DIFERENTE, COMO A LIBERTADORES FOI, “EL CICLÓN” É CAMPEÃO
O maior momento da história do San Lorenzo de Almagro aconteceu na noite do último 13 de agosto, quando o “Ciclón” finalmente conquistou sua primeira Taça Libertadores da América. Depois de décadas de espera e anos de zueira, o último clube grande argentino que não possuia a maior competição da América conquistou o torneio. O San Lorenzo deixou de ser chamado de “Clube Atlético Sem Libertadores da América” depois que o árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci apitou o fim da partida contra o Nacional do Paraguai, que terminou num magro e histórico 1×0. A festa do Nuevo Gasómetro foi de uma proporção nunca antes vista na história do clube, o que não era para menos. A caminhada do time para a conquista foi tão inusitada quanto a própria edição da Libertadores.
Em 2012 e 2013, outros dois grandes foram campeões pela primeira vez, mas, diferentemente das conquistas de Corinthians e Galo, o título do San Lorenzo veio numa competição totalmente fora da curva. Zebras em escala cavalar, campeões fracassando muito cedo e times impensáveis como Defensor, Bolívar e Nacional do Paraguai nas semifinais. Por mais de uma vez, equipes praticamente eliminadas se classificaram no apagar das luzes. Porque não esperar que o San Lorenzo fosse campeão?
Desde que o River Plate venceu a Libertadores em 1986, o San Lorenzo era alvo de piadas das torcidas dos Millonarios, do Independiente, do Boca Juniors e do Racing. Isso, sem falar no Estudiantes, Argentino Júniors e no Vélez, que também detinham canecos da competição. Para agravar, o time de Almagro mal chegava às semis. Se voltarmos há pouco mais de dois anos, o time estava a beira do rebaixamento no Campeonato Argentino, o que praticamente limava as chances de uma conquista dessa magnitude. Foi quando começou a guinada na história do time.
Em novembro de 2012, o “Ciclón” agonizava na zona de rebaixamento do Campeonato Argentino. Foi quando algumas figuras fora de campo agiram em prol da salvação do time. Na área administrativa, uma nova diretoria e torcedores ilustres que resolveram investir no clube trouxeram uma organização que foi crucial para que a equipe se mantivesse funcional. Da mesma forma, na esfera espiritual (que folcloricamente ficou mais conhecida), o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, torcedor e sócio fanático do clube, se tornou o Papa Francisco e, além de popularizar o time mundo afora, trouxe uma incrível benção ao seu clube do coração.
Por organização administrativa ou por influência divina, a verdade é que além de não cair, um ano depois o San Lorenzo levantou o troféu de campeão nacional e agora conquistou sua primeira Libertadores. E como já disse antes, a competição foi tão paralela quanto a campanha do time argentino. O time de Almagro ficou por um fio de ser eliminado na primeira fase, mas com a vitória de 3×0 sobre o Botafogo e tendo que assistir de dentro do campo o fim da outra partida, passou raspando. Tirou o Grêmio nos pênaltis e eliminou o campeão brasileiro e franco favorito Cruzeiro, com direito a bola nas duas traves e grandes atuações do goleiro Torrico. O time ainda ficou sem seu ídolo Romangnoli por boa parte da competição, só podendo contar com o atleta na fase final da competição.
Depois de tirar os favoritos, coube ao “Ciclón” resolver a parada com as zebras. Numa libertadores em que o Bolívar – tradicional saco de pancadas – chega a semifinal, você já espera algo de diferente. O San Lorenzo não deu chance para a zebra e despachou logo os bolivianos. Era a tão esperada final. Nunca o clube tinha ido tão longe. A última barreira era o Nacional do Paraguai, a zebra suprema da competição. O minúsculo time paraguaio, simpático e sem recursos, fez uma espetacular competição e passou de possível lanterna do seu grupo para finalista da Libertadores. E vendou caro o título.
Um empate no apagar das luzes no Defensores Del Chaco e uma grande atuação na Argentina, valorizaram muito o título do San Lorenzo. O “Nacional Querido” teve boas chances para matar o jogo no Nuevo Gasómetro, mas parecia estar escrito que não era para acontecer. Uma mão na bola deu origem ao pênalti que decideu a peleja. O gordinho Ortigoza – olhem bem o nipe do herói do título – colocou no fundo da rede e fez o estádio entrar em êxtase. O craque do time Romangnoli era um dos mais emocionados e chegou até a colocar em cheque sua transferência para o Bahia, que mesmo já acertada, parecia não importar mais, perante a emoção de dar o título mais importante da história ao time do coração.
Numa competição que teve caso de racismo, técnico com guarda-chuva à beira do campo, um jogo terminando em 5×4, time assistindo o fim da outra partida do grupo dentro de campo para saber se viria a classificação, viagra para combater a altitude e sabe-se lá o que mais, nada mais justo que um campeão inesperado. Poderia ser o Nacional Querido, mas nada mais justo que o título ficar com o San Lorenzo.
Que título! Longe da técnica, foi ganho na raça! Na minha opinião não foi tão sofrido quanto o do Atlético-MG, mas vai falar isso pra “hinchada” cuerva. Eficiente, na raça e com intervenção divina, o San Lorenzo enfim ganhou sua Libertadores. Parabéns aos envolvidos!
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