A CIRANDA DOS TÉCNICOS NO BRASILEIRO E O COFRE VAZIO
Passada a sexta rodada do Campeonato Brasileiro e já temos sete técnicos demitidos, Ricardo Drubscky pelo Fluminense, Vanderlei Luxemburgo pelo Flamengo, Felipão pelo Grêmio, Marcelo Oliveira pelo Cruzeiro, Hemerson Maria pelo Joinville, Marquinhos Santos pelo Coritiba e Oswaldo de Oliveira pelo Palmeiras. De todos, o mais emblemático é Marcelo Oliveira, técnico Bicampeão Brasileiro, caiu ainda na quarta rodada, após derrota para o Figueirense, a derrota para o River Plate e consequentemente a eliminação da Copa Libertadores em pleno Mineirão, foi fundamental para sua saída.
A queda de Marcelo Oliveira foi, talvez, a grande surpresa deste início de campeonato. É verdade que o Cruzeiro alternava bons e maus momentos, mostrando ser uma equipe ainda em formação. Verdade também que o clube perdeu muitos atletas e não conseguiu repor a altura. Porém, acredito que a saída de Marcelo é boa para ele e para o Cruzeiro. Primeiro porque o esquema do time azul começava a ficar manjado e a equipe já vinha sofrendo desde a metade do segundo turno do Brasileirão de 2014. E segundo, porque o técnico demonstrava um certo conforto no cargo.
Chegando a sétima rodada, técnicos como Doriva, Argel Fucks e Marcelo Fernandes que pertencem a uma nova geração, já entram pressionados. Doriva está à beira do abismo, um mau resultado contra o Cruzeiro em São Januário poderá selar sua queda. O multicampeão Titi, mesmo com um histórico recente de conquistas pelo time do Parque São Jorge, também começa a ser questionado já que não consegue fazer o Corinthians andar, time que também passa por reformulação e corte de gastos.
Mas quem buscar para o comando técnico? Times de ponta, precisam de grandes nomes, técnicos de personalidade que dominem o grupo, certo? Não o que mostra a dança das cadeiras até aqui. Com as exceções de Cruzeiro, que trouxe Luxemburgo, e Palmeiras que deve buscar Marcelo Oliveira para o lugar de Oswaldo. O Fluminense apostou em Enderson Moreira. O Grêmio no novato Roger, ex-lateral do clube. O Flamengo foi buscar Cristóvão Borges. O Joinville resgatou Adilson Batista das cinzas, técnico defendido até no Cruzeiro. Já o Coritiba preferiu trazer um velho conhecido, Ney Franco, que fez bom trabalho no clube.
Com a crise financeira que atinge o futebol nacional alguns clubes não aceitam pagar salários astronômicos aos treinadores. Luxemburgo aceitou assinar com o Cruzeiro por muito menos que recebia no Flamengo. O treinador tenta se reinventar para voltar a brilhar como no passado, começou bem no time celeste com duas vitórias, sendo uma contra o Atlético, dentro do Independência. A primeira do Cruzeiro contra o Galo no estádio, depois da reinauguração quebrando um jejum de onze jogos sem ganhar do rival.
O Cruzeiro poderia ter feito uma aposta em um técnico mais jovem com novas ideias? Mais quem? Tirando Marcelo Oliveira, que já expliquei aqui porquê concordo com sua saída, não existe no Brasil um novo técnico que seja unanimidade. Da chamada nova geração, Doriva é o com resultados mais expressivos, campeão paulista pelo Ituano no ano passado, e carioca com o Vasco nesta temporada, mas já balança porque o Vasco não consegue ganhar no Brasileiro. Luxa, chega com seu histórico, mas a um bom tempo não consegue emplacar um trabalho de respeito. Talvez, por ter uma história de conquistas, seja sempre pressionado a fazer bons trabalhos, criando expectativa onde chega.
Então, com algumas exceções, o que percebemos até aqui é a apostas de grandes clubes em técnicos que ainda buscam uma afirmação no cenário nacional. Roger faz seu primeiro trabalho em uma equipe profissional. Enderson, depois de bom trabalho no Goiás, teve passagens apagadas por Grêmio, Santos e Atlético Paranaense, mas ainda continua como um bom nome da nova geração. Cristóvão soube comandar bem o Vasco depois da saída de Ricardo Gomes. Adilson, depois do bom desempenho no Cruzeiro até junho de 2010, não conseguiu mais se firmar e perdeu espaço na prateleira de cima. Depois de grande temporada pelo Coritiba, recolocando o time na primeira divisão, Ney Franco sempre foi questionado por onde passou, até no São Paulo, onde ganhou uma Sul-Americana.
Se sairmos do Brasileirão, o Santos, ainda no início do ano, com a saída de Enderson, preferiu efetivar Marcelo Fernandes, que mesmo campeão paulista, e um time razoável, já balança e o Peixe pode ter seu terceiro técnico em menos de seis meses. Inter e São Paulo foram nos países vizinhos buscar seus treinadores. Este fenômeno se explica pelos salários mais baixos, encaixando na política de contenção de gastos dos clubes, e pela falta de opções no mercado. Devido à crise, medalhões como Abel, Muricy, Felipão, Dorival…. Ficaram caros demais e com garantias pequenas de bons resultados.
Fato é que Abel, desde que saiu do Inter está sem clube. Muricy está com problemas de saúde, mas já não deve ter um mercado tão grande no país, é especulado em clubes do México. Dorival Júnior, depois do Santos de 2010, não teve mais trabalho de respeito. Felipão foi se aventurar na China, vai substituir o italiano Marcelo Lippi no Guangzhou Evergrande.
Assim, quase todos os medalhões do passado perdem espaço no mercado nacional. Com características bem semelhantes de montar suas equipes, se o 4-2-3-1 é o esquema da moda no país, eles ainda preferem o tradicional 4-4-2 com o chamado meia clássico, que cadencia o jogo e um atacante de área, o famoso matador. Não tem espaço para este tipo de jogo no futebol moderno? Não sei, mas os resultados inexpressivos destes técnicos demonstram quem eles precisam rever alguns conceitos que os encalçam desde seus passados de glórias. Mas, especificamente no caso dos grandes clubes brasileiros, a mudança é por necessidade, pela falta de planejamento, e principalmente a falta de dinheiro em caixa. Ponto positivo nisso tudo, quem sabe não revelamos novos treinadores?
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