A seleção e seu povo
Nas últimas semanas um dos principais assuntos foi o título da Copa das Confederações conquistado pela seleção brasileira, com direito a uma vitória emblemática por 3×0 sobre a poderosa Espanha, no mítico estádio do Maracanã. Em outras épocas, ficaria tudo na esfera do futebol, mas esse título em especial veio repleto de manifestações dentro e principalmente fora dos estádios, onde o povo em boa parte contestou a realização das competições da Fifa. Seria esse um sinal de uma separação entre o brasileiro e sua seleção de futebol? O país deixou de ser do futebol?
Primeiro vamos separar as coisas. O povo realmente tem mais coisas para se preocupar. O país está em uma boa fase econômica, mas é um dos mais desiguais do mundo, um dos mais corruptos e um dos que possui mais problemas sociais. O futebol sempre foi usado como forma de “distração popular” e, novamente o foi, porém não com a mesma eficiência. Movimentos populares, ou como queiram o povo, aproveitou-se da visibilidade do evento para protestar por tudo o que os afligia e, entre passagens de ônibus e gastos com a Copa, fez com que o futebol não fosse a prioridade absoluta.
Países com democracias mais e menos desenvolvidas também tem suas seleções dos mais diferentes esportes, também torcem, sofrem e por várias vezes usam essa paixão esportiva para apaziguar e, por que não, manipular sua população. Não é uma exclusividade nossa. Entretanto, alguns países conseguem dividir bem isso e sabem exigir de seus governos mais do que apenas grandes eventos esportivos para assistir.
O povo não abandonou a seleção e nem deve. O ato de cantar o hino junto da seleção, mais do que um apoio, deve ser um protesto, como tantos outros. O esporte deve fazer parte do lazer do cidadão o que não devia ter acontecido é ele se tornar uma indústria de corrupção e desvio de dinheiro. Parte disso vem da falta de cobrança por parte da classe política e principalmente da má escolha dela. O povo brasileiro precisa entender que a solução não é apenas boicotar a seleção e a Copa do Mundo (o que parece improvável), mas sim boicotar sua classe política. Ou melhor, renová-la e erradicá-la de toda a corrupção que já se tornou sinônimo da mesma.
A seleção e seu povo devem andar juntas, mas antes disso, o povo deve ter a mesma atenção com o país e não deixá-lo nas mãos de poucos que, em nome de seus interesses, aumentam a desigualdade social, muito mais grave que qualquer desigualdade técnica dentro de campo. Assim sendo, não correremos o risco de assistir a um grande jogo como Brasil x Espanha com o pesar de estar perdendo tempo com coisas superficiais, quando se há coisas mais importantes a resolver.