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O DIA EM QUE O BRASIL E O MUNDO CONHECERAM GUGA

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Voltamos ao dia 8 de junho de 1997, para contar uma das maiores histórias do tênis mundial. Guga é hoje um dos gigantes do esporte, mas até o início de maio daquele ano ele não era ninguém. E essa informação é crucial para que vocês entendam o absurdo que foi esse jogo (e a campanha) de Gustavo Kuerten.

Revendo o jogo, anos mais tarde, dá para ver que todos que foram até a quadra central de Roland Garros tinham consciência de que veriam algo histórico. Guga saiu de um hotel duas estrelas, o Mont Blanc, para enfrentar Sergi Bruguera. O espanhol em questão era bicampeão do Grand Slam francês e franco favorito ao título.

Guga? As histórias sobre aquele torneio são inúmeras, e você encontra por aí aos montes. Mas o que você precisa saber é que, até aquele dia ele só tinha conquistado dois títulos de Challengers (em Curitiba e Campinas) e um de duplas na categoria juvenil. Era o nº 66 do mundo naquele momento, o que já era uma enorme feito para o brasileiro.

Guga e Bruguera antes da decisão. FOTO: Otávio Oliveira/Folhapress

O jogo começou com Bruguera confirmando seu serviço, mas quando o saque foi de Guga, o que se viu foi um atropelo. No terceiro game tivemos o primeiro duelo entre os dois na rede, vencido por Bruguera, com um cortada fulminante após uma bola por cobertura do brasileiro.

Novamente no saque, Guga não perde uma bola e confirma seu serviço. Na arquibancada, seu técnico Larry Passos se diverte com a boa atuação do seu pupilo na improvável final. No quinto game, Guga quebra o serviço do espanhol indo à rede com muita categoria. E amplia sua vantagem com mais um serviço fulminante.

Naquele momento Guga assustou o espanhol. Saques fulminantes e cruzadas indefensáveis impediam a defesa do espanhol. Os “ai ai ais” de Guga a cada erro cometido faziam a torcida se divertir. A presença de Guga era divertida. Ele não se comportava como um finalista de Grand Slam. Parecia bem mais leve que isso. Esses erros fizeram Bruguera diminuir para 4×3 o set mas Guga continuou muito intenso. Alternando largadas audaciosas com um erro bizarro de devolução que fez todos gargalharem. Guga fechou o set em 6×3, em 34 minutos.

Guga durante a decisão. FOTO: Getty Images

Guga atraiu uma multidão para a quadra. Depois das absurdas vitórias sobre Muster, Medvedev e Kafelnikov, todos queriam ver o menino cabeludo de camiseta colorida jogando.

Sacando com direito a ace, Guga rapidamente confirmou seu serviço e abriu o segundo set fazendo 1×0. No game seguinte jogou muito. Forçou erros de Bruguera e, num belo rali, mandou uma paralela indefensável. Porém a empolgação de quebrar novamente o serviço do espanhol fez Guga cometer erros bisonhos e perder dois break points. Bruguera confirmou seu saque.

Quando o saque voltava para Guga, Bruguera nem via a bola. Com um voleio impressionante numa bola devolvida pelo espanhol, o manezinho fez 2×1. Quando o saque ia para Bruguera, a história mudava. Guga forçava erros e aplicavas devoluções incríveis. Sergi tinha sempre que se salvar na rede. O espanhol forçava o serviço para tentar a vantagem e o brasileiro abusava nas largadas inesperadamente desconcertantes. Em erros incríveis, Bruguera deu dois break points a Guga, que confirmou a quebra no segundo, com ajuda da sorte e da rede – com direito a um pedido de desculpas ao espanhol.

Com 3×1 contra Bruguera se viu acuado e foi pra cima. Finalmente conseguiu marcar um ponto num game em que o brasileiro sacava. Depois de muitas trocas de vantagens, o espanhol quebrou o serviço de Guga pela primeira vez. 3×2. Guga não gostou nada e logo matou foi pra cima do espanhol, que seguia vulnerável em seu serviço. Bruguera mais se defendeu do que atacou. Mas se defendeu bem. No melhor game até então, salvou três break points do Manezinho da Ilha e confirmou seu serviço. 3×3.

Guga volta a ter um game dominante e diminui para 4×3. Bruguera devolve no seu saque e empata. O jogo se equilibra. O bicampeão de Roland Garros aparece com bolas muito difíceis e consegue dois break points contra o jovem o brasileiro. Mas Guga se mantém firme. Salva ambos, recupera a vantagem e confirma o serviço. E vai além. Domina o game seguinte, se dá ao luxo de desperdiçar um set point e com mais uma quebra encerra o segundo sete em 6×4, com 50 minutos de jogo. Isso foi o máximo que Bruguera conseguiu contra Guga.

Naquele momento o espanhol estava 50 posições à frente do brasileiro no ranking da ATP. Mas parecia o contrário. Claramente desesperado e irritado com a situação, Bruguera contrastava com um Guga sereno e tranquilo, que comia bananas e tomava isotônico como se estivesse num treino. Nem de longe demonstrava estar decidindo um Grand Slam, tipo de torneio do qual nunca havia chegado sequer às oitavas.

Naquele momento o espanhol estava quase 50 posições à frente do brasileiro no ranking da ATP. Mas parecia o contrário. Claramente desesperado e irritado com a situação, Bruguera contrastava com um Guga sereno e tranquilo, que comia bananas e tomava isotônico como se estivesse num treino. Nem de longe demonstrava estar decidindo um Grand Slam, tipo de torneio do qual nunca havia chegado sequer às oitavas.

Guga começa mal seu serviço, mas salva dois break points do espanhol, recupera a vantagem e confirma o serviço. A pequena torcida brasileira – que com certeza não estava preparada para ver um brasileiro decidir o título – comemora e grita o nome de Guga. No segundo game Bruguera vence após ter três breakpoints salvos.

O serviço de Kuerten não é tão dominante e Bruguera ameaçou uma quebra. Mas o garoto de Floripa tira jogadas da cartola, como paralelas e largadinhas incríveis. Uma delas com ajuda da rede, para a ira de Bruguera. Cansado e nervoso, ele ainda consegue empatar em 2×2.

Depois, um abraço. Quatro sets de domínio de Guga. Mesmo errando por causa da afobação, o saque do brasileiro destruiu o espanhol. Faltando um game para o título, Guga comia outra banana enquanto Bruguera parecia desolado. Guga jogou o game do título e entrou pra história.

Jornais destacam o feito de Guga.
Jornais destacam o feito de Guga. FOTO: acervo

O mundo e o Brasil passaram a conhecer Gustavo Kuerten. Seu uniforme espalhafatoso fez muito sucesso, ao ponto da organização do evento pedir para que ele o trocasse por algo mais sóbrio. Não rolou, pois era o único que ele tinha. O menino que considerava o auge da sua carreira ter chegado à terceira rodada daquele torneio, recebia o troféu do seu ídolo de infância, Bjorn Borg. De desconhecido, Guga se tornou ídolo nacional em duas semanas. Mostrou que o imponderável é também coisa do mundo do tênis.

Guga recebe o troféu de Bjorn Borg. FOTO: Getty Images

Ficha técnica

Gustavo Kuerten (BRA) 3×0 Sergi Bruguera (ESP)

Parciais: 6/3 – 6/4 – 6/2
Primeiro saque: 55% (48/87) 66% (76/114)
Aces: Guga 4×1
Duplas faltas: Bruguera 1×0
% Pontos ganhos no 1º saque: Guga – 81% (39/48) | Bruguera – 59% (45/76)
% Pontos ganhos no 2º saque: Guga – 58% (23/39) | Bruguera – 39% (15/38)
Break-points salvos: Guga – 88% (8/9) | Bruguera – 66% (12/18)
Games jogados com o serviço: Guga – 13 | Bruguera – 14
Quebra de saques: Guga – 33% (6/18) | Bruguera – 11% (1/9)
Total de pontos ganhos: Guga – 57% (116/201) | Bruguera – 42% (85/201)

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