BREVE RELATO SOBRE FUTEBOL E (FALTA DE) SANIDADE
O ano é 1993. Argentina recém campeã da Copa América. Em suas linhas eles contam com Maradona e um jovem mancebo ainda engatinhando na mitagem, chamado Gabriel Batistuta. Se você vira para alguém relativamente em sã consciência e fala que 23 anos depois, em 2016, aquele seria até então o último título argentino, que o Chile (que ainda não conhecia nem mesmo Salas e Zamorano em sua plenitude técnica) seria bicampeão da América e que o Brasil neste meio tempo teria ganho duas Copas do Mundo, três Copas das Confederações e quatro Copas Amérca, além de tomar 7 da Alemanha em território nacional numa semifinal de Copa do Mundo, provavelmente te prenderiam no manicômio mais próximo.
Pois bem! Esta é a loucura do futebol.
Não apenas aconteceu isso tudo como também nos deparamos com uma situação um tanto insana ao final da Copa América Centenário. Campeonato que convenhamos, não teve nada muito normal, desde seleções participantes, local de disputa, dirigentes presos, etc, etc, etc…
Na matemática fria dos números, não precisa ser de exatas para saber que um time que chega à final do campeonato, necessariamente fez melhor que um que por ventura tenha saído ainda na primeira fase. Principalmente quando este que chegou à final está acostumado a viver entre a glória e as agruras da vida, por isso gostam tanto de tango por exemplo… Sim, a campanha da Argentina foi infinitamente melhor que a brasileira nesta Copa América. Aliás, não é de agora que os Hermanos fazem campanhas melhores que as da seleção canarinho, sendo o terceiro torneio seguido que isso acontece, não apenas na colocação final, como no futebol apresentado também.
Mas para mal dos pecados e para confusão geral, pode-se facilmente dizer que a Copa América Centenário foi muito melhor para o Brasil que para a Argentina. Senão, vejamos.
Com a queda patética, os resultados ridículos e o futebol pífio da seleção brasileira, veio a cavalo a queda de Dunga, peça inútil trazida ao tabuleiro pelos gênios que comandam a CBF – Confederação Brasileira de Futebol ou Casa Bandida do Futebol (como queiram). Por vias tortíssimas, foi feita justiça com Rogério Micali, o homem que pegou uma terra arrasada e uma herança maldita deixada por Alexandre Gallo (outra peça inútil dos enxadristas engomados da CBF) nas categorias de base da seleção e transformou o time olímpico brasileiro em algo que traz esperança de ganhar o sonhado ouro olímpico, o título que ainda falta à verde e amarela. Em jogada retardada inventada pelos mesmos Kasparov’s tropicais já citados, quem comandaria o time olímpico, mesmo depois de anos de trabalho de Micali, seria Dunga, sabe-se lá Deus com qual intuito ou vantagem que viram neste absurdo…
A reboque, Tite é o novo técnico da seleção brasileira. Não está no topo da listagem dos melhores técnicos do mundo, mas é o melhor que temos dentre os nascidos em terras tupiniquins e com muita justiça chega para comandar o time nacional. Com uma mãozinha do Peru, pode-se sonhar com o ouro em casa para reduzir um pouco o terror alemão da copa e pavimentou-se o caminho até a Rússia. Claro que pode dar errado, mas definitivamente, com Dunga dirigindo é que a jamanta brasileira não chegaria a lugar algum.
Enquanto isso, na Argentina, junto com a perda do título, caiu o mundo inteiro e a crise se instalou de tal maneira que o futuro da albiceleste está em sério risco.
É claro que todo o contorno altera e muito o cenário da derrota. A pressão dos 23 anos sem títulos importantes; a pressão sobre um Messi que deixa o mundo de boca aberta na Espanha, mas não repete na Argentina; o fato de chegar em três finais em três anos e vir a perder as três… Até o fato de a derrota no Maracanã ter a desculpa “ah, mas foi para a Alemanha”, a derrota em Santiago ano passado ter a desculpa “ah, mas a melhor geração chilena estava embalada dentro de casa” e a derrota em Nova Jersey não ter nenhuma desculpa pré-fabricada pressiona ainda mais o fracasso Argentino. O Uruguai estava sem Suarez, a Colômbia ainda carece de peso para fazer frente, o Brasil se elimina, o Chile já está tranquilo porque finalmente ganhou algo e o México, embora candidato, não estava lá grande coisa (7×0 à parte, inclusive). Não tinha ninguém para ser campeão a não ser a Argentina e não tinha ninguém com mais gana de ser campeão do que a Argentina. Mas eles falharam.
E de uma tacada só: Messi, Mascherano e Aguero simplesmente desistiram da seleção, tamanha a decepção; o Presidente da AFA – Asociación de Fútbol Argentino ou Associação de Falcatruas Argentinas (como queiram) renunciou diante do fracasso de seu time (este, foi tarde); chegaram a suspeitar de um atentado terrorista na sede da AFA com uma suspeita de bomba que fez o prédio ser evacuado nesta segunda-feira. Para completar, a FIFA – Federação Internacional das Associações de Futebol traduzindo ou Falcatruas, Intrigas, Flagelos e Armações (como queiram) ameaçou expulsar a AFA de seus quadros por uma intervenção do governo argentino na organização do futebol local. Com isso tudo, o time que tinha a boa possibilidade de sair da fila e até já se candidatava fortemente ao título mundial de 18 está em graves apuros e seu horizonte é tenebroso nos próximos anos.
Como o atentado não passou de uma suspeita e ainda bem que nenhuma vida ficou em risco, o mais triste é ver um gênio como Messi não dar certo em sua seleção. Dizem que Zico não ganhou uma Copa do Mundo, por puro azar da Copa do Mundo. Messi se junta ao panteão dos craques que estão nesta situação, junto a Platini e Cruijff, por exemplo… Mesmo que Messi retroceda e volte a atuar com a camisa da Argentina (o que, convenhamos, seria o melhor para o futebol como história), é difícil pensar que, no meio dessa turbulência toda, a Argentina venha a ser campeã na Rússia. A única esperança deles talvez seja exatamente a loucura do futebol.
Certa vez, o gênio Tom Jobim disse que o Brasil não é um país para principiantes, em alusão à sucessão de loucuras que acontecem em todos os segmentos nesse país (os meses recentes em Brasília e em Curitiba que o digam). Talvez esta seja a única característica que, nos dias atuais, aproximem o Brasil de ser o “país do futebol”, cantado em verso e prosa já que o futebol não é para principiantes. E esta é a sua loucura.
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