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O ARGENTINA X INGLATERRA DE MARADONA

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Hora de rever o maior Argentina x Inglaterra de todos os tempos. Os detratores do nobre esporte bretão muitas vezes afirmam: “futebol é um só jogo”. Mas há certos momentos da história em que a disputa de uma partida não se resume somente ao que ocorre nas quatro linhas. Este foi um deles.

Para entendermos tudo o que envolvia esta lendária partida precisamos revisar dois fatos anteriores que ajudaram a tornar esta peleja ainda mais histórica. O primeiro ocorreu na Copa de 1966. Em um lance, que gerou a criação dos cartões amarelo e vermelho, o jogador argentino Rattín foi expulso e protagonizou duas cenas curiosas: primeiro o número 10 sentou desorientado na primeira cadeira que viu. Era uma bela peça estofada e vermelha, na verdade destinada para a Rainha, que não tinha ido ao jogo. Quando o argentino levantou e seguiu para o vestiário, torcedores ingleses lhe atiraram objetos. Ele retribuiu com gestos obscenos e depois torceu a bandeirinha inglesa do escanteio. Foi o suficiente para os tablóides locais estamparem manchetes em que chamavam os argentinos de “selvagens” e “animais”, com a recíproca de “racistas” e “ladrões” dos argentinos. Os ingleses venceram o jogo por 1 x 0 e se classificaram para as semifinais da Copa, vencidas por eles “diga-se de passagem”.

Momento em que Prefumo e Rattín discutiam com o árbitro alemão Rudolf Kreitlein.
Momento em que Perfumo e Rattín discutiam com o árbitro alemão Rudolf Kreitlein. FOTO: Fifa/Divulgação

O segundo e principal fato era mais recente: entre abril e junho de 1982 ingleses e argentinos protagonizaram uma disputa pelo arquipélago das Malvinas (ou Falkland Islands para os ingleses). Os argentinos consideravam as ilhas suas por direito, mas as mesmas estavam desde 1833 sob administração britânica. Os argentinos, que invadiram as ilhas, sofreram uma derrota vergonhosa na guerra o que deixou o orgulho nacional ferido. Era mais um motivo para que este jogo passasse para a história.

A derrota recente na Guerra das Malvinas ainda se fazia sentir entre os argentinos.
A derrota recente na Guerra das Malvinas ainda se fazia sentir entre os argentinos.
Foto: http://herdeirodeaecio.blogspot.com.

Mas vamos ao que interessa. Era 22 de junho de 1986, uma tarde ensolarada no lendário (e lotado) Estádio Azteca na Cidade do México. Argentinos e ingleses se encontravam mais uma vez em uma disputa de quartas de final de uma Copa do Mundo. O grande destaque dos hermanos era Diego Armando Maradona, que em sua segunda participação em Copas do Mundo queria colocar seu nome na história. E conseguiu.

No primeiro tempo a Argentina começou mantendo a posse de bola e dominando as ações iniciais. Maradona iniciou suas jogadas de efeito e velocidade aos nove minutos, quando passou por dois marcadores e só não passou pelo terceiro, Fenwick, porque este fez falta e foi advertido com um cartão amarelo logo de cara. Nos minutos seguintes, Beardsley teve duas chances para marcar, mas Pumpido se saiu bem em ambas. Aos poucos, o craque e capitão argentino mostrava seu talento fora de série ao construir jogadas mesmo sendo marcado sempre por dois ingleses. Em uma cobrança de falta, o camisa 10 quase abriu o placar, mas a bola passou rente a trave esquerda de Shilton.

O primeiro tempo ainda reservou um episódio curioso. Maradona chamou a atenção de todos por causa de um desentendimento com o bandeirinha em uma cobrança de escanteio, aos 34 minutos. Antes de partir para o chute, o argentino tirou a bandeirinha do buraco, mas foi obrigado a colocar o mastro no lugar e o fez. No entanto, faltava a flâmula, que continuava caída no chão. Após nova bronca, o camisa 10 pegou o pano e o colocou do jeito que deu no mastro. Resolvido o “problema”, o jogo seguiu, a tal cobrança não levou perigo aos ingleses e o primeiro tempo terminou mesmo sem gols. A história ficaria para o segundo tempo.

Maradona e a bandeirinha de escanteio. Episódio curioso do primeiro tempo de Argentina x Inglaterra.
Maradona e a bandeirinha de escanteio. Episódio curioso do primeiro tempo de Argentina x Inglaterra.
Foto: Fifa/Divulgação

Em 10 minutos do segundo tempo, Maradona colocaria seu nome na história das Copas do Mundo (e do futebol mundial) por dois lances bem distintos. Aos seis minutos, Maradona recebeu na esquerda, passou pelo primeiro, se enfiou no meio de dois e deixou na entrada da área para Valdano. O atacante tentou a devolução, mas o inglês Fenwick interceptou e chutou a bola para o alto. No entanto, a redonda foi ao encontro do goleiro Shilton, grandalhão, que viu a chegada de Maradona. Com, 1,83m, o camisa 1 nem pulou muito diante dos 1,65m de Maradona.

Mas o argentino usou de um artifício bem peculiar para empurrar a bola para dentro do gol: o punho fechado e forte que socou a bola de uma maneira única que não deixou o árbitro tunisiano Ali Bennaceur, quatro metros fora da área, perceber o truque. Maradona saiu comemorando timidamente e de olho no juiz. Ele percebeu que ninguém de seu time veio ao seu encontro e chamou os colegas: “Vamos, me abracem, ou o árbitro não vai validar o gol!”. De nada adiantou a reclamação dos ingleses. Nem os berros e pulos de Shilton. Era gol. O gol com um pouco da cabeça de Maradona e outro pouco com “La mano de Dios”, como ficou amplamente conhecido aquele tento argentino. Indo de volta para seu campo, o camisa 10 erguia com orgulho a mão fechada que havia acabado de fazer história.

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“La mano de Dios”. Todo mundo viu, menos a arbitragem do jogo. FOTO: Fifa/Divulgação

Mas o lance que tornaria Maradona imortal foi executado um pouco depois. Passava dos 9 minutos do segundo tempo. Aproveitando o nervosismo dos adversários, El Pibe ampliou o marcador. Ele recebeu ainda em seu campo e manteve a bola grudada em seu pé esquerdo. Com um giro, tirou Reid e Beardsley da jogada. O argentino arrancou em velocidade, passou por Butcher e Fenwick, driblou o goleiro Shilton e tocou para as redes antes de ser derrubado por Fenwick. Diego demorou 10,9 segundos para percorrer os sessenta metros que o separava da baliza. Foi um lance antológico, considerado por muitos o mais belo gol da história das Copas, demonstrando toda a técnica e a genialidade do capitão albiceleste.

Assistam o segundo gol de Maradona na narração do célebre locutor nacionalista Victor Hugo Morales.

Só então a Inglaterra passou a atacar com mais afinco, mas não conseguia criar chances claras para finalizar. Apenas aos 30 minutos o técnico Bobby Robson colocou o atacante John Barnes em campo. Foram os únicos 15 minutos do jamaicano naturalizado no Mundial, mas ele infernizou a defesa argentina e criou duas oportunidades de gol.

Na primeira, ele recebeu no bico da área passou por dois marcadores, foi até a linha de fundo e cruzou da esquerda, encontrando Gary Lineker livre dentro da pequena área. O centroavante só escorou para as redes, anotando seu sexto gol e se sagrando artilheiro da competição.

Nos últimos lances da partida, a mesma jogada se repetiu: Barnes vai até a linha de fundo e cruza para Lineker, mas dessa vez o camisa 10 não alcançou a bola, perdendo a última chance de empatar e forçar a prorrogação.

No último lance de perigo, Maradona faz outra jogada genial e lança Tapia, que dribla um zagueiro e chuta na trave direita do goleiro Shilton. Com o apito final do árbitro, a Argentina estava classificada. E vingada, na bola, do desastre bélico de quatro anos atrás. A seguir a capa da revista argentina El Gráfico após a histórica vitória argentina.

maradona capa do elgrafico
Maradona foi a cara de nove entre dez publicações esportivas. FOTO: Arquivo El Gráfico

Na sequência da Copa, Maradona continuou liderando sua seleção, fazendo os dois gols na vitória sobre a Bélgica (2 x 0) nas semifinais. Na decisão, ele não marcou, mas criou tudo que se passou na emocionante vitória sobre a Alemanha Ocidental por 3 a 2. Assim, a Argentina se sagrou bicampeã da Copa do Mundo.

Muitos dizem que Maradona “ganhou a Copa de 1986 sozinho”. O time argentino não era realmente muito bom, mas estava longe de ser uma baba. Mas independente disso, a atuação de Diego no Mundial o elevou a “status de deus“. Independente de seus futuros problemas pessoais como, por exemplo, o vício em drogas, Maradona é uma lenda viva do futebol e um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Para o bem e para o mal, um gênio.

Ficha Técnica

LOCAL: Estádio Azteca, Cidade do México, México.
DATA: 22 de junho de 1986
PÚBLICO: 114.580 pessoas
ÁRBITRO: Ali Bennaceur (Tunísia)
CARTÕES AMARELOS: Terry Fenwick (ING) e Sergio Batista (ARG)
ARGENTINA – Pumpido; Cuciuffo, Brown, Ruggeri e Olarticoechea; Batista, Giusti, Enrique e Burruchaga (Tapia 30 min. do 2º T); Maradona e Valdano. Técnico: Carlos Bilardo
INGLATERRA – Shilton; Stevens, Butcher, Sansom e Reid (Waddle 19 min. do 2º T); Fenwick, Steven (Barnes 29 min. do 2º T) e Hoddle; Hodge, Lineker e Beardsley . Técnico: Bobby Robson.

Quer ver se foi isto mesmo? Confira o jogo a seguir.

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