte dos EUA, apesar de se tratar de um modelo organizacional totalmente diferente, elas se fizeram presentes em todas as ligas, principalmente na NBA (basquete) e na NHL (hóquei). A NFL, por sua vez, teve poucos casos de impacto, pois na grande maioria das vezes, as discussões entre donos de franquias e atletas eram resolvidas antes da temporada começar. Mas em 1982, o cenário foi totalmente diferente.

Capa da Sports Illustrated. FOTO: Acervo da Sports Illustrated
Capa da Sports Illustrated. FOTO: Acervo da Sports Illustrated

O contexto da paralisação

Os atletas queriam 55% dos lucros totais da liga em forma de salários e benefícios. Cabe dizer que, naquela época, a situação dos jogadores era bem diferente. Os salários não eram altos como os de hoje, não havia nenhum planejamento para aposentadoria e os donos de franquia não garantiam nem assistência médica. Vale lembrar que a free agency ainda dava seus primeiros passos e os jogadores ficavam presos a contratos que muitas vezes eram desfavoráveis, se pensarmos que a NFL vivia uma franca ascensão, principalmente no que diz respeito ao patrocínio e à televisão. Na hora de dividir a grana, os atletas levavam a pior.

Nesse contexto, a Associação de Jogadores da NFL teve um papel crucial, sendo a primeira vez que uma entidade de classe dos atletas teve uma estruturação adequada para lutar pelas suas exigências, assim como com um engajamento como nunca antes haviam ocorrido.

Da parte dos donos, houve um quase desinteresse em negociar. O impasse se estendeu e, depois de duas semanas de jogos, no dia 20 de setembro de 1982, veio a greve. Foram 57 dias de paralisação, sete semanas de jogos perdidas e U$ 50 milhões devolvidos às emissoras de televisão.

 Ed Garvey, à direita, anuncia a greve. FOTO: Associated Press
Ed Garvey, à direita, anuncia a greve. FOTO: Associated Press

As negociações pré-greve

Quem representou a Associação de Jogadores (NFLPA) foi o advogado Ed Garvey. Nas reuniões com os donos das franquias, além dos 55% de participação nos lucros, ele defendeu o estabelecimento de uma escala de salário mínimo que garantisse aos jogadores uma remuneração em função dos anos de serviço, prêmios em caso de classificação para os playoffs e condições básicas, como benefícios médicos, seguro e aposentadoria. Ainda buscava instituir um sistema de indenização em caso de demissão, uma free agengy efetiva e uma reorganização do draft da liga. Entretanto, o assunto que fazia as pessoas socarem as mesas era o dos 55%.

A proposta faria os donos repassarem U$ 1,6 bilhão – vindos da bilheteria e dos contratos de rádio e TV – aos jogadores nos quatro anos seguintes. Vale lembrar que no Super Bowl XVI, disputado no começo daquele ano, a vitória do San Francisco 49ers sobre o Cincinnati Bengals, rendeu à CBS a maior audiência de um evento esportivo até então. Isso fez com que a NFL assinasse um novo contrato (muito lucrativo) com a emissora e com outras duas, NBC e ABC, com duração de cinco anos. Ele começaria a valer exatamente na temporada 82/83. Como a ideia de dividir essa bolada com os atletas estava longe da cabeça dos 28 proprietários, todos recusaram.

As negociação seguiram e a temporada começou. Duas semanas de jogos e nenhum acordo firmado. Assim, à meia-noite do dia 20 de setembro de 1982, após o Monday Night entre New York Giants e Green Bay Packers, a greve começou.

Manchete do Daily News. FOTO: arquivo NY Daily News
Manchete do Daily News. FOTO: arquivo NY Daily News

Tensão, pressão e nada de jogos

A reação do donos de franquia foi imediata. Os jogadores foram totalmente proibidos de acessar campos, salas de treinamento e musculação, assim como utilizar equipamentos das equipes. Além disso, ameaçavam alguns atletas e, paralelamente, tentaram trazer alguns jogadores de destaque para o lado deles.

Essa possibilidade se deu pelo fato de quase todo o momento dessa natureza não ser uniforme. Alguns jogadores tinham dúvidas sobre o que o sindicato estava fazendo ou tinham medo de seu futuro. Um exemplo foi o QB do Dallas Cowboys, Danny White, que chegou a se reunir algumas vezes com o general menager da equipe, Tex Schramm. Outro atleta dos Cowboys, Randy White, chegou a dar uma entrevista ao Dallas Morning News, onde disse que quanto mais durava a greve, mais ele sentia que não era uma greve dos jogadores, mas sim de Ed Garvey.

Doug Allen, membro da associação em 1982, disse que ela perdeu muito tempo com discussões internas. Em entrevista ao LA Times, ele afirmou que uma minoria de jogadores se opôs firmemente ao movimento, mas chamavam muita atenção por serem mais midiáticos. Ele também destacou que apesar do ótimo trabalho de Garvey, sua personalidade em alguns momentos se tornou problema, principalmente ao lidar com outros atletas.

No início, os atletas estavam mantendo seus treinamentos da forma que podiam, esperando pela volta aos jogos. Entretanto, à medida que o tempo passava, alguns saíram de férias e outros chegaram a desistir e voltar para suas cidades. Os jogadores perderam muito dinheiro, mas os mandatários da NFL também. Isso mantinha a esperança.

Além disso a TV pressionou muito. Depois de ser obrigada passar jogos da Canadian Football League e até mesmo jogos inferiores do College Football, sempre com baixíssimas audiências, apelou para jogos entre All-Stars, pagando aos jogadores para atuarem. Também não deu certo e o jeito foi apertar os dirigentes para resolverem a questão. Afinal, ninguém se preparou para um fim de ano sem NFL.

Integrantes da Associação dos Jogadores da NFL. FOTO: Jack Smith
Integrantes da Associação dos Jogadores da NFL. FOTO: Jack Smith

O fim da greve

Chegou o ponto em que todos estavam perdendo e, por isso, resolveram negociar pra valer. Alguns dizem que tudo foi resolvido em quatro dias. Mas o que sabemos é que as negociações andaram e, depois de 57 dias, a greve teve seu fim. Um acordo coletivo de trabalho foi assinado e os jogadores receberam um pacote de cinco anos no valor U$ 1,28 bilhão, além de incentivos.

Com o acordo ainda foi possível realizar o final da temporada, realizando mais sete jogos. A retomada se deu em 21 de novembro e a NFL adotou um playoff de 16 equipes, com critérios esquisitos, mas dentro do que era possível fazer.  Até equipes com campanha negativa se classificaram. Nem todo mundo gostou, como foi o caso de William Clay Ford, proprietário do Detroit Lions, que descreveu-o caso “um sistema de playoffs do Mickey Mouse e uma temporada de asteriscos”. A temporada terminou  no Rose Bowl, com o Super Bowl XVII sendo vencido pelo Washington Redskins, num duelo contra o Miami Dolphins.

Mas vitória mesmo foi a da Associação de Jogadores da NFL. O episódio a deixou muito forte, ao ponto de exigir mais melhorias a partir de 1983, tornando as carreiras dos jogadores mais dignas e vencendo vários processos trabalhistas.

Como nem tudo são flores, cinco anos depois, algumas das promessas dos proprietários não foram cumpridas e os jogadores pararam de novo. Porém, a greve de 1987 foi resolvida de forma muito mais rápida. Mais um reflexo da importância daquela parada de 82. Os atletas aprenderam que juntos podiam peitar os donos das franquias e fazer valer sua importância para realização do espetáculo.

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