ATHLETICO – UM CAMPEÃO GRANDE
Estrutura invejável, modo de aproveitamento da temporada único, um modelo claro de gestão do seu futebol, um dos dirigentes mais controversos e antigos do país. Ingredientes de um clube que vive o momento mais vistoso de sua bela história: o Club Athletico Paranaense.
Justamente este momento do rubro-negro curitibano suscitou um debate: o clube é grande ou não? Há várias maneiras de se medir a grandeza de um clube. Nenhuma perfeita, todas com suas injustiças. Em todas elas, de uma forma ou de outra, obviamente o Athletico se encaixa entre os grandes clubes do país e por consequência, do mundo (ser grande no Brasil, não é pouca coisa, minha gente).
O real tamanho do Furacão
Sua torcida não é nacional como flamenguistas ou são-paulinos, mas é grande, apaixonada, presente, criativa, orgulhosa de seu amor e do objeto deste. A estrutura é impressionantemente invejável, com estádio espetacular (motivo de treta neste blog, como você pode ver aqui), centro de treinamento de ponta, tudo funciona muito bem, obrigado. Sua história não nega: campeão brasileiro, grande história regional, campeão internacional, finalista de libertadores, campeão da Copa do Brasil.
Pede-se ao leitor especial atenção na ordem dos feitos em campo descritos: fora da cronologia correta e com bastante espaço entre eles. Provando que não se trata de um momento, uma geração brilhante que brotou no clube, um técnico revolucionário, nada. É grande (no presente, contínuo).
O Athletico é daqueles clubes que, embora não façam parte do cânone dos 12 incensados como os maiores do país, está no mesmo grupo de Bahia, Goiás, o rival municipal do protagonista aqui… Clubes que têm história, grandeza e que se acabassem, o sentimento dos “doze grandões” seria o mais puro alívio.
O caminho do sucesso?
O CAP não liga pro campeonato estadual. Azar a Globo, a federação, o diabo. Serena escolha perante uma competição que tem sua importância (histórica, principalmente), mas que hoje trata-se de um problema no judiado calendário brasileiro. Enquanto todos os times estão gastando seus jogadores em jogos desinteressantes, gramados ruins, discussões enfadonhas e inúteis, o Athletico está se preparando e revelando jogadores que podem fazer a diferença no resto do ano, já que o Paranaense é disputado com jogadores aspirantes, sub 23.
Claro que houve um tempo que essa escolha se tornou sinônimo de seca de títulos. Como não é todo ano que se ganha Sulamericana, Copa do Brasil e tal, o estadual apresenta-se como única via de se levantar uma taça na temporada. A disputa desta com jogadores novos, evidentemente fez com que o CAP deixasse de ganhar várias edições. Hoje, já se evoluiu nessa estratégia de tal forma que, os jovens athleticanos já levantam a taça estadual regularmente. Todas as escolhas na vida passam pelo momento da consolidação e as consequências aparecem, com louros ou espinhos.
Fato é que, diante da escolha de “ignorar” o estadual, chega no mês de setembro e todos os times do país já estão em frangalhos, com lesões musculares, falta de gás nos segundos tempos, exceto um: o Club Athetico Paranaense.
Isso explica os belíssimos finais de temporada que o time protagoniza, desde que tomou a controversa decisão de jogar o estadual com jovens, em 2013, ano em que foi vice-campeão brasileiro – com arrancada espetacular no segundo turno – e vice-campeão da Copa do Brasil.
E a vantagem não é apenas física: como os estaduais são disputados por jogadores jovens, o clube revela muita gente muito boa nesse esquema: Marcelo Cirino apareceu em 2013 assim, mais recentemente Pablo, Renan Lodi, Bruno Guimarães, Léo Pereira… Todos jogadores decisivos e de grande destaque no clube, nascidos os campos do campeonato paranaense. E também não revela apenas bons jogadores, já que Thiago Nunes surgiu do time que disputou o Paranaense em 2018, foi efetivado após demissão de Fernando Diniz e em pouco mais de um ano à frente do clube, ganhou a Sulamericana e a Copa do Brasil.
Essa revelação de bons valores em casa sustenta uma boa gestão do futebol, sem fazer loucura, sem contratar jogador “a rodo”, tudo com bom grau de assertividade. A imensa maioria dos jogadores vindos de fora são contratados inicialmente por empréstimo. Caso o jogador dê certo, aí sim seu passe é adquirido de forma definitiva. Este é apenas um exemplo da boa gestão do clube. Outro bom parâmetro de comparação é que a folha salarial do Athletico no ano de 2019 foi cerca de UM DÉCIMO da cruzeirense, acreditem se quiserem…
2019 em grande estilo
Todo este cenário descarrega no ano de 2019: com uma boa Libertadores disputada, o título da Copa do Brasil e belíssima campanha no brasileiro, mesmo quando todos os outros clubes do país teriam puxado o freio de mão depois de comemorar a copa.
Renan Lodi e Pablo foram destaque no título da Sulamericana e foram vendidos. Houve um escândalo esquisito de dopping, em que vários jogadores foram suspensos, inclusive o capitão Thiago Heleno. Houve um momento da temporada em que o clube dispunha de apenas dois zagueiros que acabaram de subir das categorias de base para a disputa da temporada: Léo Pereira e Robson Bambu, titulares do time na final da Copa do Brasil, está bom ou quer mais?
O clube foi campeão com todos os méritos: tirou nada mais, nada menos que Fortaleza (outra grande história do futebol brasileiro no ano), Flamengo (com Jesus e tudo), Grêmio (depois de um 2×0 contra, em Porto Alegre) e o Inter na final (ganhando os dois jogos). Campanha irrefutável, coroando mais uma belíssima página do clube na história do futebol brasileiro.
Fato é que, apesar de viver às turras com as planilhas, já que a arrecadação não passa nem perto de outros gigantes sudeste afora e ter o controverso presidente não são capazes de reduzir o brilho da construção de uma estrutura invejável, o sucesso de um bom modelo de gestão do departamento de futebol e, principalmente, de deixar de encher de orgulho sua apaixonada torcida, que, esta sim, merece demais todas estas conquistas.
Parabéns aos athleticanos, grandes e legítimos campeões da Copa do Brasil 2019.
No Comment