POR QUE O BRASIL NÃO É A PÁTRIA DAS CHUTEIRAS PARA AS MULHERES?
Me lembro de ter visto pela primeira vez o futebol feminino num confronto entre Brasil e Noruega, disputado no dia 1º de agosto de 1996 (lógico que tive que pesquisar a data), valendo o bronze do primeiro torneio olímpico da categoria. Esse foi o dia em que descobri que mulheres jogavam bola “profissionalmente”. Me lembro de comentar com minha mãe e minha tia; “nossa, quer dizer que não é só basquete e vôlei que tem campeonato para mulheres”. Pois é, quase 20 anos depois e ainda tem gente quase nesse nível.
Depois dos jogos olímpicos, só consegui assistir alguma partida de futebol feminino na Band, que era o único canal de TV aberta que transmitia, quando não organizava também. A coisa era quase amadora, mas se via um esforço de popularizar o esporte. Haviam verdadeiras heroínas, como Pretinha, Formiga, Michael Jackson, Márcia Taffarel, Sissi, Roseli, Tânia Maranhão, Kátia Cilene, que são alguns dos nomes que me vem a cabeça daquela época. Porém, não havia apoio, não havia competições oficiais, não havia intercâmbio. A Olimpíada de Atlanta foi meio que o primeiro divisor de águas.
Depois dos jogos, o futebol feminino passou a ser minimamente comentado. Isso com muito machismo e sem nenhuma consideração com os torneios como a Taça Brasil (83 a 88), Troféu Brasil (89), Torneio Nacional (90,91) e um protótipo de campeonato Brasileiro realizado de 94 a 2001, por vezes beirando o amadorismo e sem o devido apoio das federações. Na verdade, o Campeonato Brasileiro oficial, realizado pela CBF tá completando apenas dois anos e não contempla um calendário em que as jogadoras atuem o ano inteiro.
Ainda havia quem dizia que o futebol feminino não produzia ídolos. Ai, veio a geração de Marta. A camisa dez foi eleita melhor jogadora do mundo cinco vezes, rodou o mundo dando show e foi comparada a craques do masculino (desnecessário mas algo recorrente). Era tida mundo afora como o Pelé do futebol feminino. Tinha ao seu lado jogadoras de altíssimo nível, como Cristiane, Daniela, Andréia e Maurine. Mas faltou a grande conquista. Foram duas medalhas de prata olímpicas e um vice campeonato mundial doido. O time jogou demais, deu espetáculo, mas continuou batendo na trave. Não estou chamando de geração perdida, mas temos que reconhecer que ela foi pouco explorada e não ganhou tudo o que podia.
Aí você se pergunta: mesmo evoluindo tanto, porque a seleção feminina não tem o mesmo respeito da masculina? Preconceito? Machismo? Quem sabe um pouco de tudo isso. A maioria das vezes que vejo homens falando de futebol feminino é o mesmo papo: jogo lento, chato, sem graça e vez por outra alguém comenta que uma ou outra menina é bonita. Algo que não dá para entender. Falta apoio e divulgação, pois o futebol masculino monopoliza quase todo o espaço da mídia e patrocínios. Para se ter um dia, o Mundial Feminino de 2015 só foi transmitido em TV aberta por uma emissora, enquanto o masculino para o país a cada quatro anos. A Marta lá quebrando recordes e você ai sem nem saber.
Bom, devaguei aqui e não cheguei a nenhuma conclusão. Outras potências do esporte, como EUA, Alemanha, Japão, China e Noruega, tem trabalhos permanentes e respeito pelas atletas. Coisa que no Brasil não rola. Aqui, mal temos uma liga. Quem quiser fazer carreira tem que sair para o exterior. Não existe uma cultura de incentivo ao esporte nem no masculino, quem dirá no feminino. Mas não me entra na cabeça o porque da discrepância de aceitação do futebol feminino em relação ao que acontece com as mulheres em outros esportes.
A eliminação do Brasil para a Austrália não foi nada. Me deixou mais preocupado a sensação de que, se quando disputava títulos o futebol feminino não atraía atenção, em baixa então é a coisa seria pior. Há dezenove anos atrás a expectativa era que, em vinte anos o futebol feminino estivesse no mesmo patamar do masculino. Pelo visto, infelizmente, não rolou.
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