MUDANÇAS DE RUMO E O CAMINHO DA TAÇA DO CHELSEA
O Kanté parecia estar em todos os cantos do Estádio do Dragão. No mesmo lance que ele dava o carrinho e desarmava o De Bruyne, parecia dar pra ver ele sentado num dos espaçados lugares ocupados na arquibancada portuguesa. Não parecia uma atuação normal. Possivelmente não era, ainda mais vinda de um jogador fora do normal. Discreto, com certeza, porém excepcional.
Comecei falando do volante francês pois ele é a cara de um Chelsea muito menos estrelado do que em outros tempos, mas com uma eficiência impressionante. Vale dizer que nem sempre foi assim. Falar desse título depende da compreensão do que deu errado no trabalho de Lampard no comando técnico do clube.
Demitir um ídolo é sempre muito difícil, mas ter paciência com um trabalho de um técnico parece ser mais difícil ainda para o Chelsea. O time de Lampard não jogava bem e não entregava resultados. Ao contrário da primeira temporada do técnico, quando o time era limitado por não poder contratar, os Blues se reforçaram e o nem por isso o time melhorou. Discussões públicas e divergências com a diretoria empurraram a relação para um fim. E, no fim, a opção foi contratar Thomas Tuchel.
Obviamente, a escolha do técnico alemão não tinha nada a ver com um projeto planejado. Talvez, nem se tivesse tanta esperança de que os resultados viriam. Talvez, uma das Copas nacionais… Premier League, sem chance. Champions? Ninguém acreditava. Mas Tuchel mudou tudo.
A defesa, que era muito irregular, mesmo com os reforços de Mendy e Thiago Silva, virou o ponto alto do time. A linha defensiva formada por Azpilicueta, Thiago Silva e Rüdiger parecia intransponível. Na verdade, chegar nela era muito difícil. Passar por Jorginho e, especialmente, por Kanté parecia na maioria das vezes inviável. E quando tudo falhava, o senegalês Mendy salvava. Aliás, Mendy fez história ao ser o primeiro goleiro negro titular na final da Champions. E sendo campeão.
Mas nem só de defesa vive um campeão. O trio Mason Mount, Kai Havertz e Timo Werner fez a diferença no ataque. Principalmente Mount, que evoluiu demais com comando do alemão. Ainda falando em alemães, coube a Havertz o gol do título e a Werner as reclamações – principalmente pela capacidade de perder chances de gols claras que ele demonstrou ultimamente. Até o Pulisic, reserva, teve um papel destacado em diversos momentos da temporada.
Um time que engrenou do nada, como que num acaso. História que lembra muito o título do Bayern de Munique na temporada anterior – contra o PSG, então de Tuchel. Mas, diferente dos Bávaros, muita gente via o Chelsea chegando com desconfiança, sempre esperando que ele caísse em algum momento. O que deu força aos blues foi exatamente o bom desempenho contra o City nos confrontos prévios à final.
No fim das contas, num dia ruim do City de Guardiola, o Chelsea fez uma atuação primorosa. Se não um futebol plástico e vistoso, um bom e extremamente eficiente jogo. Melhor até que o desempenho do primeiro título, ainda nos tempos de Drogba.
Pela segunda vez na sua história o Chelsea venceu uma Champions. Dessa vez com base inglesa, algo raro em outras fases da era Abramovich. Mais uma vez como uma espécie de azarão e, principalmente, mudando os rumos do seu projeto com a competição andando. Um cavalo de pau à brasileira que tinha tudo para dar errado e acabou dando certo.
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