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O MODELO DEL VALLE DE FUTEBOL

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O mundo ficou conhecendo o Independiente Del Valle em 2016, quando o outrora desconhecido time de Sangolquí, no Equador, “brotou” na final da Libertadores daquele ano. Chamou atenção por ser um time de orçamento e tamanho limitados, jogando num estádio para 8 mil pessoas, que conseguiu chegar a um feito desse tamanho na maior competição do continente. Mais um conto de fadas que não passaria de algo pontual e factual, proporcionado pelas aleatoriedades que permeiam a história do futebol sul-americano, certo?

Pois a sequência da história – uma pesquisa mais profunda para esmiuçar a estrutura por trás deste ousado clube – mostra o contrário. É isso que pretendemos discutir nesse post.

A história do clube

O Del Valle é originado de um grupo de amigos que se inspirou no Independiente mais famoso, o de Avellaneda, para criar o Independiente José Terán, em 1958. Como apontou o site Trivela, ocupou por muito tempo as ligas amadoras e teve um período de profissionalização entre 1979 e 1985, na terceira divisão, voltando a mesma divisão apenas em 1996 onde ficou alternando entre as divisões inferiores até o começo da primeira década deste século. Mais especificamente em 2007, quando adotou a forma de gestão atual. Foi a partir dos investimentos dos empresários Michel Deller e Franklin Tello que o clube começou sua revolução que o levaria até os patamares atuais.

O clube alcançou a segunda divisão dois anos após o início da nova gestão e chegou à elite em 2010, de onde até então não saiu mais. Em 2014 foi rebatizado como Club de Alto Rendimiento Especializado Independiente del Valle. O nome dá a medida da seriedade e de onde a nova gestão queria chegar com o projeto. De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, o modelo de negócios tem como pilares: gestão empresarial, infraestrutura, formação de atletas e gestão de talentos.

Os quatro pilares do Del Valle

Do ponto da gestão empresarial, destaca-se a profissionalização, com cargos remunerados em toda a estrutura, carga horária fixa e dedicação ao clube. Até existe o conselho formado por sócios, mas nenhum deles com cargos na gestão. Embora não se possa dizer se na prática exercem mais ou menos influencia na gestão, mesmo que informalmente, o modelo ao menos dificulta esse tipo de prática.

Entre os investimentos em estrutura, se destaca a qualidade do centro de treinamentos do clube – que está acima de muitos dos grandes clubes do Equador. Além disso, o clube caminha para concluir seu próprio estádio, com capacidade para 25 mil pessoas. A previsão de conclusão é para 2021, com tudo sendo feito dentro das possibilidades do clube, utilizando somente receitas de bilheteria para financiar a construção.

O clube tem muito investimento voltado para a formação de atletas, o que é sua maior característica. Além disso, o quarto ponto também se relaciona com isso. O clube possui uma gestão de talentos preocupada com educação e formação de cidadãos. Mais de uma centena de atletas moram, estudam e treinam no CT do Del Valle, recebendo formação acadêmica com professores funcionários do estado, numa parceria com o governo. Tudo para que os atletas tenham possibilidades fora do esporte, caso não se desenvolvam no alto nível.

E se engana quem pensa que a venda de atletas para se manter e pagar as contas seja o foco do clube. O Del Valle usa a formação de atletas para alimentar o time principal e fazer a roda girar, sem necessitar de grandes investimentos para compor seu plantel, já que o orçamento anual fica em torno de 5 milhões de dólares. Quase nada no futebol atual.

A gestão não gasta acima das possibilidades do clube. Segundo a reportagem da Folha, uma cota de apenas 15% das receitas do Del Valle vem de transferências de atletas. Este percentual só é maior que o de receitas com bilheteria, que é de 10%. 50% das receitas do clube vem de patrocínios e 25% de receitas de transmissão, o que mostra que o clube não corre riscos baseando seus gastos em receitas incertas.

Essa gestão de pés no chão, voltada para a formação de atletas, tem alcançado grandes sucessos. Depois do  do vice nacional em 2013 (ainda antes de ser rebatizado) e do fim do conto de fadas de 2016, o clube finalmente obteve a glória merecida. O time faturou a Sul-Americana de 2019 num verdadeiro épico, pelas mãos do jovem treinador Miguel Ángel Ramírez, superando as mais diversas dificuldades com muita competência e um futebol atual e bem ajustado.

O grande feito

O trajeto incluiu o poderoso uma eliminação com autoridade do Corinthians – que se comparado ao Del Valle, gasta em um mês o que eles têm de orçamento anual. Coloque também na conta a eliminação daquele que foi a sua inspiração, o campeoníssimo Independiente de Avellaneda.

Na final, a consagração em território pra lá de hostil. Não bastasse a invasão da torcida do adversário, Colón, enfrentando 40 mil Saballeros em Assunção, ainda houve uma chuva torrencial que interrompeu a decisão por mais de meia hora e deu contorno dramático da decisão.

No final, a consagração de um modelo bem estruturado e que esperou o tempo necessário até a consolidação. De seus planos de longo prazo até a glória no título da Copa Sul-Americana de 2019. Um grande exemplo para diversos clubes do nosso combalido futebol brasileiro, não?

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