A LIBERTADORES DA EMOÇÃO X A LIBERTADORES DA BAGUNÇA
E entra ano, sai ano, nos deparamos com o mesmo dilema na maior competição sul-americana: para ser tão raça e emoção, ela precisa ser desorganizada? Particularmente acho que não. Há quem defenda que o charme dessa competição está na balburdia de sua organização, mas francamente acho isso um papo furado. Para explicar meu raciocínio, vamos analisar a fase de oitavas de final.
De cara uma coisa que não me faz sentido (se alguém souber o motivo pode se manifestar): por que o confronto entre Sucre e Tigres terminou uma semana antes dos demais? Gente, isso não vai mudar o rumo da competição, mas para o calendário, que coisa bizarra é selecionar um jogo para acabar antes da semana decisiva da fase. Isso é desprestigiar os times.
Por outro lado, duas grandes festas mostraram o que queremos ver da Libertadores. As torcidas de Racing e Santa Fé lotaram seus estádios e comemoraram as classificações contra Montevideo Wanderes e Estudiantes com enorme entusiasmo. Aquela cara de estádio sul-americano, porém sem aquele papo vencer com hostilidade.
Por falar em ser hostil, os jogadores do Corinthians perderam a cabeça e acabaram encerrando de forma feia a competição. Não pela eliminação para o Guarani-PAR, que apesar de ser uma zebraça, foi extremamente justa. Sim pelas expulsões no jogo de Itaquera, com agressões típicas de um clima de descontrole emocional. Mas isso fica apenas como nota negativa, pois uma zebra é, sem dúvida, parte boa de uma competição deste porte.
Por falar em zebra, o Emelec pode ser colocado nesse patamar. Os elétrico não eram favoritos contra o Nacional de Medelín, ainda mais por decidir fora de casa. Isso não foi nada para o time equatoriano que despachou os colombianos e vão às quarta de final.
Dois jogos em especial primaram pela emoção nessa fase: os duelos brasileiros. Galo e Inter fizeram dois jogos sensacionais, tanto no 1×1 do Horto, quanto no 3×1 que classificou os colorados no Beira-Rio. Sem confusões e com um futebol de ótimo nível, os times provaram que teriam condições de ganhar a competição, mas só o Inter manteve o sonho vivo. A raça do Galo para empatar o jogo no apagar das luzes no Independência e os dois golaços colorados no jogo de volta, são cartões de visita que a Libertadores deve valorizar. Isso sem falar na festa da torcida colorada com as luzes apagadas depois do jogo.
O que dizer então da emocionante disputa de pênaltis que classificou o Cruzeiro contra o São Paulo. A formula perfeita: rivalidade + duelo pessoal entre jogadores + fato histórico + disputa de vaga. Recorde de público da temporada brasileira no Morumbi e o adeus de Rogério Ceni da competição com a qual mais se identificou. A aposentadoria veio pelas mãos de sua maior vítima, Fábio, que qualificou a contestável equipe da raposa a lutar pelo tri. Um duelo que ficará para a história.
Era isso também que se esperava para Boca e River. Porém o superclássico argentino descambou para o lado podre da “tradição” da Libertadores. Depois de um jogo truncado – por vezes violento – no Monumental, o gol de pênalti no fim acabou sendo decisivo para o River Plate, que mal sabia o que o esperava na mítica La Bombonera. Spray de pimenta, objetos atirados no campo, jogo paralisado, confusão, má atuação da polícia e falta de segurança. O jogo não acabou em campo e foi terminar na mesa da Conmebol, que eliminou o Boca Júniors em virtude dos acontecimentos em seu estádio. Entretanto, a punição exemplar de exclusão por cinco anos da Libertadores nem foi cogitada e a suspensão da interdição do estádio já foi até revogada. Tem muito jogo de bastidores ainda por rolar, mas uma coisa é certa: foi tomada uma decisão que garantia o fim desta edição da competição e não o fim do problema.
Esse foi só mais uma confusão das inúmeras na história da competição. E cabe-se dizer que em nenhum momento na história as soluções apresentadas pela Conmebol foram as ideais. Aliás, já dizem que o Boca só não levou um gancho de mais temporadas porque seria economicamente desinteressante para a competição, que já ficou muito tempo sem o gigante. Tem coisa que precisa mudar mesmo.
O que esperamos das quartas-de-final é que elas se destaquem mais pela emoção e pelos bons jogos do que pela catimba e confusão. Afinal, se estamos a anos luz da Champions League em organização e, por que não, em qualidade técnica, vamos fazer a festa que só os sul-americamos sabem fazer. Mas sem dar mal exemplo.
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