EMOÇÃO DE MENINO NO PACAEMBU
E teve ainda todas as memórias físicas e mentais no Museu do Futebol
E este escribra de trajetória errática, depois de ser promovido a correspondente internacional e além-mar deste blog, volta a passar aqui para contar um pouco da emocionante experiência que foi visitar o Estádio do Pacaembu em São Paulo e seu Museu do Futebol.
O Pacaembu me traz boas recordações de uma época em que comecei a curtir pra valer o futebol e logo depois a acompanhar pela TV vários jogos de qual campeonato fosse, no início e durante a adolescência.
Pacaembu me lembra jogos da Copinha, a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Jogos dos times do São Paulo de Jamelli, Catê, Rogério Ceni & Cia, do Corinthians de Marques e da Portuguesa do craque Denner, Josias, Tico e Sinval e, anos mais tarde, de Alex Afonso, Rafael Iotte e Kesley.
Assisti pela TV outros jogos memoráveis no Pacaembu, do Corinthians de Marcelinho Carioca. Do São Paulo de Telê Santana, Raí, Müller, Palhinha, Zetti, Cafu. Do Palmeiras de César Sampaio, Edmundo, Evair…
E então neste último feriado finalmente decidi ir a São Paulo como turista pela primeira vez. Em outras passagens pela megalópole brasileira, que é, na minha opinião, o que o Brasil tem de global e de primeiro mundo, (entre outras cidades como no Sul do país), estava sempre a trabalho, ou procurando trabalho, ou de passagens rápidas ou resolvendo coisas burocráticas.
Desta vez foi de “turistão”. E claro, fui ao Pacaembu, primeiro para conhecer o estádio, mais importante para mim até do que conhecer o Museu do Futebol.
Indo ao Pacaembu
Que bacana que foi descer a pé pelas ruas da Consolação, um bairro muito bonito de casas e ruas charmosas e aí chegar numa das laterais do estádio, ali, no meio do bairro, apenas uma rua separando casas e o muro do estádio e suas torres de iluminação, já ver a curva da ferradura, ver parte da arquibancada do outro lado.
E foi com olhos de criança ao ver um brinquedo novo que fiquei ao chegar defronte à entrada principal, ver sua histórica fachada onde se lê na elegante tipologia: ESTÁDIO MUNICIPAL PAULO MACHADO DE CARVALHO.
Do lado de fora já se vê que o Pacaembu e sua arquitetura da década de 40 estão muito bem conservados. Seu estilo, ao mesmo tempo imponente e simpático, continua ali. E logo ali, abaixo de seu nome, um pequeno hall e depois o portão aberto de onde já via o gramado e a arquibancada. Emocionante poder entrar ali e chegar ao gramado. Confesso que os olhos encheram de lágrima, de uma emoção boa, uma satisfação, de um sonho realizado estar ali, ver de perto o Pacaembu. Parece bobo para alguém com quase 40 anos de idade, mas foi mesmo uma volta à infância e adolescência nas quais o futebol era tão presente, alegre e vivo. Voltei a ser menino ali.
Os cidadãos podem entrar livremente, sem pagar nada, e chegar ao gramado. Gramado cercado, protegido, claro, de um templo do futebol. E estava sendo cortado e tratado com carinho pelos funcionários. E havia ali algumas pessoas fazendo sua corrida matinal na pista em volta do campo, famílias passeando com seus bebês em seus carrinhos. Clima de sol, tranquilidade e emoção.
Por dentro, se vê também que o estádio ainda mantém muito de épocas passadas. Nesses mais de 75 anos de existência, passou por reformas, mas nada que o deixasse sem ser confortável e aconchegante. O Pacaembu é mesmo um monumento!
Antes de entrar no Museu do Futebol, passei pela boutique. Réplicas de camisas históricas, não só dos times paulistas, mas de outros times brasileiros e de seleções nacionais. Gostei particularmente de ver réplica da camisa da seleção brasileira, ainda com CBD no escudo, da seleção tricampeã de 1970. Da lindaça camisa da Holanda de Cruijff de 74. Das atuais, vi um detalhe bem legal que não conhecia na camisa do Santos, o escudo de uma coroa estilizada que identifica o time como o Reino do Futebol, alusão, claro, ao seu maior craque dentro de campo, Pelé. E uma retrô oficial do Sport Recife, com um escudo lindo, parecido com o do Corinthians.
Passada a vontade de levar um monte de coisa, finalmente me dirigi ao museu. Ticket muito barato, apenas R$10,00. Na entrada você já é impactado ao dar de cara com paredes repletas pelo tanto de posters, cartazes, flâmulas, escudos, todos emoldurados. Tanta história junta e misturada, um mosaico sem ordem nenhuma que encanta. De ficar boquiaberto.
O Museu do Futebol
Nos andares de cima, atrações com mais recursos. Em um dos salões, você se vê frente a frente com projeções de craques do passado, alguns nem tão do passado assim. Logo já vi Gérson, o Canhotinha de Ouro, mestre dos lançamentos. vestindo a camisa do São Paulo. A projeção é feita num vidro e se funde com a do próximo craque. São várias pelo salão. Vi Romário, Ronaldinho Gaúcho, Taffarel, Doutor Sócrates, Bebeto, Julinho, Falcão, Garrincha, Tostão…
Numa outra área, há vídeos com jornalistas, narradores e comentaristas, cada um contando sobre um gol histórico. Como atleticano, fui logo ver e ouvir sobre o gol de Dario Peito de Aço, o Dadá Maravilha, sendo beija-flor e parando no ar fazendo o gol do título de Primeiro Campeão Brasileiro do Galo em 1971, comentado por Milton Neves. Nos lados da sala, outro tipo de atração, voltar ao tempo do rádio, veículo que popularizou o esporte bretão e que até hoje cativa milhões de ouvintes por todo o mundo, Muito legal poder sintonizar algumas rádios e ouvir gols nas vozes de narradores que entraram para a história do futebol. Escolhi um que traz recordações da infância: Osmar Santos, e seu famoso bordão “Pimba na gorduchinha”.
Como o museu fica embaixo da arquibancada do estádio, fizeram algo muito legal, um jogo de telões num ambiente escuro, passando apenas momentos de vibração, gritos e cânticos típicos de várias torcidas Brasil afora. Imagino que havia ali também várias caixas de som em posições diferentes. No momento que vi e ouvi, era a torcida do Atlético-PR. Para quem já frequentou e muito arquibancada de estádio, mais emoção.
Em outra sala, mais quadros como na entrada, mas agora de fotos e reportagens, a maioria bem antiga. É para se perder no meio de tanta curiosidade, personagens do esporte. Destaque para fotos e matérias sobre equipes de futebol feminino, algumas formadas há muitos e muitos anos, times precursores, pioneiros, de transgressoras que desafiaram os costumes machistas em suas épocas, costumes que muitos ainda insistem em querer impor na nossa cultura e no futebol.
O museu tem ainda fotos em telas de TV agrupadas por cada Mundial de Seleções, contextualizadas em suas épocas, ao lado de notícias de acontecimentos mais importantes para a humanidade, as sociedades, as nações e países, como guerras, fatos econômicos, descobertas científicas e decisões políticas. Sem deixar de lado, claro, outros elementos culturais importantes. Muito legal ver no mesmo conjunto de fotos uma de Garrincha e companheiros na década de 60 e uma dos Fab 4 de Liverpool, os Beatles. E ainda junto a uma do astronauta Neil Armstrong.
Fui lá admirar uma que respeito muito, a seleção alemã de 1990, a primeira da espécie que pude ver com seu esquema tático bem montado, com toda sua organização, disciplina, uma máquina com seus motores e peças funcionando em sintonia, comandada fora de campo pelo Kaiser Franz Beckenbauer e dentro de campo por Lothar Matthäus e abrilhantada por outros craques como Andreas Moëller, Thomas Hässler e Jurgen Klinsmann. Tinha ainda Littbarski e Völler. E os competentes soldados Illgner, Kohler e Buchwald. Time que venceu a então campeã Argentina de Maradona, que havia eliminado nosso Brasil. Revi com gosto também a seleção brasileira de 94, por causa de Taffarel e Romário principalmente.
O museu conta ainda a história da bola e da chuteira, com exemplares de modelos bem antigos até os mais atuais. Fiquei surpreso com as salas que explicam as regras do jogo, entre elas a mais discutida, a do impedimento. Muito divertida a parte na qual contam fatos curiosos como o jogo em que todos os 22 jogadores em campo foram expulsos, relembra personagens e dá significado a algumas expressões típicas do ludopédio, como zebra, caneta, véu da noiva, olé, oxo, pelada, folha seca. Dos jogadores lembrados, gostei da presença de Telê. Isso mesmo, como jogador e seu apelido Fio de Esperança. Não o vi jogar, não sei se foi craque como outros ali, mas sem dúvida foi o mais genial treinador que já vi comandar uma equipe de futebol.
Em outra sala, há cabines formadas por telas de metal perfuradas que juntas quase ficam redondas, para que entremos dentro das bolas para ver dribles, gols, defesas e, o que achei mais interessante, rever o Canal 100. Em outro lance embaixo da arquibancada, as bandeiras de grandes clubes brasileiros penduradas em ordem alfabética, lado a lado, para serem admiradas.
A interatividade marca presença em 2 mini campos de futebol projetos no chão, no qual se pode tocar e chutar uma bola virtual para tentar vencer seu oponente real, outra pessoa, marcando quantos gols quiser. Jogo nada fácil, pelo menos para 2 adultos. Vi dois meninos bem pequenos correndo e se divertindo à beça! E a interação fica mais interessante com a chance de bater um pênalti com uma bola real para um gol e goleiro virtuais. Essa atração forma fila. Quase todos querem ir lá e provar que são bons de bola, ou ao menos, de pênalti. Desta vez, no mundo real e virtual, me dei bem, marquei o gol com um chute de velocidade de 47 km/h! É muito, é pouco? Não sei, só sei que foi assim – diria Chicó, do “Alto da Compadecida”, se fosse jogador de futebol.
2 Comments
Já visitei este museu duas vezes , uma sozinho e outra com meus filhos ! Uma viagem fantástica pela história do futebol brasileiro e uma forma muito legal de reviver a nossa infância como amantes do futebol .
Excelente texto.