Quando o futebol passou a ter regras?
É difícil imaginar uma partida de futebol em que se podia tocar a bola com a mão, empurrar os adversários ou ter balizas sem postes. Mas o cenário do futebol era mais ou menos esse, até 1863, quando foram escritas as primeiras regras da FA. A Football Association (FA) existe até hoje e é a entidade que controla o futebol na Inglaterra, sendo a mais antiga associação de futebol do mundo. Foi nesse mesmo ano de 1863 que Ebezener Corb Morley, secretário-geral da Federação Inglesa, escreveu o “FA Minute Book”, que é quase consensualmente o momento fundador do futebol moderno.
Esse livro, que tem as 13 regras fundadoras do futebol, marca o momento em que o futebol e o rugby começaram a percorrer caminhos diferentes, pois, até então, misturavam-se nos campos das universidades britânicas.
Antes da primeira reunião da FA, em Londres, na data de 26 de outubro de 1863, não havia regras universalmente aceitas para o futebol e o seu intuito era formar uma associação que unificasse as regras esporte. Naquela época, os códigos de futebol utilizados eram as regras utilizadas pelas principais escolas da época, como as “Regras de Cambridge”, as “Regras de Sheffield” e as “Regras de Rugby”, que conflitavam entre si e geravam tensão entre os que eram adeptos do jogo com a mão e os do jogo com o pé.
Ao todo, ocorreram seis reuniões entre clubes ingleses entre outubro e dezembro de 1863. Os clubes fundadores da FA foram o Barnes Club, Civil Service FC, Crusaders FC, Wanderers FC, No Names Club, Crystal Palace FC, Blackheath Rugby Club, Percival House FC, Susbiton FC, Brackheath Proprietary School e Chaterhouse School. Em uma das revisões das regras, Blackheath, saiu da associação após a remoção da permissão para correr com a bola nas mãos e a de obstruir tal corrida com chutes nas canelas, rasteiras e agarrões. A equipe se uniu a outras que não concordavam com a FA e fundaram, em 1871, a Rugby Football Union (RFU), entidade reguladora do Rugby, marcando a separação definitiva dos dois esportes.
O “FA Minute Book” ficou para a história como o marco do futebol moderno, ainda que o esporte praticado em 1863 estivesse longe do futebol dos nossos dias. O campo de jogo podia ter 183 x 91 m (a medida atual é 120 x 90) e ainda se podia tocar a bola com a mão (para a parar a bola, por exemplo). O gol acontecia sempre que a bola passasse entre os dois postes da baliza (isso mesmo, independente da altura!) e sempre que ele acontecia, as equipes tinham que trocar de campo. Apesar de todas estas diferenças, estas primeiras regras foram muito importantes para a popularização do esporte.
Três anos depois, em 1866, foram feitas outras alterações importantes na história do futebol e criou-se o International Board, órgão que ainda hoje controla a regras do jogo. Foi o IB que passou a aprovar todas as grandes alterações, até chegarmos às 17 regras atuais.
Para se ter ideia do processo de evolução, a posição de goleiro surgiu em 1871 e o pênalti em 1891, mesmo ano em que o jogo de futebol passou a ter um árbitro – pasmem, pois eram os capitães que decidiam os impasses das partidas. Mais curioso ainda é pensar que foi apenas em 1912 que os goleiros foram proibidos de pegar a bola com a mão fora da área. Na era mais contemporânea, as substituições foram autorizadas em 1958, os cartões amarelos e vermelhos surgiram em 1970 e, a partir de 1992, os goleiros não puderam mais pegar com a mão as bolas recuadas com o pé.
E assim nos aproximamos do que o futebol é hoje, sem se esquecer que há 150 anos Ebezener Corb Morley e companheiros se juntaram na taberna Freemansons para colocar na casa e dar o pontapé inicial para o esporte que move multidões hoje. E olha que, mesmo com regra sendo clara as discussões sobre ela estão longe de parar.
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