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BRASIL X EUA DE 94: O AUGE DO BASQUETE FEMININO BRASILEIRO

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No ano em que completamos 25 anos do título mundial do Brasil no basquete feminino, voltamos no tempo até 11 de junho de 1994, para o duelo entre Brasil x EUA que definiria uma das finalistas no Mundial de Basquete da Austrália. O maior título da geração de Janeth, Paula e Hortência viria depois daquela partida épica contra as americanas.

Para recontar a história daquela partida convidados um especialista no assunto: Renan Ronchi, do Na Era do Garrafão, foi o responsável por falar sobre esse jogo histórico.

Brasil campeão mundial feminino
Manchete de jornal da época, após a conquista do histórico título do basquete brasileiro, em 1994. FOTO: Reprodução

O contexto do jogo

Antes de tudo, é necessário contextualizar o momento das duas equipes.

Os Estados Unidos estavam passando por um processo de renovação de sua seleção. Jogadoras que dominaram os anos 80 como Cheryl Miller e Cathy Boswell não estavam mais jogando. Teresa Edwards e Katrina McClain, os principais nomes daquele time, já estavam na casa dos trinta e poucos anos. A equipe estava começando a dar espaço para nomes como Lisa Leslie, Dawn Staley e Sheryl Swoopes, todas entre 19 e 23 anos. Ainda assim, era a óbvia favorita para o torneio.

O Brasil, por sua vez, também estava se renovando. Após uma performance muito aquém do esperado nas Olimpíadas de Barcelona houve uma renovação completa da comissão técnica e o novo grupo, liderado por Miguel Angelo da Luz, deu espaço à muitas jogadoras novas que se destacavam em seleções de base como Alessandra, Leila Sobral, Cintia Tuiu e Helen Luz, todas na faixa dos 20 anos. A ideia era rodear o trio já consolidado Paula – Hortência – Janeth com esse núcleo e criar um sistema ofensivo que desse toda a liberdade criativa para que esse trio pudesse jogar o mais a vontade possível.

Os times

As duas equipes chegavam na semifinal em situações diferentes. Os EUA não tiveram grandes problemas em nenhum jogo das duas primeiras fases, vencendo com certa facilidade todos os seus oponentes. O Brasil, por sua vez, havia feito uma primeira fase abaixo do imaginado. Na segunda fase, uma derrota frustrante pra China (que viria a ser o adversário das finais), uma vitória massacrante em cima de Cuba e uma vitória emocionante contra a Espanha, que tinha naquele momento a melhor geração de sua história até então. O time de Blanca Ares e Marina Ferragut ficou na frente o jogo inteiro, chegando a abrir 12 pontos, mas as brasileiras se recuperaram lideradas por uma performance espetacular de Janeth nos minutos finais. Brasil, portanto, passou em segundo no grupo e encararia os EUA na semifinal.

Historicamente os EUA sempre superaram o Brasil em dois aspectos: o físico e a defesa. Suas jogadoras costumam ser mais altas e mais fortes que as brasileiras, portanto costumam apresentar um sistema ofensivo que privilegia jogadas no garrafão. O bom preparo físico também garantia uma defesa mais agressiva e intensa, além da óbvia diferença de profundidade nos elencos. O Brasil, por sua vez, era conhecido por um jogo de velocidade, pontuando bastante em transição aproveitando a visão de jogo fura da curva de Magic Paula e do arsenal ofensivo extenso da própria Paula e das alas Hortência e Janeth. O plano de jogo era garantir domínio nos rebotes, impedindo segundas chances das americanas no garrafão brasileiro, e uma defesa apurada no perímetro que impedisse que o passe chegasse com boa qualidade para as pivôs norte-americanas.

O jogo

O Brasil começa o jogo impondo seu próprio ritmo, pontuando rápido com cestas de Paula e Janeth. A jovem Alessandra desde o primeiro minuto se mostra fundamental na proteção do aro, dominando os rebotes e não deixando as pivôs americanas pontuarem com facilidade. Com a entrada de Stanley e Leslie, os EUA se recupera e cadencia melhor seu jogo de meia quadra, tornando o placar equilibrado novamente. Foi a vez de duas outras jogadoras se destacarem pelo Brasil: Hortência, que começou errando seus arremessos mas logo ‘esquentou’ a mão e voltou pro jogo, e a jovem Cintia Tuiu, que entra no lugar da carismática Ruthão e faz um trabalho defensivo intenso bloqueando as linhas de passe da seleção americana. Nos minutos finais do primeiro tempo (lembrando que o basquete FIBA na época se jogava em dois tempos de 20, não quatro quartos) entra um dos principais nomes desse jogo: Leila Sobral, até então conhecida mais por ser irmã da Marta, uma das grandes pivôs brasileiras que não estavam no mundial. Com as jovens pivôs garantindo a intensidade defensiva necessária, foi a vez do ‘big three brasileiro’ brilhar, abrindo uma vantagem de 10 pontos naquele momento. “Foi um baque pra elas” comentou Magic Paula no episódio sobre o torneio do podcast Na Era do Garrafão. “A gente estava acostumada a jogar atrás no placar, elas não estavam”.

Uma boa sequência liderada por Katrina McClain, até então apagada no jogo, e Ruthie Bolton colocou os EUA de volta no jogo e o placar voltou a ficar parelho. Mas no segundo tempo as experientes pivôs americanas passaram a sentir o cansaço de lidar com as jovens pivôs brasileiras. Os Estados Unidos passaram a cometer erros que não costumam cometer, ao mesmo tempo que passaram a ceder mais espaço para os arremessos de Paula e Hortência, além das segundas oportunidades conquistadas por Leila Sobral nos rebotes.

Uma história curiosa sobre aquele jogo é que, nos minutos finais, Leila Sobral sentiu o pé. Após um pedido de tempo no final do jogo, Hortência reparou que ela não estava voltando pra quadra e foi questionar o técnico. Ao ouvir que ela estava com dores, ficou indignada. Voltou ao banco de reservas e puxou Leila de volta pra quadra pelo braço. “Amanhã você trata”, disse Hortência para a jovem ala-pivô, “agora você vai jogar”.

O Brasil acabaria aproveitando esse momento e vencendo o jogo por 110 a 107. A defesa brasileira segurou o ataque americano à 35% de aproveitamento nos arremessos, 20 pontos percentuais a menos que a média da equipe na competição. O trio Paula-Hortência-Janeth terminaria com, respectivamente, 29, 32 e 22 pontos. Leila Sobral foi a grata surpresa do dia, com 13 pontos e 8 rebotes em 22 minutos jogados.

Após essa partida, o Brasil enfrentaria a China na final e se sagraria campeão mundial de basquete, quebrando a hegemonia de Estados Unidos e União Soviética da história do torneio no feminino. A seleção americana derrotou as anfitriãs australianas e ficou com o bronze da competição.

Brasil Campeão Mundial de Basquete Feminino 94
Brasil Campeão Mundial de Basquete Feminino 94. FOTO: CBB

Ficha Técnica

LOCAL: Sydney Entertainment Centre, Sydney, Austrália
DATA: 11 de junho de 1994
ÁRBITRO: 
BRASIL – Ruth, Alessandra, Janeth, Paula e Hortência. Leila, Roseli e Cintia. Técnico: Miguel Ângelo da Luz
EUA – Andrea Lloyd, K. McClain, D. Charles, A. Bolton e Teresa Edwards. Staley, Swoopes, Azzi, Lisa Leslie e C. McGhee. Técnico: Tara VanDerveer.


Abaixo, você pode ouvir o episódio do podcast Na Era do Garrafão com Magic Paula, tratando exatamente do Mundial de 1994.

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