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MARADONA JOGOU NÁPOLES CONTRA A ITÁLIA?

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Sim, mas em partes. Uma das grandes histórias da carreira de Maradona aconteceu durante a Copa do Mundo de 1990, na Itália, quando comandou a Argentina a uma decisão contra a Alemanha, mesmo sem estar em boas condições físicas. Nessa jornada, o maior capítulo foi a semifinal contra a seleção dona da casa, em Nápoles, a segunda casa de Maradona.

A história desse episódio que testou a idolatria da cidade para com Diego envolve muito mais do que o futebol e os acontecimentos daquela Copa. Neste texto, você saberá como “D10s” jogou com muito mais do que camisas e coração dos torcedores napolitanos naquela ocasião.

Maradona e o Napoli

Em nenhum outro lugar do mundo (que não seja a Argentina) Maradona foi tão amado quanto em Nápoles. Quando ele chegou por lá, em 1984, ainda não era uma divindade do futebol e flertava com uma descendente na carreira. Apesar de bons números, saia do Barcelona para um time menor no cenário Europeu. Aliás, sejamos sinceros, um time que não existia no cenário Europeu.

O Napoli tinha uma grande tradição no sul da Itália, mas era claramente visto como de um escalão inferior na esfera nacional, amplamente dominada pelas equipes de Roma, Turim e Milão. Vale dizer que, até aquele momento, o clube só tinha conquistado duas Coppas Italia (61/62 e 75/76) e alguns títulos de divisões inferiores. Então, para os torcedores, receber o jovem camisa 10 da seleção argentina, era muito mais do que sonhavam.

Na Argentina, muitos na imprensa apontaram essa transferência como um passo atrás na carreira do jogador, que poderia colocá-lo como um candidato a fracassar no futebol europeu. Bobagem.

Maradona foi figura central do maior Napoli da história, que contava também com nomes que seriam lendas do clube, como Carnevale, Giordano e Careca. Foi o período da conquista dos dois únicos títulos italianos da equipe (86/87 e 89/90), de mais uma Coppa da Itália (86/87), de uma Supercopa da Itália (90) e do único e histórico título continental do clube, a Copa da Uefa (88/89). A equipe mediana fez frente ao trio de ferro, Juve, Milan e Inter, justamente no período do “El dorado” no futebol italiano.

Maradona foi recebido por 65 mil torcedores no estádio San Paolo, em 1984. Em 1990, já era idolatrado por uma cidade inteira. Fez de Napoles sua pequena Argentina e, justamente nesse contexto, disputaria a Copa do Mundo pela seleção de outra nação em terras italianas. Óbvio que ele aproveitaria isso.

Maradona foi lendário em Nápoles
Maradona foi lendário em Nápoles. FOTO: Twitter/Napoli

A Copa de 90

A Argentina chegou como atual campeã e uma das favoritas ao título mundial. Mas vinha com um Maradona sofrendo com dores no tornozelo.

Fez uma campanha irregular na primeira fase, sendo surpreendida por uma derrota para Camarões na estreia e se classificando em terceiro no grupo, após vencer a URSS e empatar com a Romênia. Nas oitavas, foi dominada pelo Brasil, mas venceu graças a uma jogada de Diego que terminou no gol de Caniggia. Passou por uma batalha nas quartas de final contra a Iuguslávia, resolvida nos pênaltis, com brilho de Goycochea. Foi quando a semifinal colocou os hermanos frente à frente com a anfitriã da Copa.

É nesse momento que chegamos ao episódio que o presente texto destaca. Maradona percebeu que precisaria de ajuda e chamou aqueles que sempre estiveram com ele nos últimos 6 anos.

Napoles contra a Itália

O confronto entre Itália e Argentina, valendo vaga na final, seria em Nápoles e Maradona não perdeu tempo: chamou a torcida do Napoli para torcer por ele. “Durante 364 dias do ano vocês são considerados pelo resto do país como estrangeiros em seu próprio país e, hoje, têm de fazer o que eles querem, torcer pela seleção italiana. Eu, por outro lado, sou napolitano os 365 dias do ano”, conclamou Diego antes da decisão. Como deu pra ver, “El Pibe” jogou com muito mais do que sua história com o clube.

Ele entrou na identidade napolitana e no forte preconceito que aquele povo sofria. Nápoles fica na região do Mezzogiorno, ao sul do país, tida como inferior pela região norte, por ter uma economia menos desenvolvida. Além disso, criou-se uma imagem de que Napoles era uma terra suja, sem segurança e tomada por pobres e vagabundos. O espaço deixado pelo governo central, que não dava a devida atenção à região, acabou sendo ocupado ao longo dos anos pela máfia. Some-se a isso o fato de que o controle da político da Itália foi tradicionalmente da região norte e que grande parte do que o país produzia, na maioria das vezes, beneficiava apenas as grandes cidades da parte de cima do país.

Essa divisão, que já gerou até movimento separatista do norte, fez com que os napolitanos se apegassem muito mais à sua terra do que ao país. Assim, a fase de sucesso do Napoli foi um suspiro de alívio para aquelas pessoas, que tiveram a sua identidade valorizada. Uma espécie de exaltação dos excluídos. E claro, quem capitaneou o processo virou um herói daquela gente. Sabendo disso, Maradona não pensou duas vezes em testar essa idolatria.

Obviamente, nem todo mundo que foi ao San Paolo, naquele 3 de julho de 90, era torcedor do Napoli. Havia torcedor de tudo quanto é time e, claro, também estavam presentes aqueles que só aparecem em Copa do Mundo, para curtir o barato da competição. Também tinha nacionalista ferrenho, que não torceria contra a Azurra nunca! Mas o chamamento de Diego fez com que boa parte do estádio se juntasse a minoria de argentinos presentes para torcer pela albiceleste – e claro, por ele. Teve até faixa nas arquibancadas com os dizeres “Diego nos corações, Itália nas canções”.

Maradona conviveu com vaias e xingamentos de parte dos torcedores italianos e com os gritos de apoio da torcida local. Foi quase um confronto de torcida dividida, com Maradona ganhando o apoio da área do estádio ocupada pelos napolitanos. “Diego! Diego!”, diziam. O jornal Repubblica ressaltou que Maradona era muito mais ligado ao torcedor da cidade do que uma seleção de atletas de outras cidades italianas.

No fim, o empate em 1×1 levou o jogo aos pênaltis. A Argentina avançou e o sonho italiano acabou. Na decisão, os sul-americanos pararam na Alemanha Ocidental, que devolveu a derrota de quatro anos antes. A Itália viveria outras frustrações em disputas na marca da cal até conquistar o tetra, em 2006 (também nas penalidades). A Argentina, venceria mais uma Copa América e uma Copa das Confederações, entrando depois num jejum gigantesco. Maradona começaria a viver um declínio em sua carreira nos próximos anos e o Napoli nunca mais viveria glórias como as de sua passagem por lá.

Talvez seja um exagero dizer que ele jogou Nápoles contra a Itália. Talvez nem precisasse. Mas uma coisa ficou provada naquele jogo: Maradona fez daquela cidade sua terra e foi napolitano, como poucos estrangeiros fora.

Confira o vídeo do canal da FIFA contando a história de Diego na Copa de 90

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