UMA COPA DO MUNDO DE RUGBY DIFERENTONA
Neste 2019, além da Copa do Mundo Feminina de futebol, que quebrou vários paradigmas, também houve outro campeonato mundial que foi bem diferente do que se viu até então: o de Rugby.
O rugby é um dos esportes mais populares do mundo, embora seja a preferência nacional em países meio que fora do eixo mundial de notícias, como a Nova Zelândia, Ilhas Fiji, África do Sul… Já em países que estão na mídia todo dia, como os europeus ocidentais, onde há popularidade do rúgbi, ela é dividia com o futebol. Isso faz com que o eixo vitorioso do esporte, além de restrito, não seja de locais de onde a gente fica sabendo o que acontece… As três grandes potências do esporte são Nova Zelândia, África do Sul e Austrália (nesta ordem, inclusive). Além desses, existem alguns que compõem o quadro dos times que têm alguma relevância histórica para o rúgbi: França, Irlanda e Inglaterra (esta última, apenas histórica já que este é mais um dos esportes que eles inventaram e fracassam miseravelmente dia após dia). De posse deste breve histórico, vamos à Copa do Mundo de Rugby 2019.
Uma Copa no Japão
De partida, temos que esta edição foi realizada no Japão. Sim, o extremo oriente já havia recebido mais de uma edição do torneio, mas só em seus países austrais, onde o rugby é a preferência nacional. O Japão não tem tradição alguma no esporte, até pelo biotipo da população, normalmente franzina demais para um esporte que exige muita força e opulência é um fator extremamente relevante. Mas, apesar disso, o Japão organiza mais uma edição dos Jogos Olímpicos de Verão, a Tokyo 2020 (fique ligado no blog, o ano novo promete) e além de servir como evento teste para os jogos olímpicos, os horários das partidas fatalmente ficariam bem amigáveis para neozelandeses e australianos, os maiores interessados neste tipo de evento.
Um novo cenário
Esta edição do mundial de rugby também marca a chegada de participantes com maior relevância na cúpula do esporte. A Argentina viu um crescimento vultuoso de seu rugby nos últimos anos, que a fez, inclusive, entrar na brincadeira entre as mais fortes, transformando o Trhee Nations (torneio anual entre Nova Zelândia, Austrália e África do Sul) em Nations Cup, contemplando os sul-americanos. Outra que vive franca ascendência no cenário mundial é a Irlanda, conquistando bons resultados na Europa. França também tem voltado a mostrar as armas depois de um período de entressafra. Estes três, ainda não batem de frente com as três potências africana e oceânicas, mas trouxe boas expectativas ao torneio. E claro, além desses, ainda houve o renascimento da Inglaterra, como veremos adiante.
Zebras, tumulto e muito mais
Foram quatro grupos com cinco integrantes cada. Vinte participantes na festa.
O Grupo A foi desenhado para Irlanda e Escócia passarem, enfrentando os até então quase irrelevantes Japão, Rússia e Samoa. Mas não contavam com a astúcia dos donos da casa, que não precisaram daquela ajuda como no mundial de futebol que sediaram. O Japão não apenas passou, como liderou o grupo, mostrando bastante consistência. Não foi um resultado que caiu do céu para eles.
No Grupo B, reuniram as duas principais favoritas, Nova Zelândia e África do Sul. Não apenas estranho como já eliminava qualquer esperança dos classificados do Grupo A, que os enfrentariam nas quartas de final… Coisas de organizadores de competições.
No Grupo C, assim como no A, faltou aquela grande potência embora neste não tenha havido exatamente uma zebra. Inglaterra, França e Argentina chegavam meio que em pé de igualdade e as três lideraram no grupo como havia de ser. A ordem, seria decidida no detalhe, com ingleses liderando e dominando as Malvinas enquanto argentinos ficaram em terceiro, apenas confirmados para o próximo mundial, em 2023.
Já o Grupo D contava com uma potência, a Austrália, mas teve surpresa ao ver País de Gales liderar a chave. Galeses mostraram uma melhora em tempos bem recentes, mas não havia expectativa de que essa melhora já fosse notada com tanta clareza neste mundial. Esperava-se que para o próximo, chegariam bem fortes. Já deu resultado agora, então, olho neles em 2023.
O tufão Hagibis atrapalhou um bocado a primeira fase.
As Typhoon Hagibis put emergency crews on high alert and canceled flights–Japan’s rugby team still has a match lined up for Sunday against Scotland in the Rugby World Cup, and braved rising waters to train for their game. https://t.co/428KztN9cY pic.twitter.com/6j13Nfr7xk
— ABC News (@ABC) October 12, 2019
O galope dos Springboks
Com estas zebras pipocando, tivemos um confronto na fase de quartas de final que era esperado para momentos mais agudos: Inglaterra x Austrália. Todo mundo sabia que a Inglaterra estava bem, mas era a Austrália, né… Azar! Não apenas ganhou, como meteu um chocolate nos cangurus: 40 x 16, fora o bafo. A outra zebra, o Japão, naturalmente perdeu para a África do Sul e as padarias de Tóquio avisaram que o sonho havia acabado, embora bem doce enquanto durara. Nova Zelândia, protocolarmente também passou pela Irlanda e no jogo mais equilibrado, País de Gales passou pela França, que tinha favoritismo, mas lembre-se: olho em País de Gales.
Aí veio a semifinal. País de Gales x África do Sul, teve o resultado esperado, mas galeses cobraram muito, mas muito caro a passagem dos conterrâneos de Nelson Mandela. Na outra perna, Inglaterra x Nova Zelândia. Todo mundo sabia que a Inglaterra estava bem, mas era a Nova Zelândia, né… Azar! Ganhou, e ganhou bem: 19 x 7, até com certa tranquilidade. Espantando o planeta.
A Inglaterra tinha sediado o último mundial de Rúgbi e foi eliminada na primeira fase dentro de casa. Um dos maiores vexames da história do esporte. Na edição seguinte, chegava à final depois de liderar seu grupo, despachar Austrália e Nova Zelândia com propriedade como ninguém nunca havia feito. Sempre bom lembrar que no último ciclo de mundiais dos esportes inventados na Inglaterra, ela fora eliminada na primeira fase das copas de Futebol (Brasil, 2014), Críquete (Austrália e Nova Zelândia, 2015) e Rugby (em casa, 2015). No ciclo seguinte, chegou na semifinal do futebol na Rússia (2018), foi campeã de críquete em casa (dividindo a organização com Gales, 2019) e chegara à final no Rúgbi. Baita evolução.
Na decisão do terceiro lugar, Nova Zelândia ganhou tranquilamente de Gales no Tokyo Stadium (que não fica em Tóquio). Já Yokohama, também nos arredores da capital, que recebeu a final entre Brasil x Alemanha em 2002, vivia a expectativa: nas condições normais, África do Sul seria franca favorita ao título, mas era a Inglaterra, né… A destruidora de potências tinha mais uma à sua frente, mas apesar disso, sul-africanos construíram bem sua vitória por 32 x 12, ganhando mais um mundial de Rugby, seu terceiro (todos separados por 12 anos entre si, sendo assim, nem precisa ter mundial em 2031), mas para a Inglaterra, apesar da derrota na final, o gosto que fica é de uma vitória enorme. A Inglaterra veio à baila nos esportes mais populares do mundo e que ela mesmo inventou. A Terra da Rainha está em festa.
HIGHLIGHTS – Comment l’Afrique du Sud est devenue Championne du Monde de Rugby pour la 3e fois #RWC2019
➡➡ https://t.co/Z8j4kW6kJ0 pic.twitter.com/AErBChBqLv
— Rugby World Cup (@RugbyWorldCupFR) November 2, 2019
A Copa do Mundo de Rugby é um evento recente. Teve sua primeira edição em 1987, quase seis décadas depois do primeiro mundial de futebol. Já houve edições históricas como a de 1995, marcada profundamente na história da África do Sul. Mas nunca houve uma edição do mundial tão inclusiva como a atual. Várias seleções chegaram mostrando valor e tendo resultados, o que tende a dar capilaridade a este esporte que nunca teve a inclusão como sua maior característica. Haverá outro baile em 2023, na França, as três potências austrais estarão na pista, claro, mas também teremos Inglaterra, País de Gales, França (dona da casa), Argentina… Expectativas em alta desde já.
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