Quando o atacante Hernane, o Brocador, marcou o segundo gol da final, decidindo o tricampeonato do Flamengo, ele fechou uma campanha surpreendentemente bem sucedida de um time de quem nada se esperava. Um time que teve três técnicos durante a competição, contratações que não deram em nada e problemas internos que vão e voltam, jamais seria apontado como favorito. Mas o Flamengo conseguiu.

Com o novo formato da Copa do Brasil, agora durando a temporada inteira e recebendo os times da Libertadores nas oitavas de final, o Flamengo passou de coadjuvante a protagonista, numa história que vamos tentar contar agora.

Com Jorginho no comando, o time não engrenou. Na primeira eliminatória contra o Remo, uma vitória por 1×0 em Belém e outro de 3×0 em Volta Redonda. Contra o perigoso time do Campinense-PB, duas vitórias por 2×1, em Campina Grande e em Juiz de Fora, com dois jogos muito equilibrados. Apesar das quatro vitórias, o bom futebol passou longe e, combinado com a insatisfação da torcida com a campanha muito ruim no Brasileirão, onde a derrota para o ridículo time do Náutico desencadeou a crise culminou com a queda de Jorginho.

Mano Menezes assumiu e deu um fôlego novo ao time. A equipe eliminou o fraco time do ASA-AL com duas vitórias, por 2×0 em Arapiraca, e 2×1 em Volta Redonda. Apesar das seis vitórias, o time continuava jogando mal, não tinha padrão de jogo e as grandes contratações Marcelo Moreno e Carlos Eduardo não rendiam o esperado.

Foi então que o time enfrentou o Cruzeiro. O confronto com o líder do Brasileirão, melhor equipe do momento, capaz de dar um show por partida era eliminação certa. No Mineirão o Flamengo suportou a pressão e saiu derrotado por 2×1, num jogo em que poderia ter sido goleado, mas acabou presenteado com um gol fora de casa, cortesia do zagueiro Dedé. Na volta, o Flamengo teve um grande reforço: o Maracanã. De volta a sua casa, a equipe passou a ter o apoio do torcida e a improvável classificação veio, com um gol salvador de Elias no fim do jogo, derrubando o grande favorito ao título.

Essa foi a primeira reviravolta rumo ao título. Derrubar o poderoso time do Cruzeiro não foi suficiente para manter Mano no cargo. A campanha desastrosa no Brasileiro fez com que o técnico pedisse demissão e o interino e desconhecido Jayme de Almeida assumiu. Por incrível que pareça, essa foi a segunda reviravolta. Jayme uniu o time, deu foco e promoveu a terceira grande reviravolta: tirou Moreno, que pouco fez, e colocou o rejeitado goleador do Campeonato Carioca, Hernane.

Daí em diante o time arrancou. Contra o Botafogo, um empate em 1×1 e uma goleada por 4×0, com um hat-trick de Hernane, que ganhou a torcida e passou a ter seu apelido de “Brocador” gritado no Maracanã lotado. O Goiás, sem Walter, foi derrotado duas vezes, em Goiânia, por 2×1, e no Rio, pelo mesmo placar.

O improvável aconteceu. O time fraco e esforçado do Flamengo chegou a final e, àquela altura, Hernane “Brocador” já era o artilheiro da Copa. O adversário era o Atlético-PR, que apesar de consistente não era uma boa equipe. O empate em 1×1 em Curitiba, numa partida de péssimo nível técnico, deu ao Flamengo uma grande vantagem para o jogo de volta. No Maracanã lotado o jogo foi morno, mas no fim, quando o Furacão precisou atacar, o Flamengo foi mais letal e em dois contra-ataques matou o jogo, com gols dos dois principais atletas da competição, Elias e o “Brocador”.

O improvável aconteceu. O questionado e limitado time do Flamengo sagrou-se campeão da Copa do Brasil. Léo Moura, aos 35 anos, levantou o taça e selou de vez a união do time e da torcida. O sonho da Libertadores voltou. O roteiro da conquista chegava ao fim. A volta por cima de jogadores como Hernane, Felipe e Chicão e a superação de problemas pessoais, como o drama de Elias e seu filho doente, deram contornos mais dramáticos ao título. Jogadores de menos destaque tiveram papel importante no título, como o ágil Paulinho, Luís Antônio e Amaral. Jayme de Oliveira mostrou entender mais de Flamengo do que muita gente e tornou um time uma equipe coesa e determinada. Deu um fim diferente a um ano que parecia ser de fracasso. Trouxe alegria de volta a nação rubro-negra.