A DOENÇA DO PRECONCEITO E SEUS SINTOMAS QUE NÃO QUEREMOS VER
Foi indignante. O ato dos torcedores peruanos na partida entre Real Garcilaso e Cruzeiro, que imitaram macacos enquanto o meia Tinga pegava na bola, gerou uma onda de revolta em todo o Brasil. O apoio ao jogador veio de todos os lados e todo o tipo de pessoa se mostrou #fechadocomotinga. As entidades que regem o esporte se posicionaram à favor de punições severas que inibam esse tipo de ato boçal. Jogadores postaram mensagens de apoio e as redes sociais fervilharam nos dias posteriores ao acontecido. O problema é que estamos vendo apenas a casca da ferida.
Não é de hoje que o esporte luta contra o preconceito. Jesse Owens e Muhammad Ali sofreram mais com o preconceito cotidiano do próprio povo dos EUA do que em qualquer outro lugar onde tenham competido. O futebol profissional em diversos cantos do mundo demorou décadas para aceitar negros e países como Itália e Ucrânia convivem com atos racistas em partidas de futebol o tempo todo. O que dizer da Rússia, que atrai o descontentamento de boa parte da comunidade internacional com sua lei de segregação homossexual, que repercutiu em virtude dos Jogos de Inverno de Sochi. O mundo todo se choca com atos de preconceito no esporte, mas ainda não erradicou isso do seu dia-a-dia. Então como querer retirá-lo do esporte?
No Brasil não é diferente. O preconceito é uma doença grave e o povo brasileiro está longe de ser imune a esse mal. O caso do jogador Tinga repercutiu e gerou grande descontentamento, mas até que ponto isso é coerente? Não só os negros, mas todas as minorias sofrem com a discriminação velada no Brasil, que não é aceita mas continua acontecendo aos montes.
O torcedor do Cruzeiro mesmo deveria fazer um exame de consciência, pois não se incomoda em fazer chacota com as especulações sobre a sexualidade do Richarlyson ou de ter hostilizado o jogador de vôlei Michael, do Vôlei Futuro, numa semifinal de Superliga. Isso se expandi para todas as torcidas, ou melhor, para todas as pessoas. Somos preconceituosos muitas vezes e buscamos justificativas para não aceitar que somos vítimas dessa doença.
O caso do Tinga foi emblemático e deve servir de exemplo, mas não só no campo do esporte. Precisamos de mais igualdade, como o próprio atleta falou, mas fora do esporte também. Precisamos de mais igualdade com o seu semelhante no dia-a-dia, pois é isso que vai fazer a diferença e refletir depois no futebol.
Vamos pensar nisso e não apontar apenas o defeito dos outros, mas sim corrigir os nossos. Vamos acabar com o preconceito de verdade e de todas as formas, não apenas em casos de repercussão e não apenas quando somos vítimas. Acho que isso está mais perto do que o Tinga pediu no final da partida.
No Comment