COPA DO MUNDO DE RÚGBI – INGLATERRA 2015
A cada 4 anos, o mundo do Rúgbi pára para coroar o seu campeão mundial, com a realização da sua Copa do Mundo. Embora bem mais recente que a Copa do Mundo de Futebol, mais comum para nosso cotidiano aqui no Brasil, no ano seguinte ao do evento maior da FIFA, os principais selecionados nacionais de rúgbi se reúnem em uma determinada região do planeta para celebrar a grande festa dos brucutus.
Você, leitor atento que é, deve ter reparado e estranhado quando disse que as seleções de Rúgbi se reúnem “em uma determinada região do planeta”, e não em um país, como nos é mais comum. Isso é por que, embora apenas a primeira edição do torneio, realizada em 1987, teve sua sede oficialmente dividida entre dois países, naquela ocasião Nova Zelândia e Austrália, a maioria dos certames tiveram jogos em vários países diferentes na mesma edição. Inclusive com duas edições com jogos ocorridos em cinco países europeus, cada uma. Um fato raro nos mundiais de outros esportes. A edição deste ano tem sede oficial na Inglaterra, mas ocorrerão jogos em Cardiff, capital do País de Gales. Gales já foi sede oficial do torneio uma vez, mas todas as Copas com sede na Europa, tiveram jogos nesta cidade, inclusive uma quarta de final na edição realizada oficialmente na França, envolvendo a… França. Meio estranho, mas dá para levar.
As sedes do torneio também são locais que estamos bem acostumados a ver: Manchester, no estádio do City; Brighton, entre as sedes é a cidade com menos relações com o Rúgbi e terá jogos realizados no estádio do clube de futebol local; Milton Keynes, cidade recente e moderna, próxima a Londres, que não tem grande relevância no mundo do esporte; Birmingham, no estádio do tradicional Aston Villa; Leeds, no estádio do Leeds United; Newcastle, no estádio do time famoso da cidade; Leicester, tradicionalíssima no esporte inglês, inclusive com o clube de rúgbi gigante local, os Tigers; Exeter, cidade não tão famosa, mas é a capital da região onde surgiram os primeiros jogos com bolas, que dariam origem ao Rúgbi e ao futebol, além de ter sido o local do primeiro jogo da Nova Zelândia em terra inglesa, quando ganharam o notório apelido All Blacks; Gloucester, capital da região onde o Rúgbi é mais popular, rivalizando de igual para igual com o futebol; Cardiff, a intrusa no ninho, com jogos realizados no estádio de futebol local, casa do Cardiff City e da seleção galesa; e por último, Londres, com três estádios: o olímpico, inaugurado em 2012, Wembley, lendária casa do futebol inglês e o Twickenham, lendária casa do rúgbi inglês, onde ocorrerão abertura e final. Este, inclusive, segundo estádio a receber duas finais de Copa do Mundo de Rúgbi, junto com o Eden Park, da Nova Zelândia.
Mais que uma Copa do Mundo, uma modificação no panorama do rúgbi mundial.
A Copa do Mundo de Rúgbi é a competição mais abrangente sob o ponto de vista geográfico desse esporte, mas não é a mais importante sob pontos de vista do resultado e da tradição. Este posto é ocupado em igualdade de condições pelo “Six Nations” e até a última edição da Copa, o “Three Nations”. O primeiro é a “panelinha” das principais potências europeias do Rúgbi: Inglaterra, Escócia, Gales, Irlanda, França e Itália. Já o “Three Nations” era composto pelas três principais potências do esporte fora do velho continente, no caso a Nova Zelândia, a Austrália e a África do Sul, e esses três se tornaram as maiores forças mundiais do Rúgbi.
Ocorre que nos últimos anos, o Rúgbi da nossa vizinha Argentina tem conhecido grande crescimento de popularidade interna, resultados esportivos e representatividade mundial. Com tanta moral, depois da última edição da Copa do Mundo, realizada em 2011 (integralmente) na Nova Zelândia, a Argentina entrou para a “panela” do “Three Nations”, que passou a ser chamado de “Rugby Championship”, e como enfrenta anualmente as três maiores forças do Rúgbi mundial, natural a melhora ainda mais pronunciada de Los Pumas, como é conhecida a seleção argentina. Por isso, pela primeira vez, além dos nove tradicionais componentes do Six e do antigo Three Nations, agora a Argentina também inicia a competição como postulante ao título mundial. A campanha até aqui não decepciona: perdeu na estreia para a Nova Zelândia (absolutamente normal perder por 26×16 para favorita ao título), mas depois ganhou da Geórgia (incríveis 54×09, sim!) e ganhou de Tonga (45×16) no último domingo. Encaminhou a classificação e levou Diego Armando Maradona à loucura nas arquibancadas do estádio de Leicester. O Rúgbi mundial tem uma nova protagonista.
A Inglaterra, inventora do esporte, componente do “Six Nations” e anfitriã, era uma das grandes postulantes ao título antes da bola oval voar. Mas como em outras modalidades esportivas, ingleses decepcionaram demais e pela primeira vez na história da Copa do Mundo, a seleção anfitriã se viu eliminada na primeira fase da competição. Resultado pífio que demonstra uma nova ordem mundial neste esporte, afinal, o mínimo que se espera de uma seleção com tantas credenciais, num grupo com cinco times e dois classificados, é que ela não chore a eliminação junto com 80mil compatriotas seu lendário estádio. Seria como se algum dia a seleção anfitriã da Copa do Mundo de Futebol tomasse de 7… Não, péra…
Mas o resultado mais impressionante desta edição da Copa do Mundo de Rúgbi não estaria na inclusão de uma nova potência, nem na eliminação precoce da anfitriã. Depois da lendária campanha da África do Sul na edição de 1995, disputada (integralmente) na própria África do Sul, quando o negro Nelson Mandela, recém liberto e eleito presidente da nação recém unificada após o fim do absurdo Apartheid, entregou a taça de campeão mundial para seu caucasiano capitão François Pienaar (história retratada no filme “Invictus”), a Copa do Mundo deixou de ser uma mera competição esportiva e se tornou um verdadeiro símbolo nacional para os sul-africanos. E eis que na estreia dos Springboks, quem saiu vitorioso foi o Japão, que não tem um pingo de tradição no Rúgbi. Foi a maior derrota da história da poderosa África do Sul, e o resultado mais relevante do recente Rúgbi japonês. A história do esporte aconteceu em Brighton. Naturalmente, a África do Sul já se recuperou, lidera seu grupo e evidentemente se classificará, mas este resultado será difícil de ser superado por qualquer outra zebra que venha por aí.
O Rúgbi conheceu algum crescimento em popularidade em terras brasileiras, inclusive com o apoio de uma marca de material esportivo importante, afinal, quem se lembra do fato de “o Brasil nunca ter Perdido para Inglaterra e Irlanda em sul-americanos”, ou do “notável crescimento do aproveitamento dos “Samba Boys” nos campeonatos continentais enquanto a Argentina estava estagnada”, na primeira colocação, mas estagnada… Mesmo que o Rúgbi seja um esporte absolutamente estranho para você, saiba que ele estreará como esporte olímpico no Rio de Janeiro, ano que vem. Portanto, você ainda vai ouvir falar muito deste esporte por aí. Se já quiser se familiarizar com o esporte, a Copa do Mundo é o momento ideal. Tem jogo quase todo dia, e via de regra, são bons jogos para acompanhar. Procure os horários e assista aos jogos, acompanhe as atualizações do Start Sports e aproveite a grandeza desse esporte que pode ser truculento, mas tem muito mais a ensinar do que trombar nos outros e pular na grama como se fosse uma piscina com atarracado à uma bola oval.
Aproveita, cara! É Copa do Mundo do mesmo jeito que aquela do ano passado!
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