A epopéia das categorias de base no Brasil
As categorias de base são sem dúvida a principal fonte de renovação do futebol em qualquer lugar do mundo e, no Brasil, sempre foram fartas as opções de novos talentos a cada competição realizada. Entretanto, já faz um tempo que não saem tantos talentos assim e, cada vez mais, faz-se necessário organizar e atribuir valor às competições de base. Parece que não temos esse hábito ainda.
Se antes os times estavam falidos e suas únicas opções para montar equipes eram os jogadores da base, hoje, com melhores condições financeiras para manter e até contratar bons jogadores, fica muito difícil achar espaço para os meninos da base. O que fazer com os garotos?
Uma opção seria oferecer boas competições para que eles disputassem, mas no Brasil o que acontece não é exatamente isso. A mais tradicional competição do calendário de base é a Copa São Paulo de Futebol Júnior, que já revelou inúmeros talentos. Além dela, a nível nacional, temos a Copa do Brasil, organizada pela CBF, e o Campeonato Brasileiro, organizado pela Federação Gaúcha. Sim, é confuso assim mesmo. Além disso, a CBF organiza as Copas do Brasil Sub-15 e sub-17 e, pelo Brasil afora, são realizados os estaduais – ou algo parecido com isso – e alguns torneios esporádicos, muitas vezes organizados por patrocinadores. Todos, nem um pouco integrados.
Vamos pontuar algumas situações marcantes. A CBF, que devia centralizar e organizar tudo, só em 2008 organizou uma competição oficial, a Copa do Brasil, criada em resposta ao Campeonato Brasileiro Sub-20, que teoricamente devia ser de sua organização, e que foi uma iniciativa da Federação Gaúcha. Criado em 2006 e sendo plenamente aceito pelos clubes, incomodou a CBF que colocou sua Copa na mesma época, dezembro. Sim, isso mesmo, as duas competições ocorrem ao mesmo tempo e, como consequência, alguns times prestigiam a Copa e outros o Campeonato, reduzindo a credibilidade e prejudicando a competitividade. Prova disso foi o último mês de dezembro em que o Cruzeiro venceu o Campeonato Brasileiro sobre o Inter e o Vitória venceu a Copa contra o Galo. Se as quatro equipes tivessem mandado força máxima para uma única competição, o nível seria muito mais alto, o que só faria bem aos clubes.
Curiosamente, as duas competições mais famosas são a Copa São Paulo, que acontece em Janeiro, organizada pela Federação Paulista, e a Taça BH de Futebol Júnior, realizada pela Federação Mineira, disputada em Julho ou Agosto. Nenhuma delas nunca incomodou a CBF, mas também não recebeu o devido apoio. Às vezes ainda acontece algumas bizarrices, como por exemplo, o fato da Copa São Paulo que, para não se misturar com a Copa do Brasil – coisa que não faz o menor sentido -, teve sua idade máxima reduzida de 20 para 19. Realmente, deve ser uma ideia genial suprimir as categorias de base…
Enfim, isso tudo é apenas a ponta do iceberg. As seleções de base privilegiam jogadores indicados por empresários e nem sempre olham para os times de base. Várias equipes, principalmente do interior, recebem de empresários e patrocinadores para “alugar” suas categorias de base, montando equipes para disputar as competições acima citadas e depois desmanchando as equipes. Poderíamos enumerar várias coisas erradas na “estrutura” de base no Brasil, mas isso pode ser retomado nos próximos posts. Mas isso foi só um alerta de uma realidade que faz com que muitos jovens atletas partam cedo para o exterior e, porque não dizer, provoca uma escassez de bons valores para as equipes.
Temos uma Confederação que não organiza as categorias de base, times que focam em títulos ao invés de focar na formação de jogadores e uma série de outros problemas e uma grande inveja de equipes organizadas como o Barcelona, que trata as categorias de base melhor do que muitas equipes profissionais do Brasil.
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