OPINIÕES SOBRE A TEMPORADA 2018 DA F1
Resolvi escrever este artigo sobre alguns fatos que ocorreram principalmente nas férias da Fórmula 1. Eles tiveram certa repercussão na mídia esportiva de maneira geral, então achei pertinente preparar um texto com direito a doses sinceras da opinião daquele que lhes escreve.
O Halo
Defendido por alguns e detestado pela maioria, o novo dispositivo de segurança nos carros da Fórmula 1 desta temporada gerou debates acalorados – mais entre os fãs da F1 do que entre os envolvidos diretamente nos carros (pilotos engenheiros, etc.).
A verdade é que o Halo é feio pra “bater de pau” e parece mais uma solução temporária em busca de algo que, no futuro, seja mais eficiente para aumentar o nível de segurança dos carros – que hoje já é bastante alto – e que pareça menos estranho.
Mas, para este ano, a “correia de Havaianas” vai ser padrão nos carros (juro que fiz essa comparação antes das Havaianas aparecerem no carro da Force India!). Vamos ver se ele se revelará útil durante este ano, caso ocorra algum acidente mais sério ou se ele se revelará como um problema adicional se algum um piloto precisar sair rapidamente do carro.
A McLaren e seu novo esquema de cores
Para 2018 a McLaren manteve a base laranja, mas mudou seu esquema de cores de novo. O carro do time inglês está ainda longe de reconquistar o tempo de glórias nos anos 80 e em parte dos 90. Mas foi campeão na “zueira” durante as férias e pré-temporada.
A ausência de pilotos brasileiros no grid
O que era para ter acontecido em 2017 se concretizará agora em 2018. Pela primeira vez desde 1969 não haverá pilotos brasileiros no grid da Fórmula 1. A aposentadoria de Felipe Massa deixa um vácuo gigante para o Brasil na categoria. Para um país com 8 títulos de Mundiais de Pilotos, alguns vice-campeonatos, mais de 100 vitórias e que já teve até equipe no grid, se ver sem nenhum piloto na principal categoria do automobilismo mundial é agoniante.
Muitos foram os fatores que levaram a isto. Falta uma categoria de base forte no país, são poucos os pilotos de alto nível em categorias de acesso e, algo que faz muita diferença hoje em dia, não tem um patrocínio forte. Ou você acha que o Marcus Ericsson (da Sauber) é melhor que seus ex-companheiros de equipe Felipe Nasr e Pascal Wehrlein? Claro que não! Porém, com seu forte patrocínio ele se mantém como piloto titular, enquanto Wehrlein voltou a ser piloto de testes da Mercedes e Nasr foi correr em outras categorias do automobilismo.
No entanto há boas perspectivas de que o problema terá solução nos próximos anos. Pedro Piquet, filho do tricampeão Nelson Piquet, e Pietro Fittipaldi, neto do bicampeão Emerson Fittipaldi, vem ascendendo em outras categorias de monopostos. Porém a principal esperança do país, hoje, atende pelo nome de Sérgio Sette Câmara Filho. O mineiro de 20 anos vai para sua segunda temporada na Fórmula 2, principal categoria de acesso da Fórmula 1. Desta vez por um time de ponta da categoria, a Carlin/McLaren Júnior, ele tem boas perspectivas de ir para a Fórmula 1 em 2019, se fizer uma boa temporada.
A Liberty Media: acertos e erros em seus primeiros passos na F1
Havia muita expectativa sobre que rumos tomaria a F1 após o fim da “Era Bernie Ecclestone” a frente da principal categoria do automobilismo mundial. Pois é, entre acertos e erros os novos donos da Fórmula 1 fizeram pouca coisa de concreto até agora. Tá certo que até 2020 está valendo o último Pacto de Concórdia assinado entre as equipes da F1, ainda na época de Ecclestone. Mas a Liberty pretende mudar muita coisa na F1 a partir de 2021.
Com o estilo americano de “priorizar o espetáculo” os novos donos da F1 já deixaram claro que, a partir de 2021, pretendem fazer mudanças profundas na categoria, visando principalmente:
- reduzir os custos de participação com a criação de um teto de gastos,
- distribuir melhor o dinheiro arrecadado,
- eliminar privilégios,
- atrair os jovens,
- simplificar o regulamento,
- permitir que mais equipes tenham acesso a lutar pelas vitórias (hoje restrito a duas ou três, dentre as dez existentes) e estimular o surgimento de novas.
Greg Maffei, chefe da Liberty, já deixou claro que eles querem “criar a perspectiva da NFL, na qual a cada domingo todos podem vencer”.
Porém isso esbarra na resistência das grandes equipes, em especial da Ferrari. O time italiano é o que mais tem a perder com tal mudança, já que a equipe de Maranello possui um dos maiores orçamentos da categoria e o histórico “poder de veto” em relação ao seu regulamento. O atual presidente da FIA, Jean Todt, já se declarou favorável pelo fim de tal privilégio. Diante disso, a Ferrari voltou a ameaçar sair da F1 se seus interesses não forem atendidos. O que é verdade e o que é blefe só o tempo dirá.
Interatividade
Do que foi feito até agora, podemos citar uma maior interatividade entre fãs, pilotos e equipes a partir de uma ampliação acentuada da utilização das redes sociais. Mais conteúdos gratuitos disponíveis na internet e alguns episódios interessantes, como o caso do pequeno Tomá no GP da Espanha. Ele foi flagrado chorando durante a corrida, após o finlandês Kimi Raikkonen abandona em função de um acidente. A organização levou o garoto para o box da Ferrari, onde não só acompanhou o restante da corrida, como pode conhecer seu ídolo.
Grid Girls
Porém a medida mais controversa tomada pela Liberty até agora foi a exclusão das Grid Girls da Fórmula 1 a partir de 2018. Segundo o diretor de marketing da F1, Sean Bratches, a prática “não faz parte dos valores da marca, além de ser questionável com as normas sociais modernas”. Na minha opinião (vejam bem, MINHA) tal medida é inócua, patética, ridícula e “politicamente correta”. A medida, na prática, acaba gerando efeito contrário ao supostamente pretendido.
No caso das Grid Girls, o simbolismo em torno de tal medida seria o fim da “objetificação da mulher em um esporte machista”. Na prática representou o afastamento de um grupo de mulheres da Fórmula 1. E o pior: fizeram tal medida sem consultar as principais interessadas, no caso as Grid Girls. A manifestação nas redes sociais feitas por várias delas mostraram o quanto tal medida foi descabida. O resto da turma do blog discorda de mim, mas acho que foi uma decisão errada.
Mulheres pilotando
Já que o assunto é mulheres na Fórmula 1, outros dois episódios ganharam projeção durante as férias da categoria. No primeiro a piloto espanhola Carmen Jordá que já foi piloto de desenvolvimento da Lotus e Renault declarou o seguinte: “Não cabe a mim decidir o que é bom ou não para as mulheres no esporte. Mas, com a minha experiência, posso dizer que na Fórmula 1 e na Fórmula 2 – ao contrário de outros campeonatos, como kart, Fórmula 3 e GT, onde creio que as mulheres sejam capazes de conquistar bons resultados – há uma barreira, que é por uma questão física. Vejo um grande problema para as mulheres (neste sentido), e é por isso que não há nenhuma nestes campeonatos – disse Carmen, ao site “ESPN F1”.
Sua declaração repercutiu de maneira duplamente negativa: ao mesmo tempo em que disse que as mulheres não têm condições correrem na F1, depreciou outras categorias do automobilismo, como a Fórmula E. Se é verdade ou não, eu não sei. Porém, um fato é inegável: existe sim diferenças físicas entre homens e mulheres. Até onde isto pode interferir no resultado final já é outra história.
O que mais complica hoje em dia é que os pilotos são verdadeiros atletas profissionais e precisam de uma resistência muito grande para dirigir um carro de F1. No passado, pilotos fumavam nos boxes, Piquet deu uns “pegas” na Princesa de Mônaco em pleno final de semana da categoria, Mansell foi campeão com 39 anos de idade em 1993. Coisas assim são impensáveis hoje em dia. Basta lembrar que Schumacher foi um fiasco em seu retorno a Fórmula 1 aos 41 anos de idade em 2010.
No dia seguinte a esta polêmica declaração, a Sauber anunciou a contratação da colombiana Tatiana Calderón como sua piloto de testes para a temporada 2018. Com 24 anos Tatiana disputará mais uma temporada este ano pela GP3, e revezará com a função de piloto de testes da Sauber. Tatiana, a princípio fará sessões no simulador da equipe, mas ainda não sabe se terá a possibilidade de disputar treinos livres na sexta-feira, e até de disputar uma corrida, caso algum dos pilotos titulares da Sauber (Ericsson ou Leclerc), não possam fazê-lo.
A princípio isto me parece mais uma “jogada de marketing” da Sauber. Porém, se Tatiana participar dos treinos livres e vier a substituir algum dos titulares da Sauber em alguma excepcionalidade, vai ficar provado o contrário e teremos a possibilidade de após, mais de um quarto de século, vermos uma piloto disputando um final de semana da F1. A última a fazer isto foi a italiana Giovanna Amati que, em 1992, participou de 3 treinos classificatórios daquela temporada. Porém, como não conseguiu se classificar para a corrida nestas 3 etapas, acabou substituída pelo inglês Damon Hill.
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