SOBRE MÚSICAS, CARNAVAL E ESPORTE
Samba, frevo, marchinha, jazz… É amigos, o Carnaval tem várias facetas musicais e, seja na rua ou na avenada, as músicas fazem a alegria de todo o tipo de folião. Mas algumas transcendem esse papel e se tornam quase hinos para algumas torcidas. Outras já nascem dedicadas a um clube. E se a gente olhar bem, dá pra ver como o lado cultural do carnaval e do esporte são bem parecidos. Veja alguns exemplos:
MARDI GRAS
“When The Saints Go Marching In (Who’s dat)?” (1938) – Katherine E. Purvis / James M. Black
E sim, vamos falar do Mardi Gras, o carnaval de New Orleans, o mais popular dos EUA. O tema que tomou conta das arquibancadas do Superdome é “Who’s dat?”, uma versão de “When The Saints Go Marching In”, talvez o jazz mais famoso do Mardi Gras, mundialmente famoso na voz de Louis Armstrong.
A torcida do New Orleans Saints tornou “Who’s dat?” um hino da sua torcida, tornando ainda mais forte a relação do clube com a cidade. Seja no carnaval ou no Mardi Gras.
MURGA
A Murga é um ritmo de origem espanhola muito forte no carnaval da Argentina e do Uruguai. No Uruguai, sua ligação é muito forte com o candombe e as competições de murga são muito tradicionais. Na Argentina, a intensidade é bem menor, e as murgas tem um caráter muito mais de bairro.
“Muriendo de Plena” (2000) – “Negro” Rubén Rada
Com muita influência do Candombe uruguaio, essa canção de Rubén Rada é uma das mais famosas da música uruguaia e um ritmo muito comum no carnaval uruguaio.
E a torcida do Defensor Sporting aproveitou a música de “El Negro” para mandar um recado para seus adversários do Danúbio. Curiosamente, o estádio do Defensor fica no Parque Rodó, muito próximo do Teatro de Verano, onde acontece as competições de Murgas, tradicionais do carnaval de Montevidéo.
“Carnavale Toda La Vida” (1992) – Los Fabulosos Cadillacs
Como dito antes, na Argentina a murga não é tão competitiva como no Uruguai. Com uma relação muito mais de bairro, as murgas acabam ficando muito próximas dos times de sua região de origem. Abaixo, vemos a torcida do Boca cantando “Por qué será”, uma versão de “Carnavale toda la vida”.
FREVO
Em pernambuco, frevo e futebol caminham juntos. Na verdade é comum que o clube tenha um bloco de frevo ou que as composições sejam diretamente ligadas a uma homenagem ao clube. Mas isso não deixa de lado as boas histórias, como compositor compondo frevo para os rivais.
“Santa Cruz de Corpo e Alma” (1948) – Capiba
Um dos casos mais curiosos é o do frevo dedicado ao Coral. “Santa Cruz, Santa Cruz, junta mais esta vitória/Santa Cruz, Santa Cruz, ao teu passado de glória…” dizia a composição de Capiba, de 1948, mas que só foi lançada anos mais tarde. Como o clube brigou com a Federação Pernambucana e não disputou o Campeonato Estadual, ela ficou guardada por dez anos e só foi lançada pelo compositor quando o time sagrou-se supercampeão em 1957.
“Pelo Sport, Tudo” (1936) – Nelson Ferreira
“Timbu Coroado” – Nelson Ferreira
E olha o Nelson Ferreira aí de novo, compondo para os rivais! Ele compôs o hino do Bloco Timbu Coroado, que sai pelas ruas do bairro dos Aflitos, no Recife, no domingo de Carnaval e pertence ao Clube Náutico Capibaribe.
Para os alvirrubros, também fez o frevo “Come & Dorme”, talvez a música que mais esteja associada ao futebol do Alvirrubro pernambucano, que chegou a ser hino do clube nos até os 60.
OS SAMBAS ENREDO
“Festa para um rei negro (pega no ganzê)” (1971) – Zuzuca
O compositor Zuzuca tinha a missão de inovar para vencer a acirrada disputa de 1971. Ele quebrou a cabeça para transformar em samba o enredo “Festa para um rei negro”, e acabou quebrando também com o padrão didático dos sambas-enredos que perdurava até então. Assim surgiu o refrão “Ô-lê-lê / Ô-lá-lá / Pega no Ganzê / Pega no Ganzá”. Com a letra fácil e versos quase infantis, que contava a história da vinda de príncipes africanos ao Brasil, o samba do Salgueiro revolucionou os desfiles do Rio criando um novo eixo para os desfiles, sendo quase um marco da profissionalização do carnaval carioca. E além do título, ganhou notoriedade além do sambódromo.
A versão “Ô-lê-lê / Ô-lá-lá / (o nome do seu time, atleta ou seleção) vem aí / E o bicho vai pegar!” virou música certa em ginásios, estádios e arenas do Brasil todo e depois do mundo. Ganhando até uma versão em catalão, feita pela torcida do Barcelona.
“Peguei um Ita no norte (Explode Coração)” (1993) – Demá Chagas, Arizão, Celso Trindade, Bala, Guaracy, Quinho
E olha Salgueiro de novo! O samba-enredo de 93 além de contribuir para o título do carnaval carioca daquele ano, eternizou o refrão de “Explode, coração, na maior felicidade” virou febre de quase todas as torcidas no país.
Além dos dois casos mais emblemáticos da Salgueiro, temos enredos da Mangueira, como o “Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu” (1994), “É Hoje” (1982) da União da Ilha e o “Sonhar não custa nada” (1992) da Mocidade Independente de Padre Miguel, que aparecem nas arquibancadas de quase todas as torcidas do Rio.
Ainda dá para citar os sambas direcionados a clubes, como o “De Gama a Vasco, a epopeia da Tijuca”, de 1998, ano em que a Unidos da Tijuca homenageou o centenário do Vasco e o “Uma vez Flamengo” de 95, que marcou a homenagem da Estácio de Sá para o centenário do Flamengo.
“Me dá a mão, me abraça (O que é bom dura pra sempre)” (1995)
A identificação das torcidas organizadas com sambas-enredos também acontece quando elas próprias tem sua escola de samba, como é o caso mais emblemático da Gaviões da Fiel e da Mancha Verde, em São Paulo. Um exemplo de música que até hoje aparece nas arquibancadas é o samba enredo da Gaviões de 1995, “Me dê a mão, me abraça”.
CARNAVAL DE COLÔNIA
“Viva Colônia” (2004)
Para terminar o carnaval mais famoso da Alemanha. Isso mesmo. Muita gente não sabe, mas a cidade de Colônia tem um dos maiores carnavais da Europa.
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