A reformulação e o futuro da seleção de vôlei masculino
No último dia 21 de Julho, o Brasil foi atropelado pela Rússia na decisão da Liga Mundial, em Mar Del Plata, com um 3×0 imponente que deixou a todos atordoados. Apesar de ainda ser cedo, já surgiram alguns questionamentos sobre a queda de rendimento do time. Perguntas sobre a necessidade de manter Bernandinho como técnico e sobre a forma como está sendo feita a renovação da seleção já começam a ser feitas.
Isso se deve em parte ao público ter se acostumado com a seleção supercampeã da “Era Bernardinho”, que desde 2001, já conquistou os Jogos Olímpicos de Atenas (2004), foi tricampeã mundial (2002, 2006 e 2010), octacampeã da Liga Mundial (2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2009 e 2010), além de títulos sul-americanos, pan-americanos, Copas do Mundo e outros. A derrota em Pequim já desencadeou uma pequena reformulação na seleção, que visava o ouro em Londres, mas, com a derrota traumática para a Rússia, a renovação tornou-se muito necessária. Além disso, o rendimento da seleção caiu muito. Tomando como base as Ligas Mundiais, que são disputadas anualmente, das dez edições disputadas entre 2001 e 2010, o Brasil venceu oito, perdendo apenas as que decidiu em casa. Depois disso, foram três edições, com dois vices e uma inimaginável sexta colocação em 2012. Não combina com a seleção que o torcedor se acostumou a ver.
A renovação tem sido feita. A “fase de transição”, como Bernardinho chama a reformulação, começou com o fim da “Era Giba”, que aos 36 anos deixou de ser convocado. Ícone do voleibol mundial, Giba, assim como Serginho, Gustavo, Ricardinho e Rodrigão, encerrou um ciclo recheado de títulos. Foi preciso fazer uma mescla de novos talentos, como Lucarelli, Ary, Isac e Maurício Souza, com atletas que já estavam em Londres e se tornaram líderes por conta de sua rodagem, como Lucão, Vissotto e Bruninho. Isso refletiu na média de idade da equipe, que era de 31 anos, em Londres, e de 27,68 anos, na decisão da Liga Mundial deste ano, contra a Rússia.
Entretanto, outro fato curioso marca essa renovação. Alguns jogadores que passaram a ter chance de disputar uma vaga de titular, não são tão jovens. William, João Paulo Bravo, Raphael, Alan e Mário Junior, tem mais de 30 anos, e não tinham espaço antes, por serem contemporâneos de uma geração intocável de Giba.
No que diz respeito às posições, ainda existe muita incerteza. Dante é o mais experiente do atual grupo, com 32 anos. Ainda joga em alto nível, mas é que a parte física o deixa pra traz. Não pode ser a principal opção. Já Lucarelli é a grande esperança para o futuro e, no momento, já é a maior referência da equipe. Tem voado em quadra.
Outra grande esperança, Maurício Borges deixa claro que potencial mas ainda não engrenou e ficou devendo na última Liga Mundial. Lipe não mostrou a que veio e, por enquanto, Thiago Alves, que pouco atual na competição, ainda é uma das melhores opções para o banco. Na atual conjuntura, com Murilo voltando de contusão, ele e Lucarelli seriam os ponteiros da seleção.
A posição de oposto tem um briga boa. Vissotto é o preferido de Bernardinho, por sua maturidade, mas Wallace tem jogado muito mais, nas chances que teve, principalmente na fase final da Liga Mundial, em Mar Del Plata, quando Vissotto se machucou. Pelo momento, daria Wallace, mas pelo experiência dá Vissotto.
Lucão é disparado nosso melhor central e titular absoluto. Sidão joga mais que Éder e, voltando de contusão, será o primeiro reserva. Éder, Isac e Maurício são outras opções, mas menos completos que Sidão e Lucão.
Depois de anos com Serginho, a seleção tem em Mario Jr, seu líbero. Infinitamente inferior ao antecessor, mas com um jogo consistente, vai ser o titular, tendo a sua sombra Alan.
O bicho pega quando o assunto é levantador. Bruninho ganhou status de capitão e a preferência de Bernardinho, seu pai. Não é o pior do mundo, mas é muito inferior ao “mago” William, que vem sendo consecutivamente o melhor levantador da Superliga. O que pesa contra o levantador do Cruzeiro é o fato de ser baixo para os padrões internacionais, o que é compensado por ser muito mais preciso que Bruninho. Uma terceira opção é Rapha, ex-jogador do Trentino, que foi pouco testado e é quase um desconhecido em nosso país. Por enquanto dá Bruno, mesmo não sendo o melhor.
Em tese a seleção masculina que participou da Liga Mundial é o que temos de melhor, faltando apenas Sidão e Murilo. Tirando os constantes problemas de contusão, não vamos sair muito disso. Essa é a cara da renovação da seleção brasileira de vôlei masculina, que precisa se encontrar e recomeçar um novo caminho de títulos. Caminho esse que, no momento, tem sido trilhado pelos russos, que curiosamente também estão num processo de reformulação, porém menos aguda que a nossa.
Agora é esperar e ver quanto tempo vamos precisar para voltar a ter alegrias com a seleção nessa nova conjuntura do vôlei mundial, num período de entressafra, com muito menos brilho do que em outras épocas.
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