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ZIDANE, RONALDO E O BRASIL X FRANÇA DE 98

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Pois bem, é Copa do Mundo – e quem não se comove, de alguma forma, com tal evento, não deve ser deste planeta. Ela mal acaba e o gostinho de “quero mais” salpica em nossas papilas gustativas futebolísticas.

Na Copa de 2018 o Brasil foi eliminado pela Bélgica, num jogo resolvido nos pequenos detalhes, mas o que não sai da cabeça é o que esse resultado impediu: uma possível semifinal entre Brasil e França! Ah, isso me faz recordar da Copa de 1998, daquela que foi a primeira a gerar lembranças em minha mente!

Sou da geração de 1991, mais precisamente de novembro, o que me coloca com seis anos à época dessa edição de Copa do Mundo tão emblemática. Recordo de uma música cantada pelas ruas “uh tererê je suis maluquê”, de bandeirinhas, de um chinelo estilo daqueles “Riders”, com um “Copa do Mundo 1998” – e não esqueço uma nação calada, depois do jogo final.

Zidane celebra seu segundo gol.
Edmundo, Rivaldo, Cafu e Roberto Carlos após a decisão. FOTO: Ross Kinnaird /Allsport

Histórico das seleções antes de 1998

A seleção francesa veio de uma atuação pífia nas eliminatórias da Copa de 1994. Gerard Houlliér assumiu o comando da seleção francesa que enfrentaria um grupo com Suécia e Bulgária. O time francês tinha Cantona, Ginola, Lizarazu e Desailly, além de contar com os experientes Papin e Deschamps. Mesmo assim a França ficou fora, perdendo em casa para Israel, num dos maiores vexames do seu futebol. O tradicional jornal Le Monde estampou, no dia seguinte ao jogo das eliminatórias, a manchete: “França classificada para a Copa… de 1998“. Aliás, vale a pena conferir esse jogo histórico com Israel.

Assim, a França teve que se contentar em preparar um time para jogar a Copa de 98 em casa. Cantona já não era mais bem visto pelos dirigentes e pelo comando técnico. Então sua estrela seria Zidane e para todo o mundo o time era uma incógnita.

Já a seleção brasileira vinha da recente conquista do Mundial de 1994, com a fabulosa seleção de Branco, Romário, Bebeto e cia, dirigida por Parreira e Zagallo. Foram anos dominantes para o time verde amarelo. Títulos de Copa América e Copa das Confederações, além de muitas opções de bons jogadores para levar à França.

Quanto contraste! Enquanto a seleção francesa chegava de uma campanha em que sequer classificou-se para o Mundial de 1994, a seleção canarinha vinha do tetra. Mesmo assim, quis a história que as duas seleções chegassem a final da Copa.

Um jogo irreconhecível do Brasil

Zidane na final de 98.
Zidane na final de 98. FOTO: Globo Esporte

Uma nação calada. Talvez seja essa a expressão adequada para resumir o Brasil no dia 12 de julho de 1998. A nação brasileira esperava uma grande atuação da sua seleção, que contava com nomes como Taffarel, Ronaldo, Cafu, Roberto Carlos, Bebeto…

A França não tinha Blanc, que havia sido suspenso. Quem o substituiu foi Frank Leboeuf, que fez a zaga junto a Desailly. O meio vinha com Deschamps posicionado como volante, enquanto Karembeu e Petit faziam os lados da meia. Zidane ficou incumbido de criar as jogadas para Djorkaeff e Guivarc’h. Nada diferente do esquema usado pelo técnico Aimé Jacquet desde a Euro de 1996.

A seleção brasileira não veio com nenhuma novidade. A não ser o caso Ronaldo. Antes do jogo foi anunciado à imprensa que quem entraria em campo no ataque brasileiro seria Edmundo e não o craque dona da camisa 9. Uma estratégia para confundir o técnico Jacquet? Talvez, mas a realidade foi uma convulsão sofrida por Ronaldo nas vésperas da decisão que colocou em dúvida sua participação no jogo. No fim, o atacante bancou estar em condições.

Ronaldo após a atuação pífia na decisão.
Ronaldo após a atuação pífia na decisão. FOTO: Getty Images

Com 28 segundos, Guivarc’h quase fez um a zero, aproveitando uma das bizarras falhas de Júnior Baiano naquele dia. Cafu foi exigido demais. O lado direito da defesa brasileira era muito explorado pelos franceses. Houveram muitos erros no meio de campo, com Rivaldo e Leonardo muito mal. A França também errava muito.

O esquema de avançar com Roberto Carlos e Cafu, usado muito bem ao longo da Copa foi totalmente anulado pelo 4-3-3 da França, que contava com a excelente movimentação de Djorkaeff.  A dinâmica do jogo era ditada pelos passes do gênio Zidane. O Brasil não conseguia fazer muito, pois Karembeu e Petit anularam as válvulas de escape pelas laterais. Não bastasse isso, os dois ainda exploravam as jogadas pelas costas de Cafu e Roberto Carlos.

O Brasil teve a posse de bola. O problema para os brasileiros é que o técnico francês soube ler a tática de Zagallo, anulá-la e jogar nos erros da seleção brasileira. O resumo do jogo foi um 3×0 para a França, uma atuação de gala de Zidane e um jogo irreconhecível de Ronaldo Fenômeno – claramente sem condições de atuar. O lance mais lembrado do camisa 9 brasileiro na partida foi a trombada com Barthez no primeiro tempo, que assustou a todos.

Barthez tromba com Ronaldo em saída espalhafatosa.
Barthez tromba com Ronaldo em saída espalhafatosa. FOTO: Associated Press

Já o meia francês finalmente teve sua grande atuação na Copa. Aos 27 minutos, Roberto Carlos cedeu um escanteio bobo. Na cobrança, Zidane apareceu livre para marcar o primeiro. Como Zidane não era um grande cabeceador, Leonardo não houve grande preocupação em marcá-lo. Leonardo, que deveria ter feito isso, falhou.

Zidane ganha de Leonardo e marca o primeiro.
Zidane ganha de Leonardo e marca o primeiro. FOTO: Luca Bruno/Associated Press

Petit quase fez o segundo gol francês e ainda no primeiro tempo, aconteceu de novo a jogada aérea francesa.

Aos 46 minutos, quando o Brasil pensava em ir para o intervalo apenas com o 1×0, a jogada se repetiu. Em outro escanteio – após excelente defesa de Taffarel no chute de Guivarc’h – Zidane fechou na área e golpeou de cabeça para o gol. Dessa vez, quem falhou foi Dunga, que havia se incumbido de marcar o meia francês.

Zidane celebra seu segundo gol.
Zidane celebra seu segundo gol. FOTO: Ricardo Correa/VEJA

Revendo o jogo, percebi que, por mais que a posse de bola durante tenha sido equilibrada, a seleção brasileira não soube aproveitar os ataques. Ronaldo aos 11 e Bebeto aos 16 do 2º tempo perderam boas chances. Do outro lado Guivarc’h seguiu perdendo gols claros.

As substituições do segundo tempo, com entrada de Denilson e Edmundo, melhoraram um pouco, mas o time seguiu apático. Do lado francês, o que se vislumbrou foi calma e um trabalho de anular as principais jogadas brasileiras facilitado pela apatia dos time brasileiro. E claro, a maestral atuação de Zidane. Nem a expulsão de Desailly aos  22 comprometeu a França.

Claro, não podemos descartar a “sorte de campeã”. Aos 45 minutos do segundo tempo, uma grande jogada de Edmundo terminou no chute de Denilson no travessão. Convenhamos que, numa final de mundial, um 2 a 1 antes do no fim era motivo suficiente para apimentar a partida. Infelizmente, não se fala de “se” no futebol. O que aconteceu foi o gol de Emmanuel Petit, já nos acréscimos, fechando a tampa do caixão brasileiro.

Nos meus seis anos de idade – na primeira Copa do Mundo de que tenho breves lembranças – o que vi foi um silêncio total. Hoje, assistindo o jogo com mais atenção e maturidade, percebo uma aula de futebol por parte da França.

França campeã 98
França campeã 98. FOTO: AFP/Getty Images

Ficha Técnica

LOCAL: Stade De France, Saint-Denis, França.
DATA: 12 de julho de 1998.
PÚBLICO: 80.000 pagantes
ÁRBITRO: Said Belqola (Marrocos)
BRASIL – Taffarel, Cafu, Júnior Baiano, Aldair e Roberto Carlos; Dunga, César Sampaio (Edmundo), Leonardo (Denílson) e Rivaldo; Bebeto e Ronaldo. Técnico: Zagallo.
FRANÇA – Barthez, Thuram, Leboeuf, Desailly e Lizarazu; Deschamps, Karembeau (Boghossian), Petit e Zidane; Djorkaeff (Vieira) e Guivarc’h (Dugarry). Técnico:  Aimé Jacquet

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