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O ATLÉTICO CHEGA AO TOPO PELA PRIMEIRA VEZ: O CAMPEÃO BRASILEIRO DE 1971

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A conquista do Campeonato de 1971 é carregada de representatividade para a história gloriosa do alvinegro mineiro.

Um título com a cara do clube, que ilustra o seu pioneirismo e ao mesmo tempo forja a imagem de um time aguerrido e raçudo que não “afina”, mesmo enfrentando os mais fortes oponentes. O feito do Galo de 71 e a construção da sintonia fina daquele time no ano anterior, findou mais um período de baixos do Atlético, colocando-o mais uma vez em destaque no cenário nacional. De quebra, revelando para o mundo dois grandes personagens do futebol brasileiro.

Um jovem Telê Santana que faz a sua primeira obra prima. Contando com a capacidade de decisão fundamental de um bravo lutador que veio do nada para parar no ar e obter sua consagração e volta por cima definitiva: Dario.

Galo campeão Brasileiro de 71
Time do Galo campeão Brasileiro de 1971. FOTO: Arquivo Atlético-MG

A formação do esquadrão campeão

Para entender o título de 71, cabe voltar à 1970, temporada em que começa a se desenhar aquele time. Ela marcou a chegada de Telê Santana, que viria a se tornar o maior treinador da história, para a primeira das suas três passagens pelo Galo. O jovem treinador chegava credenciado pelo título Carioca de 1969 com o Fluminense, onde formou o time que seria campeão do Robertão de 1970.

Já o Galo vinha de um período em que assistia e sofria com o sucesso do seu arquirrival Cruzeiro, que vivia um de seus períodos mais prósperos, empilhando taças com aquela geração de Tostão e Dirceu Lopes. Inclusive com 5 títulos mineiros entre 64 a 69. Telê veio com a missão de quebrar essa hegemonia e recuperar os tempos gloriosos de décadas anteriores.

O primeiro desafio do time e do novo treinador, ainda em 70, foi o Campeonato Mineiro, onde tentava impedir o hexa cruzeirense. Logo de cara vieram 5 vitórias seguidas, depois uma derrota e mais 15 vitórias seguidas. O retrospecto deu o título ao Galo com 51 gols marcados, sendo 16 deles de Dario.

Jogadores do Atlético comemorando o título mineiro de 1970.
Jogadores do Atlético comemorando o título mineiro de 1970. FOTO: Acervo Atlético

Se formava uma equipe forte, que tempos depois ainda chegou ao quadrangular final do Robertão daquele mesmo ano. Como dito anteriormente, vencido pelo Fluminense montado por Telê. O Atlético ficou em terceiro, à frente do rival.

 

O primeiro título no primeiro campeonato?

A disputa do Campeonato Brasileiro de 1971 remete, inevitavelmente, à polemica em torno da unificação recente dos títulos brasileiros. E nos obriga a (tentar) explicar a confusão.

Acontece que antes do campeonato de 1971, não faltaram tentativas de se criar um campeonato nacional, mas esbarravam muito nas dificuldades logísticas pela dimensão continental do país. As primeiras tentativas foram mais espaçadas nos anos.

A primeira foi ainda no ano de 1920, com o Torneio Nacional de Clubes organizado pela CBD (atual CBF), e teve como campeão o extinto Clube Atlético Paulistano, de São Paulo. Na segunda edição, reunindo campeões estaduais e disputada em 1937, o campeão foi o próprio Atlético. Depois tivemos a Taça Brasil, criada em 59 para decidir os representantes brasileiros da primeira Libertadores, a ser disputada no ano seguinte. Nela entravam os campeões estaduais e posteriormente os de Rio e São Paulo nas fases finais. Perdurou até 1968, com pequenas variações.

O problema destes torneios era que muitos clubes tradicionais ficavam de fora, gerando reclamações quanto ao regulamento. O Torneio Roberto Gomes Pedrosa era o nome oficial do Torneio Rio São-Paulo. Em 1967, o torneio incluiu clubes gaúchos, mineiros e paranaenses indicados pelas federações, deixando de ser o antigo Rio-Sã0 Paulo para virar o “Robertão”. Mais tarde, clubes de Pernambuco e Bahia também foram convidados a participar da competição (mas sem o mesmo interesse de convidar, como rolava com os clubes do sul). Depois, essa mesma competição já mais “inclusiva” que foi chamada de “Robertão” virou a Taça de Prata em 1970. Essa fase de disputa aconteceu entre 1967 e 1970. Houve até os bizarros casos dos anos de 67 e 68, em que a competição aconteceu junto com a Taça Brasil. Isso gerou, após a unificação promovida pela CBF em 2010, a confusão de um time com 2 títulos no mesmo ano (caso do Palmeiras em 67) e de dois campeões no mesmo ano (Botafogo e Santos, em 68).

Aí vem o contexto político da coisa. O Brasil vivia o Regime Militar e o governo tinha o futebol como grande objeto de propaganda. O sucesso da Seleção na Copa de 70, a euforia que veio daí e a explosão do interesse do povo pelo futebol fez com que o governo pressionasse a CBD pela criação de um torneio ainda mais abrangente. Essa inclusão de times aconteceu constantemente, ano após ano, até aquela absurda competição de 94 equipes de 1979. Eram tempos da famosa frase: “onde a Arena vai mal, um time no Nacional”.

A CBD, que já organizava o Robertão desde 1969, criou o Campeonato Nacional de Clubes com 20 equipes e um regulamento parecido com o do Robertão de 1970. Isso incluindo mais três times em relação a edição anterior. Aliás, mudança de regulamento foi algo de praxe até 2003 nos campeonatos da CBD/CBF. Voltando ao campeonato de 1971, os times foram divididos em 2 grupos e se enfrentavam primeiro dentro do seu grupo e depois contra os adversários do outro grupo. Os seis melhores de cada chave passavam para a segunda fase. Depois eram formados três grupos de quatro equipes e cada time enfrentava apenas adversários da mesma chave em turno e returno. O campeão de cada chave garantia vaga para o triangular final (pouco prático) onde cada um fazia uma partida em casa e outra fora e quem fizesse mais pontos era o campeão (tempos de 2 pontos por vitória).

 

Em 71, a redenção definitiva, eternizada com o título.

Voltando ao que interessa, chegamos a 1971. Ano em que o Atlético, depois de vencer e convencer na temporada anterior, vinha querendo consolidar sua volta às glórias e ganhar tudo. Quem sabe impondo uma hegemonia no estadual… A base do time era a mesma de 70 e as expectativas eram altas.

Mas de cara, no Campeonato Mineiro já veio a uma decepção. O terceiro lugar foi o que sobrou, mesmo depois de vencer os dois encontros contra o Cruzeiro. Mas depois de perder duas vezes para o América, viu o Coelho ser campeão com 38 pontos, contra 36 do cruzeiro e os 33 do Galo. Esse desempenho lançou questionamentos e críticas de volta no clube. O próprio Dario, o “Dadá Maravilha”, já disse em entrevista que o Galo chegou ao Campeonato Brasileiro desacreditado, sem muita moral da imprensa nacional. O ataque era apontado como problema, depois da venda de Vaguinho ao Corinthians. Dizem que de tanto ser questionado sobre o problema no ataque do Atlético após a saída do companheiro, numa dessas entrevistas, Dario cunhou a celebre frase: “Não me venham com a problemática que eu tenho a solucionática”.

Telê e Dadá.
Telê e Dadá. FOTO: Arquivo

Quem via o time do Atlético sabia que havia muita qualidade, além de ser um time operário – como se definia à época. Tinha uma linha de defesa muito boa, capitaneada por Grapete e com o excelente Vantuir. Qualidade nas laterais, com Humberto Monteiro e Oldair, que as vezes atuava (e bem) no meio. Aliás, era nesse espaço do campo em que o time tinha muita qualidade com o craque (e pouco lembrado) Lola. Ainda contava com a habilidade e técnica de Humberto Ramos, que era meia e as vezes aparecia na ponta. Também havia o muito habilidoso Tião na outra ponta. Por fim o faro de gol letal de Dadá, que não tinha lá muito qualidade com a pelota, mas uma capacidade fora do comum de colocá-la para dentro do gol. Não é por menos que foi artilheiro da competição com 15 tentos e é o segundo maior artilheiro do Galo com 211 gols em 290 partidas.

Para ajeitar tudo isso, Telê – bem ao seu estilo – impôs disciplina ao time e criou uma equipe equilibrada e competitiva. De pegada, mas sem jogar sujo (tanto que terminou a competição com apenas dois cartões amarelos), que confiava em sua força e se preocupava em jogar bola. Tornou-se assim um adversário duro de ser enfrentado como visitante e muito forte e constante em seus domínios. O Galo mostrava as esporas num campeonato que tinha o atual campeão Fluminense; o São Paulo de Forlán e Gerson; o Santos (que não era mais aquele, mas ainda tinha Pelé) e o temido Botafogo de Jairzinho. Correndo por fora, o alvinegro ia avançando na competição.

Na primeira fase, começou com sete jogos sem derrota, até perder para o forte América-RJ no Rio. Vale dizer que nessa sequência venceu o Flamengo no Rio e São Paulo e Santos no Mineirão. Depois, teve a sua pior sequência no campeonato com apenas uma vitória em oito jogos, sobre o Ceará, fora de casa. Depois encerrou a primeira fase com goleada sobre a Portuguesa e vitória sobre o Inter em BH. Por fim, dois 0x0 contra Vasco e Palmeiras, fechando em segundo no grupo com os mesmos 23 pontos do Grêmio e um retrospecto de 7 vitórias, 9 empates e 3 derrotas.

Dario, de branco, no empate em 2x2 contra o Botafogo, no Mineirão, pela fase de classificação.
Dario, de branco, no empate em 2×2 contra o Botafogo, no Mineirão, pela fase de classificação. FOTO: Acervo Estado de Minas / O Cruzeiro

Na segunda fase, em turno e returno, o Galo caiu no grupo B com Inter, Santos e Vasco. Venceu o Vasco em casa e depois empatou no Maracanã. Perdeu para o Santos no Pacaembu, mas venceu por 2×0 no Mineirão. Goleou o Inter no Beira-Rio por 4×1 e perdeu em casa por 1×0. Com isso se classificou com os mesmos 7 pontos do Inter, mas passou no saldo de gols com 4 contra 0.

A derradeira fase: Consagração no Maracanã

Passado o aperto da segunda fase, era hora de partir para os últimos desafios. E o primeiro jogo do triangular final reservava o forte São Paulo, no jogo que o Atlético tinha em casa. E a partida foi muito tensa, travada e o alvinegro tinha muita dificuldade de passar pelo Tricolor Paulista. O desafogo veio já aos 30 do segundo tempo, num momento em que já parecia que o placar não ia se mexer. E foi com um golaço de Oldair, numa cobrança de falta na entrada da área. Um chute com violência que morreu no ângulo.

Como o São Paulo goleou o Botafogo no Morumbi por 4×1, no segundo jogo, bastava ao Atlético um empate contra o time carioca para ser campeão. Enquanto isso, o São Paulo precisava de uma simples vitória do Botafogo sobre o Galo. Já o clube do Rio precisava de uma goleada de 6 gols para ficar com o título – portanto, chegou no jogo praticamente derrotado. Sabendo do cenário, Telê preparou a equipe para cozinhar a partida no Rio.

Aqui cabe uma curiosidade sobre a final. Na véspera da partida, segundo o próprio Dadá, ele machucara as costas durante uma partida de “21” com o técnico Telê. E, no dia seguinte, acordou com muitas dores e o técnico falou que ele não iria jogar. Dadá não aceitou e pediu para ir para o jogo. Durante o primeiro tempo, se arrastando, Dadá mal conseguiu dar piques e no intervalo Telê disse que iria tirá-lo de campo. O centroavante implorou para permanecer e prometeu que se ele não fizesse o gol até os vinte do segundo tempo, então o técnico poderia sacá-lo.

Eis que, aos 16 minutos, aconteceu a emblemática jogada de Humberto Ramos. Ele driblou e passa por Mura, Carlos Roberto e Marco Aurélio, chegando na linha de fundo e cruzando com perfeição para Dario cabecear no canto esquerdo de Wendell. Era a consagração definitiva de Dadá como um dos maiores da história alvinegra, eternizado naquela tarde de Galo no Maracanã. E claro, com mais uma de suas boas histórias.

 

 

O Atlético levou o placar até o fim, controlando o Botafogo e tendo até chances de ampliar o placar. Não foi necessário. A festa foi completa ao apito final e o Galo estava consagrado como o primeiro campeão brasileiro com muita justiça e muito brio. Uma das grandes glórias de sua trajetória. Os atleticanos presentes no Rio fizeram a festa durante a noite na capital e, depois, a Massa recepcionou o campeão em Belo Horizonte, parando a cidade com um verdadeiro carnaval. Com direito a desfile do time no caminhão de bombeiros pelas ruas da cidade.

Festa da torcida do Galo em 1971.
Festa da torcida do Galo em 1971. FOTO: Acervo Estado de Minas / O Cruzeiro

Esta conquista marcou o primeiro título nacional do Mestre Telê Santana, mostrando um pouco do que era capaz e que viria ser de praxe, no restante de sua brilhante carreira. Transformou um time desacreditado, de operários, numa fortíssima equipe. Como ele mesmo declarou ao final da partida do título: “Peguei um time talentoso, que há cinco anos não ganhava títulos e estava com o moral baixo. Fiz a equipe entrar em campo sempre confiante nos dois pontos, eu mandava o time atacar e se preocupar só em jogar futebol. Assim são maiores as chances de vencer”. O Galo terminou sua campanha com 12 vitórias, 10 empates e 5 derrotas em 27 jogos; com o melhor ataque da competição com 39 tentos e o artilheiro do campeonato, Dadá com 15 gols

É verdade que depois desse dia, teve a história da promessa que não foi totalmente cumprida após a conquista da taça. Muitos dizem que isso teve influência nos fracassos que o clube viveu em momentos chave depois daquele episódio. Mas sabe-se lá se isso é verdade. Fato é que depois disso o Atlético montou times fortes e chegou perto de outras grandes conquistas. Mas amargou diversas derrotas, dores, e tempos de crise até conseguir vencer novamente um título de expressão: a Libertadores de 2013. A torcida atleticana viria o fim da longa espera por um novo título de campeão brasileiro  anos depois, apenas 50 anos depois, em 2021. Mas talvez isso seja só mais um elemento para tornar essa história ainda mais inesquecível.

Festa com a taça de campeão Brasileiro.
Festa com a taça de campeão Brasileiro. FOTO: Estado de Minas / O Cruzeiro
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