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A NOITE DE PÉREZ E O APOGEU DO COLO COLO DE 91

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Inspirados pela decisão da Libertadores entre Atlético Nacional e Independiente Del Valle, sem brasileiros ou argentinos, voltamos ao ano de 1991, última vez em que essa situação tinha ocorrido. Quando Colo Colo e Olímpia entraram em campo em 5 de junho, estavam escrevendo uma das maiores páginas do futebol chileno. Na verdade, antes mesmo de entrar em campo.

As imagens da TV chilena mostram o caldeirão em que se tornou o Monumental de Santiago. Antes mesmo da partida, um grande corredor foi feito na saída do vestiário e no túnel que dava acesso ao gramado, para apoiar os atletas que saiam um a um a caminho da partida. A união do país – exceto dos torcedores rivais, claro – em torno do título que era inédito para o Chile ficou evidente nos dizeres da parede do vestiário, que lembravam que o Colo Colo, era o Chile.

Escrita altamente motivacional do estádio do Colo Colo.
Escrita altamente motivacional do estádio do Colo Colo.

Quando o time cacique entrou em campo – por um túnel pra lá de estranho – a torcida começou uma festa típica de Libertadores, com muitos fogos e papel picado. A fumaça tomou conta do campo, que como já mostramos aqui, não costuma ser muito hospitaleiro.

O Olímpia não se mostrava intimidado. Era sua terceira final seguida e vinha como atual campeão da competição. E começou dominando as ações ofensivas. Logo aos 3 minutos, Jara Heyn chuta tirando do goleiro, mas a zaga isola. Os paraguaios não tinham saído do campo de ataque até que, aos 8 minutos, Espinoza arrisca de fora para defesa do goleiro Battaglia.  Depois do susto e chegaram mais mas vez com Jara Hein, que não finalizou certo.

Era um jogo muito pegado no meio de campo, mas a qualidade individual fez a diferença para o Colo Colo logo aos 12 minutos. O atacante Pérez fez uma grande jogada, tabelou com Espinoza e, cara a cara com Battaglia, bateu no canto. O Monumental explodiu.

Depois do gol sofrido, o Olímpia apertou mas a defesa colocolina se manteve firme. Não demorou muito e veio o segundo. Aos 17, depois de uma roubada de bola de Peralta – reclamada como falta pelo paraguaios -, Barticciotto cruza, o zagueiro paraguaio escorrega e a bola sobra para Pérez, que dribla o outro marcador com extrema frieza e finaliza para um golaço. Estava melhor que a encomenda. Luís Pérez era reserva e só jogou devido a suspensões e lesões na linha de ataque do seu time, em especial a do ídolo cacíque, Dabrowski. E como ele aproveitou a chance. Dois gols em menos de 20 minutos!

A grande atuação de Luís Pérez na decisão.
A grande atuação de Luís Pérez na decisão.

Era hora de manter o resultado, mas a zaga do Colo Colo exagerava, dando muitos carrinhos e jogando muito duro. O ataque por outro lado seguia mortal. Aos 23, num contra-ataque rápido a bola chega a Barticciotto, que demora a finalizar, dribla um zagueiro e dá tempo da zaga se recuperar e cortar. Dois minutos depois, no único cochilo da defesa chilena, uma bola recuada para o goleiro Morón quase é desviada pelo carrinho do atacante Torres.

Criar jogadas era quase impossível, devido a violência no meio de campo. José Roberto Wright começou a perder o controle do jogo e o atacante González, a cabeça. Depois de levar muitas entradas duras, o atacante do Olímpia deu uma cotovelada no adversário. Nem o carrinho violento que ele levou na sequência aliviou sua barra. Expulso aos 30.

O jogo descambou para várias faltas duras dos dois lados. O jogo também acabou mais cedo para o lateral “Coca” Mendoza. Depois de fazer um belo cruzamento para Barticioto, que perdeu a chance de finalizar, ele machucou o braço numa queda e saiu de campo aos 40.

Mendonza machuca o braço numa queda aos 38 e aos 40 é substituído. Duas chances encerraram o primeiro tempo. Aos 41, a bola sobrou para Margas de frente para o gol, mas faltou capacidade para finalizar. Aos 43, Monzón deu uma bicicleta defendida por Morón – quase um trocadilho.

O que mais impressionou no primeiro tempo foi as falhas de marcação paraguaias. Todos os contra-ataques chilenos pegavam a defesa do Olímpia no mano a mano. Algo improvável nos dias de hoje. Para o segundo tempo o Colo Colo claramente queria cozinhar o jogo e catimbar tudo o que pudesse. Teve até jogador saltitando na frende do adversário que ia bater lateral.

Antes que as bolas sumissem – brincadeira! – Jara Heyn mandou uma paulada na trave, mostrando que o Olímpia estava vivo. O lance melhorou a partida. Dos 14 aos 20 minutos começou uma frenética troca de ataques. Primeiro, Vilches escapou pela direita fez um cruzamento rebatido pela zaga que sobrou para ele mesmo mandar a bomba para fora. No lance seguinte Torres perdeu a chance de diminuir para o Olímpia quando saiu livre na área e foi abafado pelo goleiro colocolino. Aos 18 e 19 o Colo Colo perde duas chances. Primeiro quando Pérez isola um rebote da zaga dentro da área e depois quando Battaglia busca na gaveta um chute preciso de Herrera – que entrara no lugar de Mendoza. Para fechar o tiroteio, aos 20, Pérez e Espinoza tem chances dentro da área mas chutam sobre a zaga.

Os seis minutos frenéticos apenas mostraram algo raro em finais de Libertadores: zagas completamente expostas. Parecia que defender era mera formalidade, ao contrário das jogadas ríspidas do fim do primeiro tempo.

Depois das chances perdidas no começo do segundo tempo, o desespero bateu nos paraguaios e o Colo Colo passou a flertar com o terceiro gol. Aos 28, num contra ataque, Pérez recebeu cruzamento e foi interceptado pela zaga na cara do gol, com o arqueiro batido. Na cobrança de escanteio o Battaglia deu rebote mas o juiz marcou falta, mesmo com a bola dentro do gol.

O bom arqueiro guarani sofreu ainda mais. Aos 35 precisou fazer uma defesa em dois tempos no chute de Pizarro que quase virou um frango. Um minuto depois ele espalmou um chute perigoso e dois minutos mais tarde, quando estava adiantado, quase tomou um gol de longe de Espinoza. O caldo já tinha entornado.

Para fechar a conta, aos 40 minutos, Pizarro lançou Barticciotto, que recebe livre e cruzou para Herrera, que mais livre ainda empurrou para a rede. Uma síntese do que foi grande parte do segundo tempo: ataques no mano a mano com defesas totalmente desguarnecidas.

O Colo Colo estava empolgado com a eminente conquista e ainda perdeu mais gols. Aos 42, Pérez entortou a defesa e rolou para Vilches isolar e, aos 43, Pizarro – monstruoso no meio de campo – deixou Barticciotto livre para tentar da intermediária. O desolado goleiro do Olímpia viu a bola morrer nas redes, mas pelo lado de fora, como um prêmio de consolação bastante doloroso.

Invasão de estádio e festa sem precedentes do Colo Colo. FOTO: Elmol.com
Invasão de estádio e festa sem precedentes do Colo Colo. FOTO: Elmol.com

O fim da partida foi de festa. Um festejo nunca antes visto no futebol chileno e talvez superado apenas pela festa do título da Copa América, em casa, pela sua seleção. Um dos mais festejados era Mirko Jozić, o técnico croata – na época iuguslavo – que se tornou o primeiro europeu a conquistar a Libertadores.

Para saber mais sobre esse time histórico do Colo Colo, sugerimos o podcast do “Meu Time de Botão“, programa da rádio Central 3, que destrincha esse período vitorioso do time cacique, de 89 a 92.

Ficha Técnica

LOCAL: Estádio Monumental David Arellano, em Santiago, Chile.
DATA: 5 de junho de 1991.
PÚBLICO: 66.517 pagantes
ÁRBITRO: José Roberto Wright (Brasil)
CARTÕES VERMELHOS: González (Olímpia).
COLO COLO – Morón, Garrido, Miguel Ramírez, Margas e Mendoza (Herrera); Vilches, Espinoza, Pizarro e Peralta; Barticciotto e Pérez. Técnico: Mirko Jozić.
OLÍMPIA – Battaglia, Ramírez, Fernández, Castro e Suárez; Balbuena (Cubilla), Guasch, Jara (Guirland) e Monzón; Torres e González. Técnico: Luis Cubilla.

Para quem quiser rever a partida -com direito a vinhetas de comercial da TV chilena com jeitão de spot de rádio – pode conferir aqui 🙂

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