O INCRÍVEL ÉPICO DOS CUBS NO TÍTULO WORLD SERIES
Os Cubs são campeões. Depois de 108 anos! Não vamos tentar explicar o que não se explica. Vamos apenas exaltar a história e como ela foi escrita, com direito aos requintes de um roteiro de um épico hollywoodiano.
Para quem não gosta ou não acompanha o basebol, apenas por assistir o jogo 7 da World Series 2016, já se convenceria de que foi uma decisão épica. Numa partida eletrizante e pra lá emocionante, em Cleveland, o Chicago Cubs venceu o Indians por 8 a 7 na décima entrada, depois de abrir 5×1, levar o empate e decidir tudo depois de ter a partida paralizada por chuva. Mas a história completa é melhor ainda.
Os Cubs conquistaram a World Series em em 1907 e 1908 e pareciam que iriam iniciar uma hegemonia. Mal sabiam eles que, na verdade, dariam início a um seca incrível de 108 anos sem título. Isso mesmo. Mais de um século sem título! A última vez que o time de Chicago figurou na grande final de MLB foi em 1945, ano em que uma maldição pra lá de “cabreira” (perdão pelo trocadilho) se instaurou no time de Illinois.
Em 1945, um imigrante grego chamado Billy Sianis, dono da Billy Goat Tavern, foi com sua cabra de estimação para acompanhar o jogo quatro da World Series. Incomodados com o cheiro do animal, os outros torcedores expulsaram a dupla do Wrigley Field. Inconformado com aquilo, Sianis teria dito que a equipe jamais ganharia nada por conta do insulto a seu animal de estimação. E a treta foi forte.
O time só teria a chance de ganhar de novo 71 anos depois, enfrentando um time tão zicado quanto ele. O Cleveland Indians havia conquistado seu último título em 1948 e desde então cultivou um jejum que só era superado pelo próprio Cubs. Que final hein?
Bom, para pontuar bem esse marco histórico conquistado pelos Cubs, resolvemos falar com um torcedor do Cubs, o Paulo Brasil, que de Belo Horizonte viu o que várias gerações de torcedores do clube mundo a fora não tiveram a chance de ver. Ele separou os cinco pontos mais marcantes, ao seu ver, da campanha do título.
A aura de campeão
Não tem como lutar contra o destino. Eu sou torcedor de times de Chicago desde o Bulls do MJ. Eu já vi dois times muito queridos pela cidade quebrar secas históricas e acabei de ver o terceiro. O Blackhawks pra mim foi especial acompanhar a saga, porque eu lembro de ter visto notícias das estrelas do time serem draftadas e quando chegou “‘O ano”, eu vi praticamente todos os jogos, salvo um aqui e outro ali. E todos esses times campeões (Hawks – 3 vezes, White sox), tinham um FEEL diferente.
Todos tinham uma aura neles que me tranquilizavam quando o bicho pegava. Ano passado o Cubs não tinha essa aura. Quando o matchup contra o Mets foi anunciado eu já pensei: “Fo***”. Esse ano eu não fiquei na bad vibe em momento algum, mesmo respeitando e usando de muita cautela com esse time muito bem arrumado e treinado do Indians, que tem grande mérito em ter feito a melhor World Series que eu já acompanhei até hoje. Todo time campeão é uma mistura de talento, coaching e uma certa dose de sorte. O Cubs vinha demonstrando que tinha as três partes da receita desde o começo do ano.
Joe Maddon
Eu vou ser honesto, eu acompanhava o Cubs por alto. Sofrimento tem limite e eu não sou desses malucos que viu todas as derrotas daquele ano que perdemos 100 jogos. Mas em 2014 quando anunciaram a contratação do Maddon eu pensei: “agora vai”. Porque as estrelas do time já estavam a postos nas minors e precisávamos só de um técnico capaz de espremer todo talento latente no Cubs, que em 2014 muita gente já falava “se todos esses prospectos vingarem, Cubs vai ser uma máquina”. Batata.
Mas nem tudo foi positivo. Enquanto o Maddon teve um numero excedente de momentos geniais como técnico durante essa temporada, ontem (dia do jogo 7) ele tomou duas decisões absolutamente idiotas que quase causaram um infarto coletivo em Chicago e custaram a WS.
Primeiro: Tirar o Hendricks que finalmente tinha achado seu ritmo no topo do 5ª inning para forçar a entrada do Aroldis Chapman, que está obviamente machucado e já tinha nos causado dois sustos seguidos nos seus ultimos trabalhos de closer no jogo 5 e 6. Isso resultou no empate mais nervoso que eu ja vi na minha vida de fan de esportes (E eu acompanho futibola, NFL, NHL, MLB e um pouco de NBA). Não é atoa que durante a interrupção por chuva, ele foi visto em prantos no vestiário.
Segundo: Orientar o Javy Baez que havia se redimido de dois erros no começo do jogo, a tentar um bunt com dois strikes, pra tentar uma squeeze run, num momento crítico do jogo. Muitas vezes esse tipo de decisão, quando dá certo o cara ganha fama de gênio. Mas eu não vi ninguém, no twitter, facebook, os comentaristas gringos, os brasileiros entendeu porque ele correu um risco tão grande no 8º inning ganhando por 2 corridas. Era uma rebatida entre as bases que o Cubs adicionava mais 2 duas corridas e praticamente matava o jogo 1h30 antes daquele sufoco todo. Ele foi salvo pelos nervos de aço do Kris Bryant e Rizzo que conseguiram hits na hora mais crítica.
Um jogo tenso. Muuuuuuito tenso.
Esse jogo 7 quase me fez passar mal sério. Quando o Indians empatou eu senti um buraco no meu estômago, e no 9º inning, o Kipnis acertou uma Foulball que eu, e mais meio mundo viu voando pra um HR e foi de longe, A PIOR sensação esportiva que eu já tive até hoje. Pior que ver o Senna morrer, pior que ver o Brasil perder pra França em 98. Eu envelheci uns 10 anos em 3 segundos com aquela rebatida. A sensação ficou comigo por horas depois. Eu tive caimbras no braço de tão tenso que eu estava, e quando o Cubs desempatou no 10º eu estava tremendo tanto, que fiquei fraco e mal consegui dar descarga na privada de casa (HAHAHAH).
A emoção do título
Mas tudo valeu a pena. Foi o momento esportivo mais mágico que eu já vi porque também foi o mais sofrido. Os outros times que acompanho, quando ganharam, tiveram uma certa dominancia (exceto o Hawks em 2015 que tava bem parelho com o Lightning). Me emocionei quando apareceu o Theo Epstein com os olhos cheios d’água no podium recebendo o troféu, achei mágico ver o Kris Bryant sorrindo enquanto recuperava aquela bola quicando dentro do diamante, porque ele já sabia ali: “Somos campeões”.
Tantas narrativas morreram ontem, o bode, Steve Bartman, o rótulo de “os adoráveis perdedores”. Me emocionei denovo vendo um exército de velhinhos, avôs e avós se emocionando, pulando de felicidade após passar uma vida inteira e realizando um sonho provavelmente do qual eles já tinham desistido se realizar. Antes tarde do que nunca, né? Venderia minha alma pro capeta pra estar em Wrigleyville ontem.
Senti um pouco de pena das familias de grandes figuras da historia do cubs como Ernie Banks, Harry Caray e Ron Santo que dedicaram suas vidas ao Cubs e não tiveram a chance de presenciar este momento histórico.
UMA NOVA ERA DOS CUBS
Eu tou sentindo cheirinho de dinastia. Baseball ao contrário de muitos outros esportes que tem um teto salarial duro, é um esporte um pouco mais injusto nesse quesito. Seu time é mais rico? Chances são que se for bem administrado ele domina por muitos anos. (Vide Yankees – o tempo todo). O time já tem uma carga monstruosa de talento, e os bolsos fundos dos Ricketts, junto com Maddon e Epstein, com certeza ainda vai atrair estrelas que estão em busca de anéis. E o fato que não existe teto salarial na MLB, pode tornar o Cubs uma máquina de massacrar oponentes.
O time do Cubs tá pronto pra pelo menos mais duas World Series nos proximos cinco anos e se bobear mais. Tudo graças ao verdadeiro gênio por trás do time, um cara que deveria ganhar estátuas gêmeas em Boston e Chicago, Theo Epstein.
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