DUAS SEMANAS DE BA-VI
Clássico costuma parar a cidade, mobilizar torcidas e mexer com as emoções de diversos corações. E se isso acontecer em sequência? Digamos, quatro vezes em duas semanas? Foi o que aconteceu na Bahia, com quatro Ba-Vis em menos de duas semanas, como não si via a muito tempo!
Resolvemos analisar um pouco mais esse recorte de tempo no mínimo curioso, uma vez que para qualquer torcedor, uma sequência de clássicos dessa é, no mínimo, especial. Por isso fomos conversar com um torcedor de cada time, para saber o que é passar duas semanas enfrentando o arqui-rival, por duas competições diferentes. Ambas em mata-mata.
A história se repete
É a segunda vez que Bahia e Vitória se enfrentam quatro vezes seguidas, mas é a primeira vez que se enfrentarão quatro vezes em um período de apenas 11 dias. A outra sequência semelhante é de 1979, quando em 13 dias foram realizados quatro jogos pelo Campeonato Baiano – um pelo segundo turno e três pelas finais. Na época o Bahia saiu invicto e campeão.
Abaixo, o vídeo do gol que deu o título ao tricolor, num frango do arqueiro do Vitória:
O ponto de vista dos torcedores
Conversamos com os dois lados da moeda. Orlando Silva, deputado federal (PC do B/SP), Ministro do Esporte nos governos Lula e Dilma, e fiel torcedor do Esporte Clube Vitória da Bahia. E Marcelo Gavião, que trouxe o ponto de vista da paixão pelo Esporte Clube Bahia.
A maratona de clássicos foi novidade para os dois. “Nunca vi tantos clássicos seguidos em tão pouco tempo. A experiência foi boa para testar a força real do Vitória”, afirmou Orlando. “Não lembro de ter visto tantos clássicos em um curto espaço de tempo”, disse Gavião.
Os jogos valiam por duas competições diferentes: Copa do Nordeste e Campeonato Baiano. No Nordestão, ou “Lampions League”, o Bahia eliminou o vitória com uma derrota no Barradão por 2×1 e uma vitória por 2×0 na Fonte Nova. O resultado colocou o time tricolor na decisão contra o Sport.
No estadual, deu Vitória com dois empates: 1×1 na Fonte Nova e 0x0 no Barradão. Como tinha a vantagem, o rubro-negro garantiu seu primeiro caneco na temporada.
Do ponto de vista de Orlando, “o desempenho foi regular. Valeu a conquista do Estadual, mas nos jogos da Copa do Nordeste a equipe não foi bem”.
Para Gavião, valeu pela classificação, mas o time merece algumas ressalvas: “aqui, ganhamos em uma competição (Copa do Nordeste) e perdemos em outra ( Final do Campeonato Baiano). Temos um bom técnico, porém, com um elenco limitado”. Ele ressalta também a vitória no jogo de volta das semifinais da Copa: “mesmo assim, acho que o time jogou bem. Principalmente na segunda partida da semifinal da Copa do Nordeste. O time entrou concentrado e dominou do início ao fim.”
A nota triste para quem gosta do futebol e da festa nas torcidas, ficou pelo fato dos jogos terem sido de torcida única, como esta cada vez mais comum nos clássicos do futebol brasileiro.
Copa do Nordeste ou Campeonato Baiano?
Neste contexto não tem como evitar a velha pergunta: qual competição é melhor, a regional ou a estadual? Com a crescente desvalorização dos estaduais, cada vez mais se pergunta sobre o que vale mais ser priorizado, mas será que as ligas regionais são tão unânimes junto às torcidas? Será que os estaduais não tem nenhum apelo junto ao público dos times grandes? Não perdemos a chance de perguntar.
“Sou defensor dos campeonatos estaduais”, afirmou categoricamente Gavião. “Eles são parte da tradição e da cultura do futebol brasileiro. É verdade que os clubes (principalmente os do interior) precisam de mais apoio. Sou fã e entusiasta dos estaduais.” Ele também acha que as federações precisam ajudar mais e pensar um calendário que permita que os clubes funcionem o ano inteiro, e não apenas no primeiro semestre, como é o caso de várias equipes. Mas reconhece que a Copa do Nordeste é uma iniciativa que precisa também ser valorizada e fortalecida. “Na minha opinião, ela ajuda bastante os clubes a se prepararem melhor para o campeonato brasileiro. É bom jogar contra clubes como Sport, Santa Cruz, Ceara e tantos outros. Fortalece a rivalidade regional”, analisou.
Orlando Silva também enxerga valor nas duas competições, apesar de distinguir as duas do ponto de vista técnico. “Gosto dos dois. O Estadual projeta jogadores e mantém a tradição no futebol local. O Nordestão tem uma competição de melhor nível técnico”, ponderou.
As expectativas dos clubes para o restante da temporada
Com a temporada de competições nacionais devidamente iniciada, perguntamos aos dois torcedores o que esperar para o restante do ano. Orlando, mesmo ponderando os pontos fracos do seu clube, acha que Libertadores é um possibilidade real para o Leão. Para ele, “no Brasileirão, o Vitória pode mirar na zona da Libertadores, não é fácil, mas com reforço nas laterais e na criação do meio-campo, as chances aumentam”.
Já Gavião espera que o Bahia resgate sua fase protagonista no futebol nacional. “Espero que o Bahia possa fortalecer um pouco mais seu elenco. É preciso sair da fase do ‘elevador’ que um ano sobe e no outro desce. Um clube como o Bahia não pode entrar no campeonato brasileiro tendo como meta não ser rebaixado”, ressaltou. “Queremos um time que lute por vaga na libertadores e títulos. Somos o único time fora do eixo Sul/Sudeste a ter dois títulos nacionais (59 e 88) e queremos mais”, completou.
Com esse espírito, Bahia e Vitória entram no Brasileirão, depois de viver a situação curiosa de se enfrentar quatro vezes em 11 dias. E olha que ainda vão se encontrar mais duas vezes pelo Brasileirão. Como nos disse, Gavião, “É um jogo gostoso de assistir. Mobilizou e polarizou a sociedade baiana”. E vai mobilizar mais duas vezes. Tomara que com os dois brigando na parte de cima da tabela.
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