Futebol e alegria no continente das guerras e da desorganização
Foi-se a época em que a Copa Africana de Nações era disputada pelas melhores seleções do continente. Está em andamento desde o dia 18/01 a competição que definirá o representante africano na Copa das Confederações deste ano no Brasil.
O torneio de cara já começou errado. Para se “adequar ao calendário internacional” a Confederação Africana que já havia realizado uma Copa Africana em 2012 realiza outra um ano depois. Disputado de forma bienal, o torneio acabava por ser disputado nos mesmos anos do mundial (como ocorreu em 2010) e para dar fim a essa concorrência, os dirigentes locais resolveram então agendar a competição em anos ímpares e dessa forma, surgiu essa edição “tapa buracos”. Para complicar, a sede teve que ser alterada às pressas, devido aos problemas políticos da Líbia em guerra civil, e, numa solução imediatista, aproveitou-se a estrutura da Copa de 2010 e levaram a competição para a África do Sul. Enfim, uma correria e atropelo que não eram necessários, pois não havia nada que não pudesse ser adiado para 2015, evitando outro desconforto.
As Eliminatórias da competição (realizadas em caráter mata-mata) coincidiram com as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2014, fazendo com que algumas seleções priorizassem o Mundial. O resultado foi a ausência de seleções tradicionais como Egito (maior campeão com sete títulos) e Camarões (tetra campeão), além do Senegal desclassificado depois de tumulto em jogo contra a Costa do Marfim. Esse fenômeno de escassez de seleções de grande porte já havia acontecido na edição de 2012 e por esses contratempos repetiu-se nesta edição.
Como se já não bastasse isso tudo, em meio ao futebol estão também os problemas políticos e bélicos, que são cada vez maiores no continente negro. Guerras civis na Líbia e no Mali e uma série de conflitos graves com milícias e grupos tribais pipocam pelo continente. A sede, África do Sul, ainda é um dos países mais violentos do mundo, com altas taxas de assassinatos, estupros e assaltos. Revoltas populares por mortes de grevistas enfatizam a instabilidade do país e o clima tenso do país, além de uma série de problemas de corrupção, que acabam por afastar os torcedores dos estádios. Cada vez mais o discurso de “legado” da Copa do Mundo parece não ser mais do que papo furado.
Existe o lado positivo, como a volta de seleções como a Nigéria, Togo, Argélia e República Democrática do Congo. Grandes nomes do futebol europeu marcarão presença, como Drogba e Yaya Touré (Costa do Marfim), Asamoah e Gyan (Gana), Moses e Mikel (Nigéria) e Adebayor (Togo). Marcam presença também figuras folclóricas como o goleiro do congonês Kidiaba, famoso depois da vitória do Mazembe sobre o Inter no Mundial de Clubes e de sua dancinha. Em busca do bicampeonato, a Zâmbia aposta na base do elenco campeão de 2012 para manter o título, ainda que sofra com a desconfiança dos torcedores, que viram os atuais campeões se classificarem para a competição no sufoco, numa disputa de pênaltis. Ou seja, teremos futebol e talvez bom futebol. Apesar de todo o tumulto, corrupção e desajuste organizacional do futebol no continente, a festa é sempre garantida. Pelo menos isso resta ao povo com um passado de exploração e um presente ainda com tantas mazelas.
Por fim, seguem os resultados das partidas já realizadas, que tiveram poucos gols, alguns tropeços e lampejos de bom futebol.
GRUPO A – África do Sul 0x0 Cabo Verde | Angola 0x0 Marrocos | África do Sul 2×0 Angola |
GRUPO B – Mali 1×0 Níger | Gana 2×2 Rep. Democrática do Congo
GRUPO C – Zâmbia 1×1 Etiópia | Nigéria 1×1 Burkina Faso
GRUPO D – Costa do Marfim 2×1 Togo | Tunísia 1xo Argélia
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A CORRUPÇÃO E OS MILÍCIANOS RADICAIS ATRAPALHAM O DESENVOLVIMENTO DO CONTINENTE E DO PAÍS-SEDE QUE É O BERÇO DA HUMANIDADE.