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GÊNIOS DO ESPORTE | ADHEMAR: CADA SALTO, UMA VITÓRIA

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Quando o presidente do Instituto Internacional de Atletismo, Lamine Diack, dedicou as honrarias aos heróis do atletismo na cerimônia de cem anos da entidade, poucas pessoas esperavam que o nome de um brasileiro seria um deles. Atualmente, nem mesmo seus compatriotas tem conhecimento de que ele é o único brasileiro a ser eternizado no hall da fama após grandes feitos como atleta na modalidade salto triplo. O nome em questão é Adhemar Ferreira da Silva, que além dos grandes feitos nas pistas, se eternizou também de forma pessoal.

Filho de uma lavadeira e de um maquinista, nasceu na cidade de São Paulo. Inteligente, se dedicou aos estudos e ao trabalho até se abrir para uma nova paixão. Após conversas com o dirigente esportivo do São Paulo, que na época tinha um time de atletismo, aceitou o convite de fazer parte da equipe de atletismo na modalidade salto triplo.

Adhemar Ferreira da Silva
Adhemar Ferreira da Silva se tornaria um gigante do esporte brasileiro. FOTO: reprodução TV Globo

O início fenomenal

Foi treinado pelo alemão Dietrich Gerner durante a carreira. Sua primeira aparição em público foi no torneio troféu Brasil em 1947. Sua primeira marca na competição foi 13,05, muito bom para quem estava começando.

O desempenho de Adhemar nas competições nacionais, com rápidos resultados positivos, o qualificaram para sua primeira Olimpíada. Em sua estreia não conseguiu um resultado satisfatório. Todavia, a estreia fez com que o jovem campeão voltasse ainda mais determinado a participar e a treinar duro para as próximas Olimpíadas.

O ciclo olímpico entre Roma e Helsinque foi muito proveitoso para Adhemar. Além de títulos, obteve marcas importantes, inclusive seu primeiro recorde mundial, 16,01m, sendo o primeiro o romper a barreira dos 16m.

Adhemar assombra o mundo

Em 1952 o brasileiro voltou a disputar o ouro olímpico, desta vez na Finlândia. No país, Adhemar surpreendeu a todos com seu carisma. Aprendeu rápido o idioma local, cantando até uma música em finlandês. Em uma tarde bastante fria, quando ele faz história no estádio lotado de Helsinque. Ultrapassou a marca de 16 metros, quebrando seu próprio recorde quatro vezes, conquistando 16,05 m, 16,09 m, 16,12 m e 16,22 m. Ouro e uma atuação histórica.

Adhemar Ferreira da Silva.
Adhemar Ferreira da Silva. FOTO: Getty Images

Os feitos obtidos por Adhemar não se restringiram somente a Olimpíadas. Em 1950 foi o primeiro atleta nacional a conquistar ouro no Pan, em Buenos Aires, com 15,09 metros. Foi bicampeão pan americano, conquistando os títulos em Buenos Aires (1951) e Cidade do México (1955).

Após tantas vitórias e recordes quebrados enquanto estava no São Paulo, Adhemar ganhou uma homenagem do time são paulino. Poucas pessoas sabem da existência de duas estrelas amarelas que o clube guarda em seu manto. Estas são referentes a Olimpíada de 1952 e ao Pan Americano no México em 1955.

Abaixo, um vídeo de homenagem do São Paulo para Adhemar

 

Em 1955, o Vasco se tornou o novo clube do grande atleta. Um ano depois, mais uma Olimpíada. Após quatro anos de seu primeiro sucesso olímpico, foi a vez de Melboune. Na Austrália, competiu fervorosamente contra o islandês Vilhjalmur Einarsson e conquistou o posto de ser o primeiro – e durante anos o único – brasileiro a ser bicampeão olímpico, saltando 16,35 metros.

No Vasco, foram cinco títulos estaduais, dois títulos no troféu Brasil, o ouro nos Jogos Olímpicos de 1956 em Melbourne, na Austrália, e a medalha de Ouro nos jogos Pan Americanos de Chicago em 1959.

Em 1960, tentou mais uma façanha: disputou a Olimpíada de Roma. Mas não conquistou o título, ficando apenas em 14º, principalmente em decorrência de problemas pulmonares. Tempos depois, descobriu uma tuberculose, causada pelo vício em cigarro (pasmem, ele fumou desde os 16 anos!). Ainda assim, foi aplaudido e reconhecido pela carreira, que encerraria depois dos Jogos, no Vasco.

Feitos enormes fora das pistas

Sua vida pessoal era tão gloriosa quanto nas pistas de corrida. Antes de ser atleta, o campeão era bastante dedicado. Mesmo após sua entrada em competições, Adhemar não deixou de conciliar os treinos com os estudos e o trabalho. Na época a modalidade não era remunerada. Sendo assim, a única forma de conseguir diplomar, ajudar em casa e ainda competir era trabalhar o dia inteiro, treinando nos intervalos do almoço, e estudando à noite.

Sua vida teve uma coleção de diplomas e cargos inimagináveis. Em ordem cronológica se tornou escultor na escola Técnica Federal de São Paulo(1948), Educação física no Exército, Direito na Faculdade Nacional de Direito na Universidade do Brasil (1968), e Comunicações Públicas na Faculdade de Comunicação Cásper Líbero (1990). Foi adido cultural na embaixada brasileira em Lagos, Nigéria, entre 1964 e 1967.

Adhemar Ferreira da Silva
Adhemar Ferreira da Silva na sua vida fora do esporte. FOTO: acervo familiar

Suas participações culturais também renderam premiações. Em 1956 foi ator da peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Morais, e no filme franco – italiano Orfeu Negro em 1959. Este foi vencedor na premiação Cannes como melhor filme estrangeiro e a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Trabalhava pela Prefeitura de São Paulo antes de treinar pelo Vasco da Gama. Na cidade maravilhosa, além de atleta, Adhemar foi colunista do Jornal Última Hora.

Legado

Adhemar se tornou o pioneiro na modalidade em seu país. Depois dele vieram Nelson Prudêncio, prata na Cidade do México em 1968 e bronze em Munique, João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, bronze em Montreal em 1966 e Moscou 1980 e ex-recordista mundial, e Jadel Gregório.

Também tem participação na famosa volta olímpica, feita pela primeira vez por ele em seu ouro nas Olimpíadas de Helsinque 1952.

Adhemar, foi um atleta diferente de um tempo diferente. Se não pode desfrutar do dinheiro, pois viveu a época amadora do esporte, pôde – ainda em vida, o que é raro – aproveitar a enorme reputação e popularidade que construiu. Ocupou seu lugar de destaque e de lá nunca saiu.


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