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Futebol é cultura no Museu Brasileiro do Futebol

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Visitar o Mineirão em dia sem futebol deixou de ser um programa sem graça faz tempo. Além das atividades possíveis na esplanada do estádio, o Museu do Futebol Brasileiro trouxe uma nova perspectiva para o estádio: unir cultura e futebol.

Depois de um bom tempo planejando, finalmente realizamos nossa visita. Chegamos numa sexta, véspera de carnaval, e fomos extremamente bem recebidos pelo Seu França, uma verdadeira lenda do Mineirão, com sua vida inteira ligada ao Gigante da Pampulha. Mesmo cheio de trabalho, o assessor de imprensa do estádio, Rivelle Nunes, responsável pelo agendamento da visita, foi nos receber. Ele nos apresentou Thiago Carlos Costa, coordenador do museu, que seria nosso guia nessa imersão pela história e cultura relacionadas ao futebol.

Apresentação do museu do futebol
Rivelle e Thiago no início do tour pelo Museu Brasileiro do Futebol. FOTO: Fran Pereira/StartSports

Não vamos relatar aqui uma visita linear, descrevendo o que encontramos nesse acervo especial. Nosso papel é destacar a importância desse espaço para preservação da cultura e ajudar a propagar a ideia de que o futebol pode e deve ser visto como algo maior que um jogo. Ele é capaz de explicar muito do que fomos e somos. E estávamos mesmo precisando de um museu assim.

Para um país acostumado a se apresentar como o país do futebol, o Brasil está longe de explorar o viés cultural do esporte bretão. São raros os museus dedicados ao futebol no país, sendo que apenas o do Mineirão e o do Pacaembu não são dedicados a clubes. Aliás, cabe ressaltar que hoje existe uma parceria informal entre esses dois museus. Além de trocas de experiências e visitas de funcionários, os museus realizam intercâmbios de exposições. No dia de nossa visita, por exemplo, o Mineirão sediava a mostra: “Visibilidade para o Futebol Feminino”, produzida pelo museu do Pacaembu.

A exposição “Visibilidade para o Futebol Feminino” no Museu Brasileiro do Futebol
A exposição “Visibilidade para o Futebol Feminino”, feita numa parceria do Museu do Pacaembu com o MBF. FOTO: Fran Pereira/StartSports

CONCEPÇÃO

Partindo do início, fomos atrás da concepção do museu. Oriundo de uma demanda conjunta do Governo de Minas e da Minas Arena – Mineirão, foi elaborado um plano museológico por uma empresa da área de museus que norteou as ações. Segundo Thiago, a proposta inicial “era que no contexto da reforma do Mineirão para a Copa de 2014, o estádio teria um equipamento cultural: um museu para preservar, pesquisar e difundir a história do futebol mineiro e brasileiro, um legado positivo da Copa”. Como referência de conteúdo, foram tomados os museus de futebol, e, do ponto de vista conceitual, os outros museus.

Seria difícil, mas o mais complicado não era abrir o museu, mas mantê-lo. “Museus não geram lucro, sua sobrevida é feita por meio de financiamentos diretos e indiretos, e a conexão com a sociedade e o diálogo com ela ajuda os museus a justificarem suas existências”, ressaltou Thiago. Para começo de conversa, o acervo original do Museu Brasileiro do Futebol veio do que foi reunido pela ADEMG de 1960 até 2010, e depois pelo Mineirão (Minas Arena). Posteriormente, ele passou a receber doações específicas para enriquecer este acervo.

O ACERVO DO MUSEU

Por falar em acervo, quando nos deparamos com tanta história, é difícil não se perguntar qual a peça mais valiosa do museu. Ainda mais se você for um leigo (como era meu caso). Mas essa mensuração é difícil, como o próprio Thiago deixou claro. Demandaria um juízo de valor que não cabe aos museus. Mas ele também destacou objetos que são marcantes. como as pegadas da calçada da fama, além de bolas, camisas, bandeiras e fotografias, oriundas de competições importantes, atletas, torcedores e outros que ajudam a construir esse acervo do Museu Brasileiro do Futebol.

Catraca do Museu do Mineirão
Entrar no Museu Brasileiro do Futebol é girar a catraca da história. Às vezes literalmente. FOTO: Fran Pereira/StartSports

FUTEBOL E CULTURA

Tratando o Mineirão como “lugar de memória”, a curadoria do Museu Brasileiro do Futebol teve como objetivo principal, segundo Thiago, “apresentar o futebol brasileiro como um fenômeno cultural”. Logo no início do passeio isso ficou evidente. As primeiras salas te transportam para as raízes do futebol e da capital mineira. Thiago explicou que na perspectiva histórica, a narrativa construída visava apresentar desde a construção de BH com a chegada do futebol na cidade, passando pelos primeiros estádios e dando enfoque especial para a Era Mineirão, um grande marco esportivo para o futebol mineiro. Quem passa pelas salas do museu, verá desde um apanhado histórico dos primeiros momentos do estádio – muitas vezes surpreendente aos olhos de hoje – até sua reforma para a Copa 2014. Mas longe de apenas compilar e expor peças históricas, o conteúdo das salas nos mostra o futebol dentro de uma perspectiva histórica no mundo. Por isso ele é diferente.

O que o distingue dos demais é a reflexão que ele propõe do futebol como elemento marcante da identidade cultural brasileira. Ele cumpre com sua missão de preservar a cultura material e imaterial do futebol e consegue problematizar o futebol para além do âmbito esportivo. Algo importante que infelizmente não faz parte da realidade do torcedor e do cidadão brasileiro.

RECEPTIVIDADE DO PÚBLICO

Isso nos trouxe uma questão. A ideia é boa e a concepção foi muito bem feita. OK. Mas o público recebeu bem o projeto? A resposta é sim! Foram cerca de 170 mil visitantes desde março de 2013, com uma média de 6 mil pessoas ao mês. E para alegria de quem ainda sonha com que visitar um museu passe a ser parte do cotidiano dos brasileiros, o público que vai ao museu do futebol é bem variado. Tem estudantes (infantil, fundamental, médio e superior), turistas, pesquisadores do futebol e cultura, e claro, curiosos em geral. E o que é melhor: a administração do museu observou uma consolidação desse público visitante que acompanha a programação.

RESPONSABILIDADE EDUCATIVA

Mas se você pensa que o Museu Brasileiro do Futebol é feito só de exposições, engana-se. Uma das coisas que mais chama atenção é seu caráter educativo. As ações como o “Estúdio MBF” – uma série de atividades lúdicas e formativas com enfoque no futebol – tem  ótimo retorno do público. O projeto “Visões (re)Torcidas” que propõe a desconstrução de lugares-comuns do futebol e o estímulo de outras percepções do universo do futebol é outro muito bem recebido pelo público. E numa parceria com a Secretaria Municipal de Educação de BH, o museu recebe alunos da rede para circuitos temáticos que ajudam a perceber o Mineirão e o futebol objeto de formação de identidades e um objeto de estudos relevante para o entendimento da vida social.

Ações educativas do Museu no Mineirão
Ações educativas também fazem parte da programação do MBF. FOTO: Site Mineirão

Sem querer dar spoilers da visita, mas já entregando um pouco do que você verá por lá, o Museu Brasileiro do Futebol dedica um parte de seu espaço para mostrar como a crônica esportiva ajudou a consolidar o futebol como esporte de massa. Também nos deparamos com registros importantes da história do futebol mineiro e, com espaços interativos e muito bem concebidos, esquematiza as relações do futebol com outras linguagens artísticas como literatura, dança, música, audiovisual e fotografia. Vale a pena conferir.

Espaço dedicado à imprensa esportiva no Museu do Mineirão
Espaço dedicado à imprensa esportiva, com direito a equipamentos originais. FOTO: Fran Pereira/StartSports

Por ser um local de preservação da memória e da cultura, o Museu Brasileiro do Futebol colabora para solidificar o futebol como elemento cultural que é, já que o esporte leva consigo as histórias e fatos que dele não podem ser dissociados. Para tornar isso mais claro para os visitantes, o educativo propõe visitas mediadas, que contam com uma análise dos fenômenos históricos que se desenvolveram juntamente com futebol, não somente no Brasil, mas de toda a sociedade pós-revolução industrial.

Thiago nos garantiu que trabalhar num museu como esse é ao mesmo tempo gratificante e desafiador. Como uma pessoa apaixonada por futebol – e isso ficou pra lá de evidente, acreditem – ele definiu como ímpar a experiência de trabalhar em favor da preservação e difusão da memória e da cultura do futebol. Para o lado profissional, a experiência é engrandecedora e está sempre em transformação. Já o lado torcedor, que sempre viveu o futebol como uma paixão, afirmou que nunca pensou que um dia desceria da arquibancada para ajudar no trabalho de pesquisa e escrita da história do futebol.

MAS… E O SEU FRANÇA?

Saímos de lá empolgados com o museu e, de quebra, batemos um papo de alguns minutos com o Seu França, o mesmo que nos recebeu, que na nossa opinião deveria ser até parte integrante da visita. Desfrutar de alguns minutos da simpatia e da autoridade de quem viveu o Mineirão desde sua construção é sem dúvida um privilégio para quem vai ao estádio.

João França, o Seu França, é o funcionário mais antigo do Mineirão. FOTO: Fran Pereira/StartSports

VALEU A PENA!

Foi uma visita pra lá de satisfatória. Enxergar o futebol para além das quatro linhas nos deu a perspectiva de que talvez seja possível que o grande público consiga ver que o esporte que tanto ama é maior que os resultados ou que sua paixão. É parte de sua identidade e ajuda a contar sua história. Por isso, está mais do que recomendada a visita ao Museu Brasileiro do Futebol.

LOCALIZAÇÃO


Endereço: Av. Antônio Abrahão Caram, 1001 – São José, Belo Horizonte – MG, CEP: 31275-000

 

HORÁRIO DE ATENDIMENTO


*de terça à sexta
De 9h às 17h, de hora em hora

*sábado e domingo
De 9h às 13h, de hora em hora

*Fique atento as orientações presentes no site

 

INGRESSOS


Valores:

Inteira: R$ 20,00 / Meia-entrada: R$ 10,00*

Valor diferenciado para grupos escolares. Favor verificar a “Ficha de Agendamento e Regras de Visita” no site

*Meia entrada conforme legislação vigente

 

Mais informações no site do Museu Brasileiro do Futebol

Museu Brasileiro do Futebol

 

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